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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Remakes de novelas viram febre na TV

"Paraíso", na versão moderna, com Eriberto Leão e Nathália Dill

A TV Globo vive um momento de lua-de-mel com os remakes de novelas. Após o sucesso de "Ti-ti-ti" - que mesclou as novelas "Plumas & Paetês" e "Ti-ti-ti" -, a emissora decidiu apostar em novos exemplares do gênero. E já anunciou remakes de "O Astro" e "Cambalacho" - esta última, substituindo o remake de "Guerra dos Sexos", que foi adiado, mas não descartado.

Desde o início da teledramaturgia, os remakes são uma prática comum. No começo da TV brasileira, era frequente a adaptação de novelas de rádio para novelas de televisão. Outro fenômeno básico era adaptar para a TV - em novelas ou teleteatros - textos teatrais ou obras da literatura. E assim, várias versões da mesma história foram ao ar em diferentes emissoras. E vale lembrar o caso de "O Direito de Nascer" - a novela mais "refeita" da história mundial. Estreou como rádio-novela em Cuba, e na fase televisiva brasileira teve três versões (por enquanto): na TV Tupi em 1964, de novo na Tupi em 1978, e no SBT em 2001.

A década de 70, por outro lado, ficou marcada pela experimentação, com textos inéditos e até ousados.Já na década de 80, com a entrada da autora Ivani Ribeiro na Globo, a emissora passou a "ensaiar" uma pequena fábrica de remakes. Dentre as sete novelas que Ivani escreveu na Globo, apenas uma era inédita: "Final Feliz" (82/83). As outras eram remakes de textos que a própria Ivani criara em outras emissoras, nos anos 70. E mesmo após sua morte, em 1995, Ivani continuou sendo "refeita" na Globo: quatro projetos da emissora foram inspirados ou adaptados de novelas ou minisséries clássicas da autora, como "A Muralha" (2000).

Glória Pires como as vilãs Raquel e Nice, nos remakes de "Mulheres de Areia" e "Anjo Mau"

Na primeira metade da década de 90, um pequeno surto de remakes aconteceu na Globo. A emissora produziu, quase na sequência, quatro releituras: "Mulheres de Areia" (93), "Sonho Meu" (93/94), "A Viagem" (94) e "Irmãos Coragem" (95). A mesma década ainda teria "Anjo Mau" (97/98) e "Pecado Capital" (98/99).

Mais recentemente, a tendência voltou à tona, com remakes às 18h: "Cabocla" (2004), "Sinhá Moça" (2006), "O Profeta" (2006/07), "Ciranda de Pedra" (2008), "Paraíso" (2009). O sucesso desses projetos elevou o remake ao horário das 19h - com "Ti-ti-ti" (2010/11) -, e agora o estilo chega a um novo horário: o das 22h, onde a Globo pretende estrear o formato de "maxiséries", no segundo semestre, com "O Astro".

Débora Falabella no papel-título do remake "Sinhá Moça", de 2006

Segundo Nilson Xavier, autor do livro "Almanaque da Telenovela Brasileira" e criador do site www.teledramaturgia.com.br, o motivo de tanta insistência nos remakes é simples: a boa repercussão deles. "E também porque paira no ar uma certa 'crise de criatividade' entre os autores. Prova disso é a constante repetência de tipos que já vimos em novelas anteriores. O que chega a ser engraçado: remake de novelas e remake de personagens!", comenta ele.

Para alguns analistas de TV, o fenômeno é mais uma fase passageira. "Não acho que seja uma fase", discorda Nilson. "Acho que realmente as telenovelas já tiveram seus 'anos dourados', e que atualmente a audiência anda rebelde! Por quê não trazer de volta em novas produções, novelas que fizeram sucesso num passado glorioso?"

