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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Entrevista com Silvio de Abreu, autor de "Passione"


“A novela das oito continua sendo o produto de maior audiência da televisão brasileira”

Sílvio de Abreu, autor de "Passione", não aparenta ter muita pressão em cima de si para conseguir mais audiência que a deixada por "Viver a Vida". Em entrevista exclusiva a Bruno Cardoso, do NaTelinha, o autor da nova novela das oito da Globo afirma desconhecer “a tão falada crise de audiência” de que todo o mundo fala no principal horário de novelas da televisão brasileira e acrescenta que aquilo que apenas pretende, com a sua nova trama, é “envolver o público, provocando as mais diversas emoções”.

Para que isso aconteça, o dramaturgo, considerado um dos maiores mestres da teledramaturgia brasileira, aposta todas as suas fichas na passione de Toto, vivido por Tony Ramos, por Clara, interpretada por Mariana Ximenes. “É uma grande passione, mas o nome deriva também do fato de ser uma paixão italiana”, acrescenta Sílvio de Abreu, que admite estar a depositar uma enorme confiança na vilã da atriz e no personagem de caráter duvidoso de Reynaldo Giannecchini. Além de ter oferecido uma personagem com um perfil totalmente distinto a Irene Ravache, o autor da nova novela das oito garante que os vilões Clara e Fred não têm nada a ver com a Laura e Marcos de "Celebridade", porque aqui eles “têm a missão de vingar os males de que sofreram”.

Revelando que mantém uma relação “cordial e de respeito” com a classe dos jornalistas, a quem atribui um papel na sociedade “extremamente importante”, Sílvio de Abreu explica que “não pretende inovar com ‘Passione’”. “Apenas procuro ser livre e nada tenho contra os clichês”, sublinha o novelista, que define a sua novela como um thriller, com uma narrativa que pode ser considerada próxima da de "A Próxima Vítima". Apesar do tom policial, o autor deixa claro que os telespectadores poderão encarar o produto como se tratasse de um melodrama, garantindo também boas risadas entre o público em geral, em especial vindas do núcleo do ‘rei do lixo’.

“Não pretendo criar polémicas com o tema da bigamia”, esclarece. Sílvio de Abreu, que confessa estar há dois anos trabalhando sobre a novela, revela ainda que mantém com Denise Saraceni, a diretora de núcleo de "Passione", uma relação de “respeito e de admiração”, que ficou ainda mais forte depois de ambos terem andado na Toscana, região italiana onde se passa parcialmente a trama, “mais de 5 mil quilómetros”. “É uma região tão linda que acredito que o público não a vai rejeitar”, reforça.

Confira:

NA - Desde "Belíssima", todas as novelas das nove da  Globo vêm atingindo índices inferiores, como se se tratasse de uma verdadeira descida, degrau a degrau. Pretende contrariar essa tendência? Como? Na sua opinião, a que se deve o atual panorama audiométrico do principal horário de novelas da teledramaturgia brasileira?
Silvio de Abreu: Não estou preocupado com isso e não sei sobre essa crise de audiência que você cita. O que sei é que o programa de maior audiência da televisão brasileira continua sendo a novela das oito. Então que crise é essa? Minha expectativa é que o público goste e se envolva com Passione e sei que cabe a mim, à Denise Saraceni e ao nosso elenco despertar esta emoção.

NA - "Passione", como você mesmo já disse, mistura o melodrama, o humor e o thriller. Como serão esses três gêneros distintos encadeados nessa sua nova trama? A que histórias de "Passione" estará associado o melodrama, o thriller e o humor?
SA: Desde o começo Passione é um thriller, mas isso só será enfatizado depois do capítulo 100. É uma história única com uma virada na maneira de se contar. Por isso que eu digo: prestem atenção na primeira parte da novela para decifrar a segunda parte. Como narrativa, Passione se aproxima um pouco de ‘A Próxima Vítima’. Pode-se assistir a novela como se fosse um melodrama, mas também pode-se assistir com um olhar mais aguçado, como se fosse um policial. Além dessas duas leituras e independente dela, mas também integrado na história, vamos ter muito humor – mais escrachado - no núcleo do Rei do Lixo. Já os personagens italianos são tragicômicos, divertidos em si. Acho que o público vai rir muito com o jeito deles. O pessoal da CEAGESP, mais precisamente Candê, também será divertido, apesar de ter um drama.

NA - A paixão de Toto por Clara é a grande "passione" que motiva o título da novela? Ou teremos as mais diferentes paixões, por amor, por dinheiro e por si mesmo, atuando em simultâneo nessa novela?
SA: Sim, o nome vem da relação de Totó com Clara, uma grande passione. Mas também vem pelo fato de ser italiana. E a novela não tem uma paixão só, tem várias paixões, como você mesmo citou. O Fred, por exemplo, tem uma paixão com a Clara, uma paixão por si mesmo e uma paixão pelo dinheiro. Gemma é apaixonada por sua família e faz tudo para mantê-la unida. Temos a paixão de Agostina por Berilo e de Mimi por Agostina. De Mauro por Diana. E de Melina por Mauro. De Saulo pelo poder. E por aí vai.

