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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Humorista diz que humor polêmico é reflexo da sociedade


Considerado um dos pioneiros a trazer o stand up comedy para o Brasil, o ator Bruno Motta gravou na noite de terça-feira, 25, em São Paulo, seu primeiro DVD. Previsto para ser lançado em dezembro deste ano, o trabalho é repleto de piadas ácidas sobre famosos, política e televisão. E faz a plateia gargalhar e aplaudir durante uma hora.

Susana Vieira e o namorado mais novo, os casamentos de Gretchen e Fábio Junior e até a morte de Amy Winehouse não escaparam do texto bem elaborado do artista, que já foi elogiado por nomes como Jô Soares e Rubens Ewald Filho.

Comentarista do “Jornal da Record News”, ao lado do ex-âncora do “Jornal da Cultura”, Heródoto Barbeiro, Bruno falou em entrevista exclusiva sobre o humor na televisão, carreira e comentou o contato que teve com José Vasconcelos e Heródoto Barbeiro. Confira:

O humor e os programas de humor mudaram. Para você, qual a maior dificuldade de fazer o outro rir, atualmente?
Hoje em dia é essa polícia, a vigília em cima da piada. A gente está em uma era de informação, em que tudo o que a gente escreve em uma rede social vira notícia. Querem tornar tudo o que a gente fala mais uma polêmica. Eu sempre digo isso: o que a gente fala não é nada além do reflexo da sociedade em que vivemos. Mesmo quando a pessoa fala a maior grosseria, está refletindo essa sociedade. Muitas vezes não desejamos nos ver no espelho, ver a sociedade de que fazemos parte.

Como você lida com essas cobranças?
Lido bem com isso, sei com quem estou falando. Se a pessoa não ri com o que eu falei, sei que existe um problema, sei que não consegui passar a mensagem.

O stand up lida com casos do cotidiano. Você fica o dia inteiro pensando em piadas?
Acho que o dia inteiro... Vejo jornal pensando, vejo televisão pensando, converso com os amigos. Quando você trabalha com isso fica mais atento, pensa que tudo pode virar piada. Mas não testo mais com amigos, hoje em dia é tudo no palco. Até porque faço shows de segunda a segunda.

Tendo sido um dos primeiros a investir em stand up no Brasil, o que mudou de lá pra cá?
A gente nunca achou que fosse possível proliferar desse jeito, que fossem existir shows para fazer. No começo, a gente tinha que explicar o que era stand up, era complicado. Digo que antigamente as pessoas gostavam de ser ator, modelo e astronauta. Mas hoje elas querem fazer stand up e ser DJ (risos).

A Nany People também disse, em recente entrevista ao Yahoo!, que exige uma grande safra de pessoas querendo fazer stand up. Saberia explicar o motivo?
Não sei, mas talvez tenham a impressão de que não precisa de nada para fazer stand up. Pois a graça do stand up é essa: fazer parecer que a piada saiu do nada, que é um bate-papo com a plateia. Mas é mentira. Sem talento é difícil sentar na frente da plateia e defender o trabalho. Acho que a plateia sabe quem é quem, uma hora ela diz “isso é ruim”.

Alguns atores que trabalham com o humor, como a Marisa Orth, dizem que o humorista na vida pessoal é totalmente diferente. São muitas vezes dramáticos e mal humorados. Como você é?
Alguns são mesmo (risos). Mas eu sou muito feliz, meio ligado no 220, mas nem um pouco mal humorado. Gosto de sair com os amigos, rir...

E o que te faz rir?
Eu não sei (pensativo). Espontaneidade me faz rir. O José Vasconcelos (1926-2011) me fez rir muito durante uma temporada que fiz com ele. Já ri muito com o Chico (Anysio) e Jô (Soares), mas o Zé era incrivelmente engraçado. Ele tinha uma elegância na hora de fazer uma piada que não falava um palavrão sequer. E era muito engraçado. Quando ele morreu, eu vi um vídeo no Jô, fiquei rindo e chorando.

Como foi esse contato com o José Vasconcelos?
Ele era muito doce, muito professor. Ele já falava sobre esse momento de “deixar a terra”. Ele falava exatamente assim, “deixar a terra” (risos). Ele escreveu até uns livros sobre extraterrestres... Ele era meio maluco, né? E eu dava muita risada com ele.
Você está na Record News com o Heródoto Barbeiro, ex-âncora seriíssimo do Jornal da Cultura. Como ele é nos bastidores?
Ele é budista, aliás, completamente budista, nem um pouco estressado. Ele vem, fala uma coisa e sai. Muuuito tranquilo. Temos uma redação comandada por um monge budista. Pois é, ele não é só budista, ele é um monge. Eu chego uma hora antes do jornal, às vezes conto uma piada para ele... Ele diz: “ah, muito boa essa do Corinthians”, porque ele adora. Mas posso brincar sobre tudo, já que ele é muito tranquilo.

No palco você propõe até um casamento da Gretchen com o Fábio Junior. Quais são as celebridades mais fáceis de brincar e fazer o público rir?
As mais conhecidas. O Silvio Santos, por exemplo, eu adoro, posso falar a maior maluquice dele que as pessoas estão rindo. Ana Maria Braga, Susana Vieira e Hebe... Quando falo dessas pessoas é porque elas são adoradas e muito conhecidas. Sobre o casamento do Fábio e da Gretchen... Nossa, o fim do mundo (risos). É uma piada apenas, porque eles casam muito, né?

Você sempre achou que pudesse fazer sucesso no humor?
A primeira vez que subi no palco eu tinha seis anos. Foram tantas as primeiras vezes que eu não tenho uma primeira vez de nada. Sempre gostei de comunicação de massa... Gosto de escrever, de estar no teatro, fazer algo no YouTube, na televisão... Para mim, tudo isso é um braço da mesma coisa. Sempre fui elétrico e minha família falava para eu parar, dormir... Mas eu não parei, né?

Gostaria de fazer uma novela, drama?
Sim, porque sou ator formado... Posso fazer um dia, mas gosto mesmo é de comédia.

Fonte: Yahoo 

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