Euclydes Marinho começou a vida profissional
como fotógrafo. Antes de atuar na tevê como autor, estudou desenho industrial,
trabalhou como fotógrafo e agricultor e chegou a se tornar sócio de um
restaurante. O cinema sempre foi a sua paixão, mas alguns obstáculos o
afastaram da telona. A oportunidade para escrever para a televisão nasceu a
partir de uma parceira com Daniel Filho, no seriado 'Ciranda Cirandinha', em
1978. Euclydes fez parte da equipe de autores da história, exibida em seis
episódios sob a supervisão da censura. O autor começou com o pé direito, pois o
seriado foi premiado pela Associação Paulista de Críticos como o melhor
programa de tevê daquele ano e, posteriormente, recebeu o prêmio Estácio de Sá,
oferecido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Depois disso, escreveu outros seriados como
'Malu Mulher', os especiais 'Mulher 80', 'Um Facho de Luz' e a 'Gata Roqueira'.
Em 1981, foi colaborador de Gilberto
Braga na novela 'Brilhante' e, no ano seguinte, estreou como autor
principal. O seu ponto de partida foi a minissérie 'Quem Ama não Mata'. Além de
minisséries, seriados, especiais, minissérie e novelas, Euclydes também
escreveu roteiros de longa-metragem - e atuou como diretor em um deles, o
'Mulheres Sexo Verdades Mentiras'. 'Armação Ilimitada', 'Desejos de Mulher',
'Confissões de Adolescente', 'Andando nas Nuvens', 'Capitu', 'Mico Preto' e a
'A Vida como Ela é...' são algumas obras que assinou, colaborou ou adaptou ao
longo de sua carreira.
Você é
um autor que já criou obras que, embora se encaixassem em diferentes formatos,
tinham como traços marcantes as nuances do relacionamento humano. Por que,
então, se debruçar sobre uma minissérie que, mesmo sem deixar de lado os dramas
e conflitos dos personagens, tem na política o pano de fundo para o desenrolar
da história?
O que me levou a escrever esta minissérie,
anos atrás, foi um incômodo com a situação do país. Mas retratar o lado humano
é o que eu mais sei fazer, ao contrário da política, que não é a minha área. Eu
queria fazer uma história adulta, sem maniqueísmo. O protagonista, Paulo
Ventura, não é certinho o tempo todo. O Paulo magoa a Antonia, uma mulher que é
maravilhosa! Mas, ao mesmo tempo, é boa gente. Fazia tempo que eu não realizava
um trabalho que me estimulasse tanto.
A
parceria afinada entre um autor e seus colaboradores é um importante passo para
que o resultado final do texto seja bem-sucedido. Você reuniu um time diferenciado,
com profissionais que têm ligações com a ficção, mas que também passeiam por
outras áreas no que se refere à criação ou à produção de conteúdo. Na prática,
como a minissérie foi concebida?
Eu sempre soube, desde o começo do trabalho,
que precisaria de alguém que entendesse de política. Em um primeiro momento,
tinha pensando em uma consultoria, mas não sabia quem buscar. Recebi então a
indicação de Guilherme Fiuza, que foi um grande acerto. Ele tem uma grande
experiência política, é jornalista e tem um pé na ficção. Eu já tinha lido duas
obras dele e li o restante depois. Pensei, então: "Esse cara escreve
cena!". O Nelson Motta é meu "brother", um antigo parceiro.
Fizermos o 'Armação Ilimitada' juntos. Para a minissérie, eu queria o humor
dele.
A Denise Bandeira é uma parceira mais antiga
ainda. Foi minha colaboradora há 30 anos. Ela é uma socióloga muitíssimo
crítica, informada e politizada. Eu estou muito bem cercado. A melhor coisa que
eu fiz foi montar esta equipe. A minissérie é fruto desta parceria. Nós
conversamos muito. A oito mãos, passamos um pente fino em praticamente palavra
por palavra. É um trabalho em parceria. Esta minissérie, do jeito que está, não
existiria sem que nós quatro estivéssemos juntos.
