No mesmo dia em que Fátima Bernardes recebeu
a imprensa para falar sobre o programa que vai comandar, batizado com o seu
nome, a Globo anunciou que Tiago Leifert será o apresentador de “The Voice
Brasil”, reality show destinado a revelar talentos musicais.
Eis um movimento que parece irreversível, o
da transformação de jornalistas da televisão em comandantes de programas de
entretenimento. Por mais que pareça natural, não é.
Um dos aspectos mais sensíveis desta mudança
diz respeito à proibição, na Globo, de jornalista ser garoto-propaganda ou
fazer merchandising. Por este motivo, noticiou a “Folha”, Fátima está trocando
de “patrão” dentro da emissora, deixando a Central Globo de Jornalismo para
integrar a Central Globo de Produção.
A proibição de jornalista fazer publicidade é
comum em diversas empresas. O garoto-propaganda é um ator, que fala bem de
produtos que eventualmente nem conhece, usa ou gosta. Vendo um jornalista
anunciar as qualidades de um produto de beleza, por exemplo, ou de um carro, o
espectador pode ser levado a acreditar nele como se estivesse ouvindo a leitura
de uma notícia.
Outro aspecto notável nesta mudança, que
Boninho percebeu ao levar Pedro Bial para o “BBB”, e que agora repete com
Leifert no “The Voice”, é a possibilidade lustrar uma bobagem do naipe de um
reality show com o prestígio do jornalista. E também de usufruir do desembaraço
de um profissional do mundo da notícia em situações que exigem jogo de cintura
e improviso.
Vale notar, ainda, que as fronteiras entre
jornalismo e entretenimento estão cada vez mais borradas, e não apenas na
televisão. Espanta cada vez menos ver um jornalista de renome mudar de rumo
desta forma. No caso de Leifert, alguém poderá dizer que nem é uma mundança já
que o seu “Globo Esporte” é quase um reality show.
Um movimento que ainda falta, ao menos na
Globo, é o da migração inversa. Por exemplo, Luciano Huck apresentar o “Jornal
Nacional” ou Xuxa ser repórter do “Esporte Espetacular”. Pode ser legal.
Fonte: Mauricio Stycer, do UOL
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