Quando passou no vestibular de Administração, Daniel Boaventura foi animadíssimo contar ao pai. Não foi recebido, no entanto, com o mesmo entusiasmo. “Legal”, afirmou ele antes de voltar ao trabalho. “Meu pai sabia que meu caminho não era ali, que eu queria ser artista”, conta o baiano de 40 anos, que logo largaria a faculdade para se dedicar à sua verdadeira vocação. Dividindo-se entre o lado de ator e cantor, Daniel está em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, com o musical “Evita”, em que interpreta Juan Perón.
Sucesso junto ao público feminino, especialmente após interpretar o misterioso policial Diogo em “Passione”, o filho do meio de um PHD em educação e de uma professora de francês parece pesar cuidadosamente as palavras quando o assunto é sua vida pessoal. “Você me acha excessivamente cauteloso?”, chega a perguntar à reportagem.
Separado desde setembro de Juliana Serbeto, com quem ficou casado por 12 anos e com quem teve duas filhas – Joana, 7 anos e Isabela, 2 – Daniel diz continuar solteiro. “Antes de procurar uma mulher, preciso me definir emocionalmente”, afirma. Leia abaixo os melhores trechos da entrevista:
Como começou a carreira artística?
Eu morei nos Estados Unidos por três anos. Me alfabetizei lá, e foi lá que tive meu primeiro contato com instrumentos. Na volta para Salvador, foi difícil para eu me readaptar, mas sempre consegui levar com a escola uma atividade artística. Passei a participar de festivais de música, que me deram uma segurança, uma experiência. Por mais que fosse uma coisa amadora, às vezes as platéias tinham 3 ou 4 mil pessoas.
Você fazia sucesso com as mulheres nessa época?
Não sei se eu era popular. Eu sou muito pé no chão, encarava a banda como trabalho. Era legal, a gente tinha seguidores, mas não chegavam a ser groupies, na Bahia não tem espaço para isso. Baiano, como se diz lá, não dá muita ousadia.
Chegou a pensar em ter outra profissão?
Cheguei a cursar três faculdades, mas não consegui me encontrar. Primeiro estudei administração. Depois fiz relações públicas, mas só fiquei dois anos. Por último, cursei três anos de publicidade. Faltando um ano para me formar, não deu mais para ficar nessa de me dividir entre a faculdade e o mundo das artes.
O que o fez tomar a decisão de largar a faculdade?
Tinha 24 anos quando decidi que não dava mais. Eu era profissional já. Em 1994, fui chamado para fazer “Os Cafajestes”, um musical onde quatro homens falariam mal das mulheres durante uma hora. Virou um sucesso e ficamos 5 anos ininterruptos em cartaz. Fui convidado para fazer uma turnê longa com a peça, tive que optar. Pensei em transferir o curso para São Paulo, mas achei que era perda de tempo. Tranquei para garantir, mas está trancado até hoje. Foi um início solitário em São Paulo, não conhecia quase ninguém.
Em algum momento chegou a pensar em desistir?
Não teve um período de pensar em desistir, mas um período difícil. Antes de “Laços de Família”, por exemplo, fiquei um tempo sem contrato, sem nada certo. Foram alguns meses sem emprego. Não estava nos meus cálculos. Eu pensei: “É assim que tem que ser? Você tem que ficar antenado? Não tem uma garantia, mesmo que você faça um trabalho de qualidade?” Fiquei preocupado, mas aprendi a minha lição: nunca depender de um local só, seja teatro, seja cinema. O momento foi difícil, muito complicado mesmo. Mas a vida é assim mesmo. Teve um ano que eu fiz vários testes para cinema, para publicidade, um número absurdo, e não era chamado para nada. Não acontecia.
Você se considera tímido?
Sim, eu me considero um pouco tímico. [ longa pausa]. Não sou uma pessoa centralizadora da conversa, gosto muito de ouvir, gosto muito de observar. Juro que não é charme. Eu não sou extrovertido. Claro que quando estou no meu meio eu sou, mas no geral sou resguardado.
Como é para um tímido ter se tornardo o centro das atenções ao participar de uma novela no horário nobre?
Eu me senti confortável com essa coisa da novela, porque nada meu foi muito rápido. Tudo foi sempre muito alicerçado, no tempo que tem que ser. Não existe pressa, não quero fazer de qualquer jeito.
Você se define como reservado. Como enfrentou as especulações sobre a sua separação e um possível affair no momento em que você estava mais em evidência por seu personagem em “Passione”?
A abordagem que eu tenho é muito tranquila. Essa história da minha vida pessoal já ficou velha. Esses dias, estava vendo uma matéria do Chris Brown. Ele queria divulgar o CD, e queriam saber só da Rihanna. O que me incomoda, e isso parece clichê, é quando você tem uma linha de trabalho, tem projetos, e de repente, acidentalmente, aquele assunto que já passou acaba virando o ponto nevrálgico da conversa. Se você centra na vida pessoal, você não fala do trabalho, e é isso que me incomoda. Mas eu levo de maneira tranquila.
Como está sendo interpretar Juan Perón?
É a hora ideal para fazer o Juan Perón. Foi bom descobrir que ele não é tão apático quando eu pensava, me fez me interessar ainda mais pelo projeto. Quando eles se conheceram, ela era uma atriz de rádio em ascensão. Não era famosa, era conhecida. Ele já era praticamente um estadista. O papel pode não ter tantas músicas, ele não tem muitos solos espetaculares, e a priori, fiquei desestimulado. Poxa, queria cantar mais, o menino queria cantar mais. Depois eu percebi que a coisa podia ser muito bem aproveitada.
Como você vê essa experiência que o Perón viveu, de se relacionar com uma mulher mais famosa do que ele?
Acho que isso requer antes de mais nada maturidade do parceiro, depende de cada um. Eu vejo de uma forma tranquila. Nunca estive com uma mulher mais famosa do que eu, mas estar com alguém que é mais famoso requer de você um comportamento natural, como o que você tem com a pessoa na intimidade.
Tem aproveitado a vida de solteiro?
Esse é o momento, caro leitor, em que você vai se entediar. Gosto de comer, tomar vinho, adoro sentar na minha poltrona para ver filmes, ler. Hoje em dia eu não malho tanto, por causa do musical. Meu passatempo favorito é jantar fora. É isso, sou tranquilo.
Não gosta de baladas, de sair para dançar?
Na adolescência eu fui da noite. Mas não tinha muito talento para abordar mulheres, e naquela época o objetivo era dar beijo... Eu não acho xavecar uma coisa menor, não é isso. Para conquistar uma mulher na conversa é preciso ser muito inteligente, ter presença de espírito, admiro quem faz isso. O flerte é ótimo, mas não sinto saudade da balada. Eu posso ir até, ficar observando as pessoas, mas sou muito reservado.
E de que maneira você conquista as mulheres?
Conto muito com a sorte, com o destino, procuro ser o mais direto possível, mas com algum charme. No momento estou trabalhando, sou 100% trabalho. Antes de procurar uma mulher, tenho que me definir emocionalmente para poder seguir em frente. Mas acho que essencialmente busco inteligência, simpatia e transparência, coisa que quase ninguém consegue hoje em dia.
Fonte: Revista Quem
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