A
figura do diretor é fundamental para dar forma à criação de um autor que
escreve para a televisão. A relação desses dois profissionais só se desenvolve
a partir de premissas como confiança, admiração e capacidade de entendimento.
Sabe-se que a escolha de Ricardo Waddington foi sua. O que o levou a esta
decisão?
Eu nunca tinha feito nada com o Ricardo
Waddington, mas já entreguei o projeto pensando nele. Quase trabalhamos juntos
há uns dez ou 15 anos, mas não aconteceu. Depois disso, nunca mais tivemos uma
nova oportunidade. Desta vez eu batalhei por ele. Eu venho acompanhando o
Ricardo e tenho amigos que são parceiros dele, por isso sei que ele é o diretor
que eu precisava para este trabalho. O Ricardo luta pela qualidade, tem muito
cuidado artístico, e isso é incrível. Além de ser um grande parceiro. Ele tem a
mentalidade que um diretor tem que ter, que cuida de tudo. Tem noção de música,
elenco, texto... e tem uma visão macro do que está sendo feito. Nos próximos
projetos, quero repetir a parceria.
Embora
o país retratado seja um "Brasil paralelo, fictício", de onde vieram
as histórias que ajudam a contar a trajetória de Paulo Ventura? Podemos afirmar
que a minissérie tem um quê de otimismo?
É tudo ficção mesmo. Eu queria, realmente,
fazer um personagem de ficção. Não tem nada a ver com ninguém que já tenha
passado pela política ou que ainda esteja lá. Isso vale para todas as histórias
e os personagens. Foi assim que criamos o nosso presidente. Eu vi mais de 30
filmes americanos que retratavam personagens presidenciais. Eles fazem isso com
muita naturalidade. Sobre o otimismo, nesta minissérie, o bandido vai preso e o
malfeitor tem punição.
Você
construiu um homem que literalmente se tornou presidente da República da noite
para o dia. E ainda criou uma primeira-dama cheia de conflitos, com doçura e
firmeza, corretamente temperados em sua personalidade. Os vilões ou
antagonistas foram concebidos com ironia, audácia e uma certa liberdade para
ultrapassar limites éticos. Cada personagem ou núcleo guarda características
bem específicas. Você tem alguma predileção em relação aos personagens da minissérie?
Além do Paulo (Domingos Montagner) - o
seriado é o Paulo! - eu tenho predileção pelo Beijo (Otávio Augusto) e pela mãe
do Paulo, a Julieta (Maria do Carmo Soares). Eu tenho um xodó especial porque é
o lado da galhofa, afinal, eu não sou um cara muito sério. Eu gosto de humor e
isso eles têm. É um humor meio torto, mas está ali presente. Eu adoro a
personagem "mãe maluca". Eu sempre tenho uma mãe perturbada em meus
textos. Em 'Andando nas Nuvens', por exemplo, a Nicette Bruno era a mãe
exagerada do galã da novela, Chico (Marcos Palmeira).
Na
prática, até que ponto você se envolveu e interferiu em decisões mais voltadas
para a produção da minissérie? Por favor, fale um pouco sobre assuntos como escalação
de elenco, escolha das locações para gravações em externas e seleção da trilha
sonora, entre outros.
Eu participo muito da pós-produção e da
trilha sonora de um produto, como faço em novelas. Em 'O Brado Retumbante' não
foi diferente. Em relação ao elenco, o talento do diretor e de sua equipe faz
toda a diferença. Tomamos uma decisão importantíssima, a de usar muitos atores
não tão conhecidos para o público de tevê. Outro passo que demos foi o de optar
por um presidente mais jovem, que tivesse uns 50 anos. O Domingos Montagner me
foi apresentado pelo Ricardo. Então fui conhecer o trabalho do ator e comecei a
ouvir que ele estava "bombando", especialmente com o público
feminino. Em relação às locações, eu já tinha imaginado como seria o palácio no
Rio de Janeiro (já que o governo funciona aqui e em Brasília).
Fonte: Rede Globo
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