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sexta-feira, 18 de março de 2016

Globo apresenta a proposta de “Velho Chico”


A emissora convidou jornalistas, pesquisadores, estudantes, professores e profissionais de televisão para um “Encontro no Galpão". O evento foi uma espécie de coletiva de imprensa, sem o ser exatamente. Não foi uma apresentação de “Velho Chico" e seu elenco. Não houve a exibição do tradicional vídeo que apresenta a novela à imprensa. Tampouco a imprensa em massa estava lá. Mas o foco, claro, era falar de “Velho Chico“, abrindo uma discussão mais aprofundada sobre a obra.

“Vocês estão pisando em um solo sagrado!'' Assim falou o ator Rodrigo Lombardi aos jornalistas, pesquisadores, estudantes, professores e profissionais de televisão no “Encontro no Galpão'' [do diretor Luiz Fernando Carvalho, no caso], evento que vem no rastro do lançamento da próxima novela das nove, “Velho Chico“, da dupla Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho. Assim também pensei eu quando me deparei com uma espécie de tatame, cheio de tapetes e almofadas, que somente poderia ser pisado descalço ou com pantufas. O espaço – de fato, um grande galpão – é onde o diretor imerge seus pupilos (atores, cenógrafos, figurinistas, técnicos, diretores, caracterizadores, roteiristas, etc) na criação e elaboração de seus projetos.

O evento – promovido na última sexta-feira (26), no Projac, pela área de Comunicação da TV Globo – foi uma espécie de coletiva de imprensa, sem o ser exatamente, ou oficialmente (a coletiva de fato ainda acontecerá). Não foi propriamente uma apresentação de “Velho Chico'' e seu elenco. Não houve a exibição do tradicional vídeo que apresenta a novela à imprensa. Tampouco a imprensa em massa estava lá – apenas alguns jornalistas convidados. Mas o foco, claro, era falar de “Velho Chico“, abrindo uma discussão mais aprofundada sobre a obra. Como bem lembrou a Professora Veneza V. Mayora Ronsini (da Universidade Federal de Santa Maria), já ao final do bate-papo, ali não se ouviu falar do segredo de beleza de tal atriz, de cobranças por números de audiência ou expectativas nas redes sociais (temas que portais de internet adoram).

Ao ouvir a palavra “audiência'', Luiz Fernando Carvalho foi categórico:
“Eu não posso chegar para o ator e falar ´Gravando! Pensa na audiência!' Ou falar para a costureira do figurino 'Passa essa linha desse jeito, mas pensa na audiência!'''

O bate-papo discorreu sobre a proposta estética da novela, a elaboração dos figurinos, as dificuldades nas gravações no sertão, a procura pelas locações, cenários, prédios, os tipos humanos locais que contribuíram com suas experiências, as relações do elenco, seus aprendizados, a urgência do projeto, o texto dos roteiristas. O encontro informal contou com parte do elenco, muito à vontade, alguns descalços, outros deitados. Luiz Fernando Carvalho nem estava na berlinda, pelo contrário, ficou lá atrás.

Entre os pontos altos, “causos'' sobre as locações no sertão e curiosidades sobre os figurinos. A novela, em três épocas distintas, segue a estrutura da uma saga. Começa no sertão nordestino nos anos 1960. A proposta inicial é operística (como se percebe nas chamadas no ar), mas sem soltar os pés da realidade. A arrogante e orgulhosa personagem de Selma Egrei, por exemplo, usa vestidos dos século 19 em ocasiões especiais para ostentar o poder que acha que tem, como forma de reafirmar um coronelismo arcaico, típico da região. A luta por terras, a rivalidade entre famílias e o amor rasgado (filial, carnal, etc) permeiam a primeira parte da história. A última fase mostrará o Brasil atual e o quanto essa herança do passado ainda influencia a vida dos personagens e do rio São Francisco. E influencia o povo brasileiro. O texto de Benedito não deixará de refletir os problemas atuais da nação, como o autor sempre fez. O folhetim rasgado será o seu espelho da realidade. “O Velho Chico (o rio) está morrendo, mas o amor não morre!“, disse o diretor.

“Esta não é uma novela rural. É uma novela brasileira“, assim Luiz Fernando Carvalho enquadrou “Velho Chico“.

A promessa maior da produção – e seu diferencial – é o alívio temático e de ambientação no horário das nove. A última novela da faixa não ambientada no eixo Rio-São Paulo foi “Porto dos Milagres“, em 2001. Em 2003, a Globo levou ao ar “Esperança'' – também da dupla Benedito-Luiz Fernando – que se passava em São Paulo e no interior do estado, mas na década de 1930. Há treze anos o público só vê tramas urbanas no horário, cariocas ou paulistas. As últimas, focadas em favelas, com ênfase em mau-caratismo e degradação dos valores morais. “Velho Chico'' promete esse alívio (por isso a novela urbana de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, primeiramente pensada para ocupar a faixa, foi adiada). Lógico que haverá o bom e o mau na trama de Benedito Ruy Barbosa. Sem esses elementos, não há folhetim. “Velho Chico'' promete um “folhetim de raiz''.

Outro alívio percebido é o de rostos. O elenco é formado por alguns dos habituais medalhões da casa e por alguns nomes que vemos todos os anos em novelas. Mas em número menor se comparado às produções anteriores. Muitos atores não são familiares ao grande público, por serem novatos ou por serem conhecidos apenas no âmbito regional. Um desses nomes é a veterana Zezita Matos, a “primeira dama do teatro paraibano'', como foi lembrado no evento. Foi de Zezita o depoimento mais bonito deste encontro. As palavras da atriz emocionaram e contagiaram o resto do elenco. Fabíula Nascimento, em lágrimas, prosseguiu com palavras tocantes.

O Encontro no Galpão foi uma iniciativa interessante da Globo, proveitosa. Melhor que qualquer coletiva de imprensa.

Fonte: UOL

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