segunda-feira, 16 de maio de 2011

Glória Perez revela segredos em ‘Cenas de um Autor’


Magérrima e bem-humorada, Glória Perez foi sabatinada segunda-feira no Solar de Botafogo dentro do projeto ‘Cenas de um Autor’, do Instituto Montenegro e Raman. Antes de subir ao palco para ser entrevistada pelo ator Thiago Mendonça e responder às perguntas da plateia, a autora recebeu a coluna no camarim. “Eu fiz minha parte como escritora e cidadã. Pena que em ‘América’ não foi ao ar, mas fico feliz que tenha acontecido agora porque já era hora”, diz, referindo-se ao primeiro beijo gay em uma novela, que será finalmente exibido em ‘Amor e Revolução’, trama escrita por Tiago Santiago no SBT, hoje. “Não fiquei com inveja. Pelo menos o primeiro gravado foi o meu”, brincou.

De férias até julho, Glória deu pistas sobre um dos temas que pretende abordar em sua próxima história. “Pretendo falar sobre o judaísmo, mas ainda tenho minhas dúvidas”, adianta. Sobre seu método, ela fez uma revelação inusitada. “Escrevo sempre em pé, olhando o mar. Se escrevo sentada, vou ficando torta e acabo tendo dores de coluna. Em pé, não sinto dor”.

Perguntada sobre o que gosta de ver na TV em seu tempo livre, a resposta estava na ponta da língua. “Não assisto a novelas quando estou de férias, porque se não fico curiosa para saber o que vai acontecer no dia seguinte e aí deixo de sair e ver meus amigos. Além disso, teria que ser internada por querer fugir do mundo real o tempo inteiro”, diverte-se. A plateia, formada por estudantes de teatro e atrizes como Teresa Seiblitz, Françoise Forton e Priscila Camargo, foi às gargalhadas. Ao final, Glória foi ovacionada e saiu com a bolsa — uma linda Vuitton — repleta de currículos e DVDs de jovens que sonham com uma chance na televisão.

MERCHANDISING SOCIAL. “Eu introduzi a consciência social nas novelas, talvez essa seja a minha maior contribuição. Isso começou em ‘Partido Alto’, que escrevi com o Aguinaldo Silva, em 1984. Tinha uma personagem, a Dona Sulamita, que morava no bairro do Encantado. Aí, fiz um contato com a associação de moradores do bairro, para saber como era morar lá. Descobri uma dificuldade absurda de deslocamento, naquela época não havia linha de ônibus direto para a região. Abordei isso na novela e Encantado ganhou uma linha de ônibus. Tomei gostinho e não parei mais”.

PIONEIRA. “Sou internauta de carteirinha. Tenho Twitter, Facebook, blog e até hoje uso o Orkut. É só lembrar que, em 1995, ‘Explode Coração’ foi a primeira novela a falar de Internet. A cena do cigano encontrando sua amada é um Skype jurássico. Na abertura também havia elementos que remetiam a uma espécie de touch screen da era das cavernas”.

MÉTODO. “Mantenho uma média de 18 a 24 capítulos de frente e só crio sozinha. Acho incríveis meus colegas que têm seis, sete assistentes. Eu não conseguiria dividir minha fantasia. Escrevo entre seis e sete horas por dia, o que dá uma média de 32 cenas e seis capítulos por semana. Claro que tem dia que não quero escrever, que nada acontece e que a página fica em branco. Mas é só lembrar que, se não escrever 32 cenas num dia, no seguinte serão 64. Daí a inspiração chega rapidinho”.

HERANÇA. “Meu neto, Henrique, garante que quer seguir meu caminho e ser escritor. Ele tem apenas 8 anos, mas adora escrever histórias. Um dia, ele me veio com um texto em alemão, acredita? Tinha umas cento e poucas palavras e, como eu não entendo nada de alemão, ele leu pra mim. Comigo foi mais ou menos assim: na idade dele, eu adorava ouvir conversas dos adultos. A primeira história que escrevi foi mais ou menos nessa idade. Foi uma poesia contando como eu nasci. Minha mãe guardou esse texto um tempão. Era péssimo, mas foi engraçado”.

PRECONCEITO. “Os críticos de TV têm medo de assumir que gostam de TV e os atores também. É como se só fizessem televisão porque têm que sobreviver. Parece que eles só se realizam com o cinema e o teatro, considerados artes mais nobres. Isso tem que acabar. A TV é o que há de mais poderoso em termos da memória de um país. As novelas nos ajudam a contar nossa história e preservam nossa memória”.

SAUDADE. “As personagens que crio devem estar vivendo em algum planeta. Às vezes, penso em escrever um último capítulo pra saber se, por exemplo, a Jade foi feliz com o Lucas. Quando a novela acaba, dá um vazio enorme. É como se fosse um Titanic, onde morrem todos os seus conhecidos”.

Fonte: Jornal O Dia

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