Joãosinho morreu às 9h55m de sábado. Ele
estava internado em estado grave e respirava com ajuda de aparelhos no Hospital
UDI, em São Luís, no Maranhão. O hospital informou que as causas da morte foram
choque séptico secundário, pneumonia e infecção urinária.
Logo após a morte do carnavalesco, amigos e
admiradores lamentaram a perda. O governador do Rio, Sérgio Cabral, que já
havia decretado neste sábado luto oficial de três dias pelo falecimento do ator
e diretor Sérgio Britto, decretou mais três dias de luto oficial no estado pela
morte de Joãosinho Trinta.
Vida e
obra de um gênio da avenida
Quando desembarcou sozinho no cais do porto
do Rio de Janeiro em 1951, o maranhense João Clemente Jorge Trinta nem
imaginava que mudaria definitivamente a cara do carnaval carioca e se tornaria
o mais festejado e criativo carnavalesco de escolas de samba. Então com 17
anos, queria ser bailarino clássico.
Nascido em 23 de novembro de 1933, em São
Luís, filho de operários, ele chegou a passar fome até conseguir ingressar no
corpo de baile do Teatro Municipal. Como tinha interesse por quase tudo na
montagem de um espetáculo, acumulou funções de bailarino, figurinista e
cenógrafo.
A entrada para o samba foi em 1963, quando
Joãosinho abandonou as sapatilhas, levado para o Salgueiro pelo carnavalesco
Arlindo Rodrigues. Foi aí que começou sua paixão pelo carnaval. Dez anos
depois, quando seu padrinho deixou a escola, ele assumiu a função de
carnavalesco. Em 1974, ganhava seu primeiro título, com o enredo "O rei da
França na Ilha da Assombração". No ano seguinte, tornou-se bicampeão com
"As minas do rei Salomão".
Mas foi na Beija-Flor, a partir de 1976, que
Joãosinho Trinta consagrou-se como mago dos desfiles, revolucionando o carnaval
com carros alegóricos imensos e fantasias luxuosas. Foram três títulos seguidos
- "Sonhar com rei dá leão" (76), "Vovó e o rei da Saturnália na
corte egipciana" (77) e "A criação do mundo na tradição nagô"
(78).
Na azul-e-branco de Nilópolis, ganhou ainda
os carnavais de 80, com o enredo "O sol da meia-noite - uma viagem ao país
das maravilhas", empatado com Imperatriz e Portela, e de 83, com "A
grande constelação de estrelas negras".
Conhecido por pregar o luxo nas escolas, ele
assombrou o Sambódromo com o desfile dos mendigos e do lixo. "Ratos e
Urubus", em 1989, é considerado por especialistas um dos maiores desfiles
de todos os tempos, talvez o mais revolucionário. Joãosinho protagonizou uma
briga com a Igreja Católica ao levar para a Sapucaí o carro alegórico que
trazia um Cristo mendigo e teve que ser coberto com plástico preto. Mas em
protesto pela censura, ele colocou uma faixa com os dizeres: "Mesmo
proibido, olhai por nós!". Depois de ter cunhado a máxima "Quem gosta
de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo", o carnavalesco foi
ovacionado por ter feito um desfile que expunha a pobreza e o lixo. Por ironia,
Joãosinho e a Beija-Flor perderam o carnaval para a certinha Imperatriz, que
cantou os cem anos da República. A despeito do lindo samba, pouca coisa restou
do desfile da escola de Ramos. Quanto ao de Joãosinho, ainda será lembrado por
muitos e muitos anos.
Em 92, seu último ano na azul-e-branco, o
carnavalesco foi afastado da direção do projeto que ajudou a criar, o "
Flor do Amanhã", que apoiava menores de rua. Foi acusado de corrupção de
menores e responsabilizado por abrigar homossexuais e crianças em condições
precárias no galpão da entidade. No ano seguinte, magoado, ele afastou-se da
folia e viajou para Portugal, onde passou a comandar bailes na casa de
espetáculos Cassino de Estoril.
O retorno ao carnaval foi na Viradouro em 94.
Mas o primeiro título na escola de Niterói só veio em 97, com o enredo
"Trevas! Luz!A explosão do universo!". Foi a volta por cima do
carnavalesco. Um ano antes, ele sofrera um AVC que deixou o braço direito
paralisado e dificuldades na fala. Segundo o próprio Joãosinho, a doença mudou
seu comportamento e sua visão de mundo. Se antes centralizava o trabalho,
passou a distribuir tarefas.
Foi Joãosinho também que pôs um homem voando
com um minifoguete na Sapucaí em 2001, quando estava na Grande Rio. Os críticos
disseram que aquilo nada tinha a ver com samba. Mas Joãosinho era assim mesmo.
Irrequieto, inovador, polêmico.
No carnaval de 2004, uma nova polêmica. O
enredo "Vamos vestir a camisinha, meu amor...", que contava a
história dos preservativos, gerou protestos da Igreja Católica. Três carros com
esculturas de bonecos fazendo sexo foram encobertos por recomendação do
Ministério Público estadual, que considerou as alegorias ofensivas. A escola
ficou apenas em 10º lugar e Joãosinho foi demitido dias depois.
Destaques
no alto de carros alegóricos
Que alguns críticos gostem ou não, mas
Joãosinho deu o visual que hoje predomina no desfile das escolas de samba.
Antes de Joãosinho, os destaques desfilavam no chão, juntamente com os outros
foliões e a diferença ficava apenas por conta da roupa, mais luxuosa que as
outras. Joãosinho pôs os destaques em cima dos carros alegóricos e aumentou a
altura dos carros. O desfile ficou verticalizado. Ele começou a fazer isso no
Salgueiro, mas foi na Beija-Flor que o estilo se consagrou.
Embora tenha sido copiada por todas as
escolas, sem exceção, a nova estética foi criticada pelas chamadas escolas de
raízes. Num samba antológico, o Império Serrano alfinetou em "Bumbum
paticumbum prugurundum": Superescolas de samba SA/super
alegorias/escondendo gente bamba/que covardia (a crítica tinha endereço certo:
a escola de Nilópolis que virou bicho-papão do carnaval).
O luxo de suas fantasias e alegorias não
fazia parte do dia a dia de João. Era apenas uma fantasia do menino que deixou
o Maranhão para tentar a sorte no Sul Maravilha. Como dizia o refrão do samba
de Ratos e Urubus: "Sou na vida um mendigo, na folia eu sou rei".
Fonte: Yahoo
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