Até outro dia, Gugu Liberato amargava o
terceiro lugar em audiência nas tardes de domingo na Record. O pífio desempenho
do “Programa do Gugu”, diante do tremendo investimento na atração (a começar
pelo salário do apresentador), colocou em alerta (vermelho) a direção da
emissora e foi motivo de pressão para que os produtores trabalhassem por
melhores índices.
Eis que surge Marquinhos, o anão do programa
“Balanço Geral”. Da parceria com o apresentador Geraldo Luís ao protagonismo no
quadro “Sonhar Mais Um Sonho” foi um pulo. Para o “Programa do Gugu”, um salto
significativo em audiência e a chance de respirar aliviado, após uma crise que
durava meses.
Marquinhos e a mulher Juliana tiveram suas
mazelas exibidas, ganharam um “casamento dos sonhos” e uma casa para começar
uma nova vida. Era a cereja que faltava no bolo para que começasse uma
avalanche de críticas (algumas disfarçadas – como a do “Pânico na TV”, na Band,
que na verdade quis pegar carona e se beneficiar um pouco também, pois está
precisando).
Não sou a favor do assistencialismo barato,
nem da exploração da miséria alheia por uns pontinhos a mais no Ibope, tampouco
advogado do Gugu. Mas veja como são as coisas: até outro dia o programa passava
batido. E bem ou mal fazia a mesma coisa (que Gugu, aliás, já vem fazendo desde
os tempos em que estava no SBT).
Qual a diferença agora? Muitos nem estão se
lembrando, mas foi assim também com o comediante César Macedo, o Seu Eugênio da
“Escolinha do Gugu”. O mesmo drama, o mesmo roteiro. Deixou de ser apelativo?
Tentou prender o público pela emoção da mesma forma. Vão dizer agora que
trata-se não apenas de um famoso, mas de um anão. Geraldo Luís já não estava
“explorando o anão”? Então, a audiência do “Balanço Geral” também se deve ao
Marquinhos? Não se trata de ser alto, baixo, negro, branco etc. O preconceito é
de quem?
O que ocorre, na verdade, é que dessa vez o
“Programa do Gugu” voltou a fazer frente ao “Domingão do Faustão” (Globo) por
duas semanas seguidas - as atrações vem concorrendo durante uma hora e meia
(das 18h às 19h30) -, chegando a picos de 23 pontos contra 12. Isso já foi
encarado como um suspiro para uma reedição da histórica guerra de audiência dos
domingos, deixando a imprensa em polvorosa.
Gugu estreou na Record em agosto de 2009, às
20h (horário ingrato) e passou para a faixa das 15h (que também não julgo a
mais adequada). Sempre achei que o programa deveria abrir a programação
dominical da emissora, por volta das 12h. Mas, ao que parece, ficaram com
receio, na época, de fazer frente ao “Domingo Legal” (que Gugu comandava no
SBT) e de colocar Ana Hickman (com seu finado “Tudo é Possível”) para enfrentar
Eliana – que era titular da atração e migrou para o canal de Silvio Santos.
Dança das cadeiras à parte, esses são os
chamados erros de estratégia (comuns na Record). Gugu não duelou com Celso
Portiolli (que pouco alterou o formato do “Domingo Legal” – era a chance de
vermos o embate entre o original e a cópia), mas esbarrou em Eliana, que - com
programa gravado, básico e até repetitivo – volta e meia o vinha ameaçando.
Sabemos que programa “ao vivo” tem muito mais chances de ser “quente” ao se
adequar para atrair o público diante do que a concorrência está mostrando.
A questão do “Programa do Gugu” vai muito
além do anão. O que falta ali é identidade (queiram ou não, até hoje as imagens
de Gugu e Record não se associam). Tudo é muito tecnológico e pouco espontâneo.
Até a plateia, distante e fria. Quase não vemos chamadas na programação da
emissora. Sem contar o desgaste natural de quadros como “Sonhar Mais Um Sonho”
e “De Volta Pro Meu Aconchego” (isso explicaria a busca por outros personagens,
como Marquinhos).
Pesquisas teriam apontado que o público
sentia falta de Gugu no palco. Mas será que para comandar um “Qual é a Música?”
mal requentado e batizado de “Desafio Musical”. O apresentador está apagado,
com ar desanimado, pra não dizer cansado. Não se mostra mais “no controle”, o
“dono da situação”. Embora esteja com visual repaginado (no lugar do terno,
camisa pólo) e tentando se reaproximar do público por meio de recursos modernos
como o Instagram.
E está aí um profissional que sempre admirei
e já provou que tem potencial para mais. Queridinho de Silvio Santos, Gugu
apresentou programas que marcaram uma época (e me marcaram muito): “Viva a
Noite”, “Passa ou Repassa”, “Corrida Maluca”, “TV Animal” e “Cidade Contra
Cidade”. Alguns até tentou reeditar como quadros de seu programa na Record, sem
sucesso.
Mas foi com o “Domingo Legal” que teve a
chance de se mostrar capaz de comandar uma atração ao vivo, com variedade e
dinamismo. Gugu sempre foi aquele que demonstrava ter o domínio do que ocorria
no palco, e fora dele. Atento minuto a minuto aos números do Ibope, apresentava
e “dirigia” a atração ao mesmo tempo, imprimindo uma marca.
Outro ponto que conferia agilidade era o
jornalismo (e Gugu é jornalista), com direito a equipe própria e até
helicóptero prestando serviços. Sinto falta disso na Record. O caso PCC pode
ter arranhado a credibilidade do apresentador, mas não vejo mais isso como um
bloqueio para não se esmiuçar casos de repercussão nacional em matérias ou no
palco, apostar em curiosidades, na mescla de entretenimento, informação e
serviços.
Os mesmos que dizem que Gugu precisou de um
anão para voltar a brilhar devem entender que se o “Domingão do Faustão” perdeu
para esse mesmo anão também há algo errado pelas bandas de lá. O mesmo cansaço,
o mesmo de sempre, fora os mesmos e previsíveis discursos de Fausto Silva, que
desmotivam qualquer um. E repito: independentemente de estatura, hoje
Marquinhos é novidade, amanhã não será mais. E o que fazer para enfrentar a
concorrência? Se reinventar.
Fonte: Yahoo
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