Em meu último texto, chamei a atenção para o
fato de Cheias de Charme, a novela das sete, ter perdido o gás com o passar dos
capítulos.
O mesmo se pode afirmar sobre Avenida Brasil?
Sim e não.
Avenida Brasil foi cativando o público aos
poucos e, numa escala ascendente, teve um ápice de repercussão – lá pelo
capítulo 100, quando Nina (Débora Falabella) revelou para Carminha (Adriana
Esteves) que era Rita e começou a chantageá-la com fotos. Só que esse gráfico
ascendente de popularidade tem caído muito desde então. Com uma semana de Nina
tripudiando Carminha, a “heroína” Nina (se é que podemos chamá-la assim) passou
a perder muitos seguidores. E a novela, como um todo, também.
Avenida Brasil, sempre com ganchos muito bons
em todos os capítulos, não teve “barriga” (aquele momento na trama em que nada
acontece). Mas padeceu de outro mal: a enrolação. Já se passaram 50 capítulos
desde que Nina começou a chantagear Carminha com as famigeradas fotos, e a
trama parece ter andado em círculos, com alguns entrechos nada coerentes.
Novela é uma obra longa e pode chegar um
momento em que todos ficam cansados, até o público. Não é fácil manter o
interesse durante tanto tempo, então, às vezes, a enrolação se faz até
necessária. Mas além de enrolar, a trama de João Emanuel Carneiro vem
subestimando seu público. E este é um pecado sem perdão para a fidelização de
audiência.
Cada novela segue uma linha, uma proposta,
que pode ser realista, naturalista, caricata, fantasiosa, etc. Cabe ao público
embarcar na história ou não. Não se exige 100% de realismo de uma novela, caso
contrário não seria folhetim, seria documentário, ou outro tipo de programa.
Mas um mínimo de verossimilhança se faz necessário em uma obra que tem a
pretensão de seguir uma linha realista de dramaturgia. E é aí que Avenida
Brasil tem falhado, ou, ao menos, extrapolado.
Os chamados furos no roteiro têm cansado o
telespectador mais entusiasta de Avenida Brasil. Nina entregou cópias das fotos
para amigos, para se proteger. Mas onde está o cartão de memória da câmera? E
por que não salvou as fotos em um pendrive? A trama dá a entender que esses
detalhes foram ignorados, por mais absurdo que isso possa parecer – afinal Nina
é uma garota moderna, usou Internet para se aproximar da família de Tufão
(Murilo Benício) no início da história. É inconcebível que esses detalhes não
tenham passado por sua cabeça. A não ser que esta venha a ser a sua salvação no
futuro – um entrecho para ser usado mais adiante.
É até compreensível que Débora e Begônia
(Nathalia Dill e Carol Abras) não tenham tido curiosidade de olhar o conteúdo
das fotos – afinal, se Begônia tivesse visto, teria reconhecido Max (Marcello
Novaes) e não cairia em seu golpe. No capítulo de terça (18/09), Nilo (José de
Abreu) roubou as cópias das fotos que estavam com Débora. Ela carregava em sua
bolsa um envelope que era para estar guardado a sete chaves? E quem sai do
banco carregando grandes quantias em dinheiro pede para ser roubado, não é
mesmo?
Detalhes assim não passam despercebidos pelo
telespectador, que se sente traído, feito de bobo, subestimado. Foram pelo
menos 40 capítulos em que situações para lá de forçadas e inverossímeis
afastaram parte do público que torcia pela novela. Avenida Brasil não perdeu
seu fôlego, continua com bons ganchos. Mas caiu na armadilha das soluções
fáceis e inverossímeis que não condizem com o excelente roteiro apresentado até
então. Resta aguardar para que o desfecho dessa história justifique tais
situações.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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