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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quais são os “limites aceitáveis” do humor?


Ao pedir desculpas “a quem quer que tenha se sentido ofendido” por um quadro exibido no programa “Comédia MTV”, a direção da emissora observou: “A MTV Brasil entende que a esquete ‘Casa dos autistas’ ultrapassou limites aceitáveis do humor”.

Quais seriam estes limites? No caso em questão, a emissora entendeu, um mês depois de exibir uma paródia do finado “Casa dos Artistas”, do SBT, que ofendeu as pessoas que sofrem de autismo.

Isso significa que autistas não podem ser alvos do humor? Não creio. Do ponto de vista do público, existem basicamente dois tipos de piada, a boa e a ruim. Tanto uma quanto a outra podem provocar incômodo.

Outro dia, na Inglaterra, um torcedor em cadeira de rodas invadiu um campo de futebol para protestar. Quem me chamou a atenção para a cena, no Twitter, foi o escritor Marcelo Rubens Paiva, paraplégico depois de sofrer um acidente, na década de 80. Marcelo certamente viu graça na cena, que, aliás, poderia render um excelente quadro de humor.

No caso em questão, que ofendeu os autistas, avalio que era uma piada muito ruim, sem graça, ancorada exclusivamente numa boa ideia – a semelhança com o nome do programa real – mas sem possibilidades de desdobramento.

O episódio revelou também um outro aspecto interessante. O principal nome do “Comédia MTV” é o humorista Marcelo Adnet. Imitando Silvio Santos, ele participou ativamente da “Casa dos Autistas”, mas apressou-se a dizer, no Twitter, que fez isso a contragosto.

“Não posso me responsabilizar sozinho por uma cena que não escrevi, não dirigi e sempre fui contra ela!”, disse a um seguidor. “Consegui barrar a cena ano passado, mas não neste… desculpe!”, disse a outro.

Adnet é contratado da MTV, que assumiu “total responsabilidade” pelo episódio. “Todo o elenco do programa, assim como sua equipe de roteiristas e produção, são contratados da emissora e a ela prestam serviço, inclusive o humorista Marcelo Adnet, que vem sendo apontado por alguns como único responsável pelo conteúdo do programa”, diz a nota.

O texto da emissora expõe claramente os limites autorais do humorismo que exibe.

Fonte: Mauricio Stycer, do UOL

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