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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Não existem pequenos papéis para quem tem talento


Acredito fortemente no tema desta critica. Para bom ator não existe papel pequeno, da mesma maneira que não há personagem maravilhoso que sobreviva a um profissional sem talento. Os exemplos são inúmeros, mas vou me fixar em apenas três, para homenagear tantos outros: Cristina Galvão, a Jandira de Insensato Coração; Narjara Turetta, a Lilian de Morde & Assopra, e Ilva Niño, a Dona Cândida de Cordel Encantado. Atrizes de gerações diferentes, com trajetórias e estilos bem distintos, mas com a mesma entrega aos projetos em que estão participando, independente da posição em que seus nomes apareçam nas aberturas de suas novelas.

Cristina Galvão já foi mocinha romântica (em Roque Santeiro, 1985), jovem batalhadora (Vale Tudo, 1988), Rolinha de coronel (Tieta, 1989), ambulante (Duas Caras, 2008)… E, apesar de suas personagens estarem sempre à margem das tramas principais, ela nunca falhou, sempre brindando o público com belíssimas atuações. Se bem que, agora, em Insensato Coração, ela está bem no centro da melhor história da novela escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares: como a principal parceira de Norma (Gloria Pires) no plano de vingança contra Léo (Gabriel Braga Nunes).

Além de ser uma profissional com um repertório vastíssimo, Cristina guarda um grande trunfo: a força de seu olhar. A atriz passa toda sua emoção num simples olhar e passa a impressão para o público que ela nunca está a fim de ser o centro das atenções (apesar de ter competência para isso) e sim contribuir para que a cena seja a melhor possível. Sua parceria com Gloria Pires vem de longa data – elas fizeram juntas Vale Tudo, O Dono do Mundo (1991) e Paraíso Tropical (2007) – e, talvez, essa intimidade explique a química tão boa que existe entre elas. Não me canso de repetir que é sempre um prazer ver Cristina Galvão atuando!

Narjara Turetta começou a trabalhar bem novinha. E antes mesmo de estourar como Elisa, a filha de Regina Duarte em Malu Mulher (1979), ela já tinha no currículo participações nos programas A Grande Gincana (1971) e Essa Gente Inocente (1975) e nas novelas Papai Coração (1976), Um Pedaço de Papel (1977) e Salário Mínimo (1978). Ou seja: aos 13 anos ela já era uma veterana. E foi essa a postura e o sucesso que fez em Malu Mulher que a credenciou a se tornar uma das maiores estrelas do país. Mas isso nunca aconteceu. O motivo é um desses mistérios insondáveis… Narjara trabalhou intensamente, emendando uma produção na outra até 1990. De repente, sumiu e apenas sete anos depois reapareceu fazendo aparições na série Caça Talentos e nos programas Você Decide, Linha Direta, Casos e Acasos, Zorra Total… Mesmo assim esporadicamente… Até surgirem oportunidades em Vidas Cruzadas (2000), na Record, e em Páginas da Vida (2006), na Globo, que se revelaram duas frustrações por culpa da falta de investimento dos autores nas personagens.

Foi preciso que Walcyr Carrasco a recrutasse com um papel pequeno (mas com ótima trama, conflito, drama e até mistério) para que Narjara tivesse a chance real de aflorar e mostrar todo aquele talento que apenas um público com mais de 35 anos realmente pôde desfrutar. Já ficou claro para todo mundo em Morde & Assopra que Lilian é a verdadeira mãe da insuportável Alice (Marina Ruy Barbosa). O que levou a moça a abrir mão da própria filha ainda não foi revelado e o momento em que a menina descobrir que a tal “vira-lata” (como ela chama os pobres) é na verdade a mulher que a gerou, certamente vai render momentos gloriosos para Narjara e Marina. Mas, mesmo antes disso acontecer, ela vem arrebentando. A dor contida de Lilian, a humilhação que passa para poder ficar ao menos perto da garota e as tentativas de torná-la mais amável são armas nucleares nas mãos de uma atriz com tanta fome de explodir o mundo com seu talento. Tenho me emocionado sempre com Narjara na novela e torço demais para que a Justiça realmente tenha sido feita e que ela nunca mais abandone o lar que sempre foi seu: a televisão.

Ilva Niño é um baluarte da telinha. Eu praticamente cresci ao lado dela e acho que assisti a 90% de tudo que ela já fez na telinha. É verdade que nada vai superar a Minaaaaaaaaaaaaaaaaa, de Roque Santeiro (1985), esganadamente gritada pela Viúva Porcina, vivida por Regina Duarte. Mas a trajetória de Ilva é rica demais e inclui participações em outras novelas extraordinárias, como Gabriela (1975), Água Viva (1980), Pedra Sobre Pedra (1992), O Rei do Gado (1996), Por Amor (1998), Senhora do Destino (2004), Alma Gêmea (2005) e A Favorita (2008), entre muitas outras. E, em todas, ela deixou sua marquinha bem registrada. Sua figura é pequena em tamanho, mas enorme em competência. E curiosamente esta senhora de 73 anos conseguiu dois de seus melhores papéis bem recentemente: a Ernestina, de Cama de Gato (2009), e a Dona Cândida, de Cordel Encantado, duas tramas das maravilhosas Duca Rachid e Thelma Guedes. Não sei se isso é apenas coincidência ou se Thelma e Duca, como eu, também são fãs dela. Aposto na segunda opção!!! Em Cordel Encantado, a veterana tem ficado maior do que os homens do bando do Capitão Herculano (Domingos Montagner), já que ela é a grande força motora e a cabeça do grupo e não o temido cangaceiro. Ilva tem sido mandona e autoritária, mas também doce e maternal, alternando esses temperamentos tão fortes com muita precisão.

Cristina, Narjara, Ilva são apenas três muitos exemplos de que não é preciso uma beleza extraordinária ou páginas e páginas de falas para um bom artista poder se destacar. E quando se encontram nessa posição, brilham com ainda mais intensidade. O bom de um produto democrático como uma novela é exatamente a possibilidade de deixar aqueles que têm talento genuíno também conseguirem um lugar ao sol.

Fonte: Jorge Brasil, da Contigo

2 comentários:

  1. Marcos,

    Também concordo plenamente que um bom ator pode e consegue modificar totalmente os rumos de uma trama e do seu personagem. Estes 3 exemplos que vc citou são a melhor prova disso.
    Bem diferente de atores muitas vezes iniciantes que se recusam a fazer pequenas pontas ou participações por se julgarem grandes talentos da dramaturgia. Cristina, Ilva e Narjara são provas de superação, principalmente Narjara que chegou a vender àgua de coco a praia para sobreviver.

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  2. Realmente não há o que acrescentar. Bons atores transformam papéis, e, às vezes, até conquistam espaço que antes não teriam na trama.

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