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terça-feira, 12 de julho de 2016

"Plantão" da Globo chega aos 25 anos


"Lá vem tragédia". Esta é uma das reações do público ao ouvir o famoso plantão da Globo. A vinheta, associada a notícias ruins, como acidentes e mortes, interrompe a programação da emissora e está sendo executada como nunca durante a crise política, do impeachment da presidente Dilma Rousseff ao avanço da cassação do deputado Eduardo Cunha.

"Eu acho ótimo", comemora João Nabuco, criador da vinheta do plantão da Globo, ao UOL. "Esse negócio do Cunha foi uma notícia histórica, estávamos esperando há muito tempo esse cara dançar. 'Po-po-ro-po-po'... caiu o Cunha. E isso não é notícia ruim, é notícia boa", brinca.

O músