Crimes misteriosos, detetives, investigações,
enredos e personagens que provoquem medo e suspense. Estes eram os principais
ingredientes do gênero romance policial, surgido no século XIX e idealizado
pelo escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Aliás, outro lugar melhor para o
nascimento do estilo policial não existe. Os EUA são reconhecidos por duas
qualidades aparentemente opostas: a grande liberdade individual e a mão pesada
do sistema penal.
Ainda são lançados muitos livros com o padrão
criado por Allan Poe, mas uma outra mídia fez o formato se popularizar ainda
mais, por meio de séries e docudramas (mistura de relatos, imagens e
dramatizações de um crime real): a televisão.
E são os EUA os grandes exportadores de
programas policiais, de diferentes tipos. São séries, como a franquia
"CSI", "Criminal Minds", "Dexter" e
"Castle"; e Docudramas que são exibidos no Brasil em canais pagos,
como o Investigação Discovery e o A&E. O Brasil também produz programas
assim, como o extinto "Linha Direta" e o seriado "Força
Tarefa". Cada programa possui uma linha diferente. Alguns exploram o
drama, outros o suspense e, alguns, até a comédia. Entre os programas policiais
há também os que acompanham o dia a dia dos profissionais da segurança pública,
como o "Polícia 24 horas" da Band e o "Mulheres de Aço" do
GNT.
A maioria dos programas, em especial as
séries, explora o crime de homicídio, a mais grave quebra do contrato social.
Mas por que assistir a esses relatos de sofrimento, sejam eles ficcionais ou
não? Por que esses programas conquistam o público?
Targina Neris é telespectadora assídua dos
programas e já participou de júris. "O que me motivou a gostar desse tipo
de programa foi a minha experiência como jurada. O que gosto nestes programas
são os pequenos detalhes que fazem com que o crime seja desvendado e o que me
motiva é justamente cada passo dado para que tudo seja esclarecido",
afirma a professora de 49 anos.
Para a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora
do livro "Mentes Perigosas - O psicopata mora ao lado", o que atrai o
público é o tratamento dado, em especial pelos seriados, à investigação, sempre
baseada numa ideia de polícia científica que esclarece os crimes com base nas
provas e no conhecimento. "Esses programas, especialmente os
norte-americanos, trazem conhecimento sobre o comportamento humano,
principalmente aquele que até então sempre nos foi pouco compreensível. Para
quem não é psicopata é difícil imaginar, por exemplo, que alguém possa matar
para ver como é que é", completa a especialista.
Para o jurista Luiz Flávio Gomes, a sedução
dos programas policiais está na vingança. "Muita gente, para não dizer a
quase totalidade dos telespectadores, adora ver programas midiáticos policiais
(às vezes policialescos) ou violentos não para ver sangue, não para, no final,
se sentir aliviado porque toda aquela desgraça não aconteceu com ele. Não é
nada disso ou não é somente isso. Por quê, então? Para ver se, no final, o
culpado vai ser devidamente punido e qual vai ser o castigo. Por quê? Porque o
homem animal tem que gravar na sua memória o castigo para aprender a não fazer
o errado, para não danificar terceiros. O castigo funciona como instrumento de
'domesticação' da besta humana". Segundo ele, a narrativa policial reforça
que uma penalidade tem que ser aplicada da forma mais dura possível e que a
eficiência de um sistema penal está em sua rigidez.
É o que também pensa o especialista em
estudos de criminalidade, Robson Sávio. "A questão que subjaz esses
programas reforça a ideia segundo a qual um estado penal eficiente controla e
diminui os crimes - o que não é uma verdade absoluta, pois o controle do crime
demanda outras variáveis. Também podem passar a ideia do recrudescimento da
legislação penal como lenitivo para a violência. O que também não se sustenta
cientificamente. Não é legislação dura que controla o crime, e sim uma
combinação entre eficiência do Estado na prevenção e repressão qualificada do
crime."
E será que esses programas revelam demais
sobre o trabalho da polícia e da justiça?
Para o delegado da Polícia Civil do Rio de
Janeiro, Pedro Paulo Pinho, na maior parte das vezes, as formas de trabalho
mostradas nos programas, principalmente nas séries, divergem muito do cotidiano
da polícia. "Na vida real é muito diferente. Em primeiro lugar, porque a
ciência forense de Hollywood não é uma realidade sequer para a Polícia
estadunidense, e em segundo lugar, porque o detetive da vida real, não é aquele
personagem dedicado 24 horas à investigação, pois ele tem uma vida
absolutamente normal." Por essa diferença, esses programas pouco contribuem
para uma aprendizagem de como escapar da polícia, esconder evidências, etc.
E eles incentivam a prática do crime?
"Eu não acredito que a TV ou os filmes
violentos aumentam a violência. Eu acho que o fator desencadeante para
personalidades doentias pode ser qualquer coisa", defende a psiquiatra Ana
Beatriz. É o que também pensa o delegado Pinho: "não creio que programas
policiais possam influenciar pessoas a cometerem crimes, mas as técnicas dos
criminosos mostradas podem acabar sendo úteis para aqueles que já têm a índole
criminosa."
Fonte: Yahoo
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