segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“Amor e Revolução” pecou pela falta de sutileza




A novela de Tiago Santiago, apresentada pelo SBT, terminou nesta sexta-feira (13/01/2012) com audiência muito abaixo da esperada pela emissora. E menos ainda repercussão, da esperada pelo seu autor. O público de novelas do SBT está acostumado ao estilo melodramático das tramas importadas que a emissora apresenta ou adapta. E Tiago Santiago é um autor inquieto. A maior prova disso é Os Mutantes, que ele levou ao ar na Record na década passada – uma novela pretensiosa, mas que chamou a atenção da mídia e teve o seu público cativo.

O vídeo de lançamento de Amor e Revolução já dava o tom da novela: muitas cenas “fortes”, com tortura e violência. Era muita revolução para pouco amor. Soou como se a emissora estivesse apostando todas as suas fichas em algo grandioso. Lógico que essas cenas eram para chamar a atenção do público para a nova atração da emissora.

Amor e Revolução foi outra obra pretensiosa de Tiago Santiago, mas desta vez não surtiu o efeito à altura de sua pretensão. O período de repressão do governo militar no Brasil é riquíssimo, cultural e socialmente falando – e sempre renderá ótimas histórias, vide a minissérie Anos Rebeldes, da Globo. Acontece que para um público que está há décadas acostumado ao melodrama fácil, uma temática mais ousada requer um cuidado especial: há de se estimular o telespectador para algo diferente no ar e conquistá-lo aos poucos.

Mas o que se viu foi uma sequência de cenas violentas, regadas a muita tortura – várias delas muito boas e bem dirigidas, diga-se de passagem. Lógico que elas faziam parte do contexto da história. Mas a abundância soou como exibicionismo. Faltou sutileza.

Amor e Revolução mostrou uma produção de primeira, com ótima fotografia, abertura, trilha sonora, cenografia, figurinos e direção de arte. Mas, de novo, pecou pela falta de sutileza. Os personagens não pareciam trajados em uma obra de época, mas fantasiados para uma festa retrô. As ótimas músicas tocavam aleatoriamente, a todo instante, aparentemente sem critério.

A direção de atores fez algumas cenas soarem como jogral de escola. Mas em compensação, alguns veteranos do elenco se mantiveram acima do texto piegas e da direção capenga – como Lúcia Veríssimo, Reynaldo Gonzaga e Cláudio Cavalcanti.

Há de se destacar os ótimos depoimentos de vítimas reais do Regime Militar, apresentados no início da novela, que encerravam cada capítulo – recurso abandonado mais tarde por falta de representantes do regime para os depoimentos.

A trama teve as cenas mais violentas abrandadas, por conta de rejeição do público. Mas não foi poupada de todos os clichês possíveis que o período retratado pudesse sugerir. Tentativas de comédia romântica foram inseridas para amenizar a história. O beijo gay entre as personagens de Luciana Vendraminni e Gisele Tigre foi um chamariz e tanto, mas não serviu para fisgar o grande público, que viu a tal cena do beijo e continuou alheio à novela.

No início, muito criticado pelo didatismo de sua trama, Tiago Santiago deu a entender que era necessário “ensinar” o público. Seu argumento pode ser bom, mas novela é novela, telecurso é outra coisa. Saber de cor o significado da sigla DOPS não influenciava em nada o entendimento da história.

Faltou sutileza inclusive no último capítulo, em que o general vilão interpretado por Reynaldo Gonzaga age como que possuído pelo demônio e atenta contra a vida de sua mulher, que se protege segurando uma bíblia e uma cruz. Para uma abordagem realista, como pede o tema da novela, esta foi uma saída um tanto quanto surreal, digna da trama dos Mutantes. Será que autor sugere que a ditadura do Regime Militar teria sido obra do demônio?

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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