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sábado, 14 de maio de 2011

Beijo gay é ousadia importante numa novela com problemas


Quem assistiu “Amor e Revolução” nos últimos dois dias, na expectativa de testemunhar um momento histórico – o primeiro beijo gay numa telenovela brasileira –, deve ter se perguntado: como uma ousadia destas ocorreu numa novela tão convencional, didática e previsível?

Tiago Santiago merece crédito tanto por uma coisa quanto por outra. Teve a coragem e o senso de oportunidade de afrontar um tema delicado, transformado oficialmente em tabu pela Globo, e logo de uma forma radical: um beijaço, intenso e longo, entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Mariana (Gisele Tigre).

Dou um desconto à presepada feita pelo SBT, que prometeu exibir a cena no capítulo de quarta-feira – fato anunciado, inclusive, pelo telejornal da casa –, mas só a mostrou no dia seguinte. A expectativa criada pelo beijo foi vista pela direção da emissora como uma oportunidade para alavancar a audiência da novela, que ainda não decolou, depois de um mês no ar.

Mas não dá para ser condescendente com alguns problemas, mais do que visíveis, de “Amor e Revolução”. A novela exige paciência do espectador. Tiago Santiago explicou, em entrevista a este blogueiro, que o excesso de didatismo se justifica pelo desconhecimento de grande parte  do público sobre os acontecimentos da década de 60 no Brasil.

Na sua visão, o didatismo incomoda a classe AB, mas não às demais. Tenho a impressão que ele está enganado. O tom de livro de história para crianças prejudica o ritmo da trama e constrange os atores, obrigados a reproduzir falas bobas e a fazer verdadeiros discursos em cena. Ninguém gosta de assistir telecurso às 22hs.

O tema da novela é ótimo e oportuno, mas isso não basta para transformar “Amor e Revolução” numa experiência agradável. No mesmo capítulo do beijo gay, por exemplo, um médico aplicou uma injeção com “soro da verdade” num paciente, segurando a seringa com uma mão e o revólver com a outra. Em outra cena, um militante de esquerda reclamava por trocar sozinho o pneu do carro, enquanto um padre recitava trechos da Bíblia e duas mulheres conversavam sobre o amor.

O público rejeitou as cenas de tortura, contou Santiago. Silvio Santos brincou a respeito, dizendo que a novela deveria ter mais amor e menos revolução. Por coincidência, na quarta-feira, dia do beijo gay que não ocorreu, “Amor e Revolução” mostrou uma cena de amor entre os dois protagonistas, José (Claudio Lins) e Maria (Graziella Schmitt), com direito a close nos seios da moça, dentro de uma igreja.

Santiago promete desenvolver a trama romântica entre as duas mulheres de acordo com o interesse e a resposta do público. Ele tem um longo caminho pela frente, antes disso. Precisa, primeiro, tornar a sua novela mais ágil e surpreendente.

Fonte: Mauricio Stycer, do UOL

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