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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

As novelas amadas e odiadas de 2011


Ti-Ti-Ti (Globo): a novela de Maria Adelaide Amaral, baseada na obra de Cassiano Gabus Mendes, foi, antes de tudo, uma homenagem a todas as novelas do autor e à telenovela em si. Os aficcionados divertiram-se com as mil e uma referências a novelas antigas e famosas, personagens, tramas e situações. Em minha opinião, a melhor novela de 2010, e está nessa relação porque ela avançou mais de três meses em 2011 (de julho de 2010 a março de 2011).

Araguaia (Globo): a novela de Wálter Negrão foi apresentada metade em 2010 e metade em 2011. As belezas da região do Araguaia, mostradas em HD, foram um chamariz, mas a história de Negrão deixou a desejar. Lima Duarte comentou publicamente que não gostou de seu personagem, o vilão Max. De resto, mais um grande momento de Laura Cardoso, e ótimas cenas com as novatas Flávia Guedes e Luciana Carnielli, que viveram as divertidas empregadas Aspásia e Lurdinha.


Ribeirão do Tempo (Record): a novela de Marcílio Moraes ficou praticamente um ano no ar, apresentada quase metade em 2010 e metade em 2011. O autor conseguiu segurar o seu texto à medida que era solicitado que a trama fosse espichada. A audiência foi constante, não estourou, tampouco fez feio. Mas também não causou burburinho, não chamou a atenção, não deu o que falar. E o que escrever.

Malhação: a fase 2010/2011, escrita por Emanuel Jacobina, não apresentou nada de novo, mas manteve uma audiência regular, que vinha em queda a cada ano. Destaque para a relação do jogador de futebol Maicon (Marcello Melo) com sua simplória mãe Dona Zica (Inez Vianna).

Malhação Conectados: a Globo estreou a nova fase da “novelinha teen” com grande alarde. Trouxe Ingrid Zavarezzi da TV a cabo para roteirizar e lançou a temporada de 2011 prometendo tramas sobrenaturais repletas de mistério e suspense. À medida que a audiência foi caindo, o sobrenatural foi sumindo da história. O alerta vermelho é o aviso de que a fórmula já está desgastada há muito tempo e que nem apelar para o sobrenatural resolve. Um passeio pelo baixo Augusta (em São Paulo) no sábado à noite, daria uma noção da realidade do jovem moderno de uma grande cidade, completamente diferente da juventude pasteurizada e fake do Projac. Além da fraca história, vale destacar que o capítulo de Malhação já começa com a audiência lá embaixo, herdada dos filmes da Sessão da Tarde – não justifica o seu fraco desempenho, mas é uma questão a ser considerada.


Insensato Coração (Globo): a novela escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e equipe tinha tudo para ser um estouro. Mas não foi. Primeiro problema detectado: o casal romântico central – Pedro e Marina (Eriberto Leão e Paola Oliveira) – mostrou uma química broxante. Paola bem que tentou, mas fazer a mocinha sofredora é realmente muito difícil, não é para qualquer atriz. Já Eriberto canastrou feio em várias situações. Segundo problema: a novela só deslanchou por volta do centésimo capítulo, quando Norma (Glória Pires) saiu da cadeia e iniciou sua vingança contra Léo (Gabriel Braga Nunes). Até lá, várias participações especiais, tramas rodando soltas, e personagens chatos, como o triângulo Raul-Carol-André (Antônio Fagundes, Camila Pitanga e Lázaro Ramos). Mas a novela teve personagens que caíram no gosto popular: o casal Douglas e Bibi (Ricardo Tozzi e Maria Clara Gueiros), Tia Neném (Ana Lúcia Torre), Eunice (Déborah Evelyn), Natalie Lamour (Deborah Secco) e Cortez (Herson Capri). Vale destacar também a correta abordagem dada pelos autores aos personagens gays da novela. E a monstruosa participação – em todos os sentidos – de Cristiana Oliveira como a presidiária Araci.