Antônio Fagundes e Christiane Torloni no remake global de "A Viagem" (1994)

Mas para muitos puristas, telespectadores de novelas há décadas, os remakes não são bem-vindos, pois descaracterizam as histórias originais, modificando-as em vários níveis, inclusive nos desfechos - como aconteceu com a recente "Ti-ti-ti". "É preciso deixar claro: a maioria dos remakes não são remakes propriamente ditos. São adaptações de outras novelas", analisa Nilson. "Logo, é natural que várias alterações sejam feitas. É como se fosse uma novela nova. Não adianta comparar. E mesmo porque, as novelas originais foram feitas em outras épocas, num outro contexto. Regravar 'ipsis literis' não cabe hoje em dia. Alguma mudança terá que ser feita. E também porque uma novela de 25 anos atrás não dá uma novela hoje!"

Ana Paula Arósio, Tammy di Calafiori, Ariella Massoti e Ana Sophia Folch no remake de "Ciranda de Pedra"

Portanto, é melhor esperar por mudanças radicais nos próximos remakes da Globo. "O Astro" estreia no segundo semestre, atualizando um dos maiores sucessos de Janete Clair, levado ao ar entre 1977 e 78, parando o Brasil com a pergunta "Quem Matou Salomão Hayala?". A dimensão desse sucesso foi tão territorial, que até Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna de jornal, na época: "Agora que 'O Astro' terminou, vamos cuidar da vida, porque o Brasil está lá fora esperando". Resta aguardar para conferir se a nova versão terá tanta repercussão como o original.

"Irmãos Coragem", na primeira versão (1970/71)

Remakes da Globo

A Moreninha - 1965 e 75/76
Irmãos Coragem - 70/71 e 95
Selva de Pedra - 72/73 e 86
A Grande Família (seriado) - 72/75 e 2001/11
Roque Santeiro - 75 (versão censurada, proibida) e 85/86
Pecado Capital - 75/76 e 98/99
Anjo Mau - 76 e 97/98
Sítio do Picapau Amarelo (seriado) - 77/86 e 2001/07
Dona Xepa - 77 e 90/91 (a segunda versão chamou-se "Lua Cheia de Amor")
Carga Pesada (seriado) - 79/81 e 2003/06
Cabocla - 79 e 2004
Plumas & Paetês - 80/81 - fez parte de "Ti-ti-ti" (2010/11)

Eva Wilma e Tony Ramos na versão original de "A Viagem" (75/76), na TV Tupi

Ciranda de Pedra - 81 e 2008
Paraíso - 82/83 e 2009
Amor com Amor se Paga - 84 (do original "Camomila e Bem-Me-Quer", produzido pela Tupi em 72/73)
A Gata Comeu - 85 (do original "A Barba Azul", produzido pela Tupi em 74/75)
Ti-ti-ti - 85/86 e 2010/11
Hipertensão - 86/87 (do original "Nossa Filha Gabriela", produzido pela Tupi em 71/72)
Sinhá Moça - 86 e 2006
Sexo dos Anjos - 89/90 (do original "O Terceiro Pecado", produzido pela TV Excelsior em 68)
Mulheres de Areia - 93 (mesclando "Mulheres de Areia", produzido pela Tupi em 73/74, e "O Espantalho", da TV Record em 77)
Sonho Meu - 93/94 (mesclando "A Pequena Órfã", da TV Ecelsior em 68/69, e "Ídolo de Pano", da Tupi em 74/75)
A Viagem - 94 (do original da Tupi em 75/76)
A Muralha - 2000 (a partir da minissérie homônima realizada pela Excelsior em 68/69; ambas inspiradas no livro de Dinah Silveira de Queiroz)
O Cravo e a Rosa - 2000/01 (adaptação de "A Megera Domada", de William Shakespeare, que já havia rendido as novelas "A Indomável", da TV Excelsior em 65, e "O Machão", da Tupi em 74/75)
O Profeta - 2006/07 (do original da Tupi em 77/78)

Fonte: IG

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