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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Aguinaldo Silva fala do Rio de Janeiro


Depois de uma temporada de cinco meses em Portugal, onde esteve acompanhando o lançamento de sua novela “Laços de sangue” na televisão local, Aguinaldo Silva chegou ao Rio este fim de semana para receber, nesta segunda-feira, o título de cidadão carioca. Pernambucano, Aguinaldo está no Rio há 44 anos, e o título é mais do que merecido. Nesta entrevistinha, ele fala de sua relação com a cidade.

Quando você chegou ao Rio, de vez, foi morar aonde? Ainda mantém alguma relação com este bairro?
Quando cheguei ao Rio, em junho de 1964, na verdade ia para São Paulo, e aqui não tinha onde ficar. Telefonei para Fernando Mello, que depois escreveria "Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá", e fiquei hospedado com ele num apartamento que lhe fora emprestado na Rua Itacuruçá, na Tijuca. Foi minha primeira morada aqui, e lá perdi a conta dos coiós que levei dos bad boys da época, os quais não suportavam a ideia de ver sua rua tão tradicional invadida por duas bibas pintosas. De dia, conseguíamos sair de ônibus, mas à noite tínhamos que chegar de táxi, ou bater o recorde dos cem metros rasos! É evidente que, em tais circunstâncias, quando saí da Tijuca fiz igual a dona Carlota Joaquina quando deixou o Rio: sacudi as sandálias pra não levar dali nem a poeira!

Nessa época, o que mais te atraiu na cidade e o que você mais estranhou ou rejeitou?
O que mais me atraiu foi o bar e restaurante Gôndola, em Copacabana. Ver o Paulo Francis num domingo, a ler o "Estadão" fingindo que era o "New York Times", era uma experiência inesquecível! O que mais estranhei foi a longa viagem no ônibus 434 da Tijuca até lá. Tudo me parecia tão longe... e em todos os sentidos. Rejeitar, eu não rejeitei absolutamente nada. Agarrei tudo que me veio pela frente.

Hoje, o que mais te atrai no Rio e o que mais você rejeita?
Hoje, só duas coisas me atraem no Rio: o Centro Cultural Banco do Brasil e seu entorno (não mais de 200 metros de circunferência) e um trecho de Ipanema que vai da Praça Nossa Senhora da Paz à Rua Garcia D´Avila. O que mais rejeito é o caos urbano em que se transformou a cidade. A paisagem continua linda, mas não pode ser confundida com o tecido urbano, que é horroroso, foi totalmente destruído pelas construções caóticas e pela favelas inerradicáveis.

Lisboa está substituindo o Rio no seu coração?
Dos meus 66 anos, vivi 44 anos no Rio de Janeiro. Foi nesta cidade que eu — uma bibete pobre, feia, tímida e mal ajambrada — cresci em todos os sentidos. Ela para mim é insubstituível. O problema é que a cidade foi totalmente adulterada nestes seus 400 anos, enquanto Lisboa tem 1.100 e continua perfeita. Eu amo as duas, o que me faz estar na moda desta estação, que é a bigamia.

Fonte: Blog do Xexéo

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