NA - A novela parte da história de Bete Gouveia que descobre que seu primeiro filho está vivo. Filhos desaparecidos em telenovelas não são um clichê ou um ponto de partida já batido em várias outras novelas? O que traz "Passione" de diferente a esse nível?
SA: Sim, alguns temas fazem parte da história do folhetim desde o século XIX e, farão para todo sempre. E temas como filhos desaparecidos também fazem parte da vida real. Mas não escrevo uma novela partindo da premissa que tenho que inovar. Sigo minha intuição. Procuro trabalhar livre, sem a pretensão de inovar ou revolucionar a linguagem dos folhetins, mas, sim, criando um bom espetáculo de entretenimento. E depois, clichês só se tornam clichês porque são muito repetidos e se são tão repetidos é porque funcionam, não tenho nada contra clichês.

NA - Como se desenrolará a trama desses dois protagonistas de "Passione"? É uma relação que vai passar por muitos altos e baixos, especialmente enfrentando as vilanias de Clara e Fred, de Gemma e, eventualmente, dos filhos da matriarca Gouveia?
SA: O que move Totó é a sua paixão desmedida, absolutamente sincera e verdadeira por Clara. E o que move Clara é uma enorme paixão por dinheiro e poder e um desprezo absoluto por Totó e pelos sentimentos dele. Esta Passione vai envolver de uma maneira ou de outra todos os outros personagens da novela.

NA - Inicialmente Aracy Balabanian estava escalada para viver Bete Gouveia e Fernanda Montenegro o papel de Gemma Mota. A que se deveu a troca de papeis de atrizes? Seria redutor colocar a Fernanda Montenegro fazendo novamente uma matriarca vilã, à semelhança de "Belíssima"?
SA: Não sei onde você pegou essas informações, mas são completamente falsas. Gemma Mattoli foi escrita especialmente para Aracy Balabanian assim como Bete Gouveia foi imaginada desde o princípio para Fernanda Montenegro. Não existe nenhuma semelhança entre Bia Falcão e Bete Gouveia, aliás, são dois personagens absolutamente opostos.

NA - Além dessa troca de personagem, você criou para Mariana Ximenes e para o Reynaldo Gianecchini papeis de vilões. É a hora de ambos darem um pulo na carreira já que sempre fizeram personagens de mocinhos? Como você descreveria os dois personagens? O público poderá estar diante de uma nova ‘Laura e michê’, de "Celebridade"?
SA: Tanto Gianecchini quanto Mariana levam a profissão muito a sério e são muito talentosos e comprometidos. Uma das coisas que gosto de fazer quando escrevo é dar aos atores um tipo de personagem que nunca fizeram. Eu gosto de surpreender. Por exemplo, Irene Ravache vai fazer nesta novela uma cafona, cômica e ela nunca fez isso na vida e não tem nada a ver com Irene Ravache. Ela é exatamente o oposto, mas ela vai se divertir muito em criar isso. Com a Mariana e o Gianecchini é a mesma coisa. Acho que dar a eles vilões com motivação, não só pela vilania em si, mas vilões que tem uma missão de vingar a maldade que sofreram, isso dá a eles uma força nova para construírem as personagens. Eu tenho a impressão de que o público vai se surpreender com os dois. Acho o trabalho que Claudia Abreu e Marcio Garcia fizeram em “Celebridade” foi incrível, Gilberto Braga é um mestre, mas Fred e Clara só têm em comum com eles a vilania. São outros personagens, outra história, outras motivações e outras nuances.

NA - Carolina Dieckmann vai viver a mocinha da história, uma das protagonistas, e será estudante de jornalismo. Porque decidiu criar um personagem com essas características? Como você encara o trabalho dos jornalistas em geral e qual o tipo de relação que você e essa classe têm?
SA: Acho que a principal característica de Diana é não ser uma mocinha tradicional. Ela é bom caráter, mas não é boba. Acho que ela vai conquistar o público porque as atitudes dela são honestas. O fato de ela ser jornalista me ajuda a criar licenças dramatúrgicas muito interessantes. Mas encaro os jornalistas com muito respeito, sei do papel social que esse profissional cumpre e de sua importância. Sempre tive uma relação cordial e de respeito com a classe. Diana ainda estuda jornalismo, faz pós-graduação e lamenta o fato de não ser mais necessário um diploma para exercer a profissão. O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo tem me orientado com relação a isso. Quando Diana começar a trabalhar efetivamente nos jornais, vamos poder discutir o assunto.

NA - Diana, a personagem da Carol, vai ser disputada por Marcello Anthony e Rodrigo Lombardi. Quem vai levar a melhor inicialmente? Como se desenvolverá esse triângulo amoroso? Algum dos dois tem um carácter mais duvidoso que faça o público torcer por um personagem?
SA: O Gerson. Ele casará com Diana, mas ela, com o tempo, se arrependerá da escolha que fez. Mauro, por sua vez, é um homem íntegro, e mesmo apaixonado pela jornalista, não irá esquecer que ela é a mulher do melhor amigo dele. E a confusão está criada! Mas eu não conto!

NA - Para essa história, você idealizou a Metalúrgica Gouveia, tal como já tinha idealizado outros grandes impérios em novelas como "Belíssima", "Torre de Babel" e "A Próxima Vítima". É um artifício que pode ser comumente considerado como uma marca de Sílvio de Abreu? Que melhoras essa criação traz do ponto de vista teledramatúrgico? Facilita as idas e vindas e os encontros dos personagens?
SA: Eu gosto de criar essas grandes empresas, certamente elas facilitam os encontros dos personagens e de histórias. Além disso, em grandes impérios estão presentes dinheiro e poder, dois fatores que são ponto de partida para muitas tramas.

NA - Em "Passione" você explora também o mundo da alta competição e da mountain bike, bem como a bigamia. Quem são os personagens envolvidos nessas sub-tramas? Teme vozes mais conservadoras relativamente à questão da bigamia, punível inclusive por lei e pela moral do mais comum dos cidadãos?
SA: A bicicleta é a base da empresa deles e vem daí o fato dos personagens Danilo (Cauã Reymond) e Sinval (Kayky Brito) serem ciclistas. Existe ali uma rivalidade, uma competição entre os dois que vai para a pista. Então acho isso muito interessante. Em relação à bigamia, o personagem do Bruno Gagliasso, o Berilo, vai ter um forte lado cômico. Além disso, o casal Berilo e Agostina (Leandra Leal) se afastou e perdeu o contato por conta de Mimi (Marcelo Medici) que, apaixonado por ela, interceptou as cartas trocadas entre os dois. É uma história engraçada que promete arrancar muitas risadas, e não criar polêmicas.

NA - Você está trabalhando em "Passione" desde quando? Como você idealizou a trama? Inspirou-se em alguma coisa?
SA: Há dois anos. A ideia surgiu quando escutei a música Malafemmena enquanto voltava da minha casa no Guarujá para São Paulo. Foi a música que me inspirou. Ela fala de um homem simples e honesto apaixonado loucamente por uma mulher ordinária e sem caráter. Aí começou a história de Totó e Clara.


NA - Por que decidiu ambientar parte da trama na Toscana, Itália? Teme rejeição do público a isso, uma vez que você mesmo referiu que a Itália estará muito presente até, mais ou menos, o capítulo 70?
SA: A trama se passará paralelamente em São Paulo e na Toscana. Acho difícil o público rejeitar um lugar tão lindo e mágico, além disso a novela sempre terá uma parte em São Paulo também. Decidi isso porque gosto e conheço os dois. Vivo em São Paulo desde que nasci e já morei por um ano na Itália na década de 70. Sinto-me em casa nos dois ambientes.

NA - Que pesquisas você teve de fazer para que os personagens italianos sejam o mais fiéis possíveis à realidade?
SA: Denise Saraceni e eu visitamos quase 5.000 quilômetros de terras da Toscana para a escolha das locações e para estudar os hábitos e costumes dos italianos. E estamos tendo a consultoria de Cecília Casini, professora de italiano da USP, que está nos ajudando na composição dos personagens italianos.

NA - Mais uma vez, você ambienta uma trama sua em São Paulo. Para você, é impensável sair do eixo Rio-São Paulo a nível narrativo e mesmo a nível de produção de uma novela? Por quê?
SA: Gosto de escrever personagens paulistanos porque é o ambiente que domino e com o qual me identifico. E gravar na Itália é sair do eixo Rio-São Paulo, não?!

NA - Como está sendo repetir a dobradinha com Denise Saraceni?
SA: Maravilhoso. A Denise tem um cuidado especial com as coisas, não só com colocação de câmera, mas com a condução de atores e com um grande aprofundamento psicológico dos personagens. Ela é exigente e talentosa. Não adianta nada eu ter um texto maravilhoso se eu não tiver uma pessoa para dirigir direito este texto e um ator para representar porque, na verdade, esse texto só quem vai ler sou eu porque o público vai receber o produto através da Denise e dos atores. Então eu forneço a base, mas o resultado vem deles. Então a única maneira de a gente conseguir um bom resultado é trabalhar em conjunto. E se respeitar e se admirar. Por que o que me mantém trabalhando com a Denise com um prazer enorme é exatamente o respeito e a admiração que a gente tem um pelo outro. A gente combina em tudo.

NA - Pretende estrear com quantos capítulos escritos? Qual considera ser a frente de capítulos escritos necessária para que a produção tenha tempo de evitar os problemas de cronograma que têm sido amplamente divulgados sobre novelas como "Tempos Modernos" ou "Viver a Vida"?
SA: Cada autor tem o seu ideal de frente e seu modo de trabalho. Tenho 35 capítulos escritos, mas se tiver que mudar a minha maneira de me comunicar posso reescrevê-los.

NA - Como você descreveria sua novela para os internautas do NaTelinha?
SA: É uma novela de passione! Uma história com muito drama, comédia, suspense, uma clara crítica social e excelentes atores!!! Espero que o público tenha prazer de esperar a hora da novela, de assistir aquela cena, de ver os atores representarem e de acompanhar a história.

Fonte: Na Telinha

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