Morde e Assopra (Globo) começou mal. Dinossauros e uma Flávia Alessandra robótica não agradaram. A trama do casal romântico central, vivido por Adriana Esteves e Marcos Pasquim, não foi suficiente para chamar a atenção do público para uma história com tantos elementos requentados que Walcyr Carrasco trouxe de novelas anteriores. Foi quando o autor teve a grande sacada: pegou a melhor atriz do elenco e elevou uma trama paralela à categoria de trama central. Assim, a simplória, sofrida e maniqueísta Dulce (Cássia Kiss) foi promovida a protagonista. Destaque também para o confronto entre a Flávia Alessandra robô e a real, um caipira abestado apaixonado por um malandro travestido e a empregada que fica rica a partir da avareza da patroa. Mas tirando Dulce, quem brilhou mesmo nesta novela extremamente popular foi a dupla Áureo e Celeste (André Gonçalves e Vanessa Giácomo) – ele, um gay afetadíssimo e divertido, ela, a vilã safada. Carrasco pôde respirar aliviado: a audiência já estava conquistada.


Cordel Encantado (Globo) – em minha opinião, a melhor novela de 2011 – não teve a audiência da novela das 9, mas o quesito qualidade independe do número de telespectadores sintonizados. A ousadia da novela de Thelma Guedes e Duca Rachid era grande: misturar contos de fadas com cangaço brasileiro. Mas o risco foi pensado: elenco de primeira, fotografia de cinema, direção de arte e figurinos arrebatadores. Mas nem tudo foram flores. A história conquistou, mas cansou: a barriga (aquele momento da novela em que nada acontece) fez o vilão Timóteo (Bruno Gagliasso) e o herói Jesuíno (Cauã Reymond) darem voltas e voltas tal qual um desenho animado de gato e rato. O elenco de coadjuvantes brilhou bonito: Osmar Prado, Marcos Caruso, Zezé Polessa, Débora Bloch, Nathalia Dill, Heloísa Périssé, Mohamed Harfouch, João Miguel e outros.


O Astro (Globo): o remake da clássica novela de Janete Clair – roteirizado por Alcides Nogueira, Geraldo Carneiro e equipe – trouxe uma opção a mais para o fim de noite, com cenas mais picantes e livres da vigília da classificação indicativa pela qual passam as novelas dos demais horários. Cenas com cigarro, violência, sexo, palavrões deram aquela sensação de resgate das novelas de décadas passadas, quando a televisão brasileira era menos careta. O proposital tom acima, em estética e interpretações, soou como uma homenagem ao gênero telenovela, neste ano em que ela completou 60 anos. Regina Duarte brilhou depois de mais de dez anos sem uma personagem à altura de seu talento. Rosamaria Murtinho brilhou também, assim como Marco Ricca e Humberto Martins, em interpretações marcantes. A audiência respondeu a altura e a novela das 11 terá uma nova temporada em 2012 (!). Momento mágico de O Astro: a homenagem à falecida atriz Dina Sfat, em que o personagem de Francisco Cuoco relembra um amor do passado e cenas da primeira versão da novela mesclam com a atual.


Amor e Revolução (SBT): o clipe de lançamento da novela já dava seu tom de desacerto: mais revolução do que amor. A direção capenga, o tom didático do texto (você sabe o significado da sigla DOPS?), interpretações equivocadas, trilha sonora aleatória, pouca ou nenhuma sutileza e muitas cenas de violência gratuita, desanimaram o telespectador. Alguns atores veteranos saíram ilesos: Lúcia Veríssimo, Reynaldo Gonzaga e Claudio Cavalcanti demonstraram segurança em seus papeis. A bela abertura e os depoimentos ao final dos capítulos são dignos de nota. Mas nem um beijo lésbico entre as personagens de Luciana Vendraminni e Gisele Tigre despertou a audiência adormecida do SBT – que, diga-se de passagem, preferiu as reprises das novelas da tarde à trama inédita do horário nobre.

Vidas em Jogo (Record): mexer na estrutura do folhetim é perigoso, mas estimulante. A novela de Cristianne Fridman não tem um protagonista, mas vários: os vencedores da loteria. E no final, o que chama a atenção mesmo são os dramas de cada personagem. Como a taxista estuprada e contaminada pelo vírus da Aids (Simone Spoladore), a mulher que apanha do marido (Lucinha Lins), ou a transexual que esconde – com um lencinho no pescoço – sua condição do filho de criação ingrato (Denise Del Vecchio e Rômulo Arantes Neto). Tramas interessantes com atores à altura. Mas falta a essa novela um borogodó, um charme, ou pelo menos uma melhor divulgação que chame a atenção do “grande público”.  Dica: excesso de cenas de ação cansa.


Rebelde (Record): versão brasileira da novela teen que fez sucesso no Brasil através da versão mexicana da Televisa, apresentada pelo SBT entre 2005 e 2006. Foi o programa que mais sofreu com a grade flutuante da Record. Não há audiência cativa que resista a constantes mudanças de horário. Mas não para Rebelde, ao que parece. Apesar da audiência considerada baixa, e dos horários de exibição voláteis, a novela tem fãs adolescentes que garantem o sucesso dos shows reais da banda da ficção. Isso sem falar da repercussão nas redes sociais, os produtos licenciados e a garantia, por parte da emissora, de uma segunda temporada no ano que vem.

Fina Estampa (Globo): Amada e odiada nas redes sociais, mas amada pelo Brasil na audiência. A novela de Aguinaldo Silva chega a ser um fenômeno se considerarmos audiência x qualidade das novelas anteriores. A resposta é uma só: Fina Estampa foi milimetricamente pensada para atender ao público da “nova classe C”, tão em voga no momento. Definitivamente, essa não é uma novela realista, ou naturalista – como, aliás, a maioria das novelas do autor não é! Fina Estampa não é para ser levada a sério. Cativa pelo humor, voluntário e involuntário, pelo talento de alguns atores, e pelo texto afiado de Aguinaldo, que consegue estruturar sua trama mantendo-a sempre com ganchos interessantes (regra primordial na carpintaria da telenovela). Tem tramas e personagens absolutamente dispensáveis. Mas tem outros muitos bons. Lília Cabral carrega nas tintas com sua Griselda, tão maniqueísta quanto a Dulce de Morde e Assopra. Christiane Torloni e Marcelo Serrado (Tereza Cristina e Crô) fazem uma boa dobradinha quando juntos. Definitivamente, não é uma novela que passa despercebida. E quando se sente atacado, o autor dispara: “o que importa é audiência!”. Para ele e para a Globo.


A Vida da Gente (Globo): a novela mais angustiante da cidade! – como poderia ser interpretada uma resolução do Ministério da Justiça que reclassificou a trama. Este foi o ano das novelas das seis. Completamente diferente da trama anterior – Cordel Encantado -, mas, igualmente, trazendo ares de renovação à nossa teledramaturgia. A novela de Lícia Manzo conquistou fãs pela seriedade, delicadeza e bom gosto de seu texto. Aliados a isso, direção eficiente, fotografia bonita e ótimas interpretações de Fernanda Vasconcellos, Marjorie Estiano, Ana Beatriz Nogueira, Nicette Bruno, Gisele Fróes e Maria Eduarda, com personagens femininas fortes e marcantes. Aliás, esta é uma novela feminina. Os dramas bem que poderiam ser vividos por homens, mas a novela é escrita por uma mulher, para mulheres, sob uma ótica feminina – inclusive no que diz respeito aos personagens masculinos (não é um defeito, apenas uma observação que em nada diminui os louros da novela).

Aquele Beijo (Globo): narrada por um Miguel Falabella sempre inspirador, a sua novela é bonitinha, com um universo peculiar às suas tramas, repleto de personagens ricos e interessantes, alimentados por um texto sempre afiado e original. Mas falta um je ne sais quoi à novela, que a faça deslanchar. A trama principal – do quadrilátero Cláudia-Rubinho-Lucena-Vicente – é fraca para nortear a novela toda. Sabemos que tem uma vilã (Maruschka, de Marília Pêra), mas quem seria a mocinha e o herói? Sarita e Alberto (Sheron Menezes e Herson Capri)? Construir uma novela apenas com tramas soltas é um recurso já usado e que pode ser interessante. Mas em uma novela que pouco empolga, pode ser um problema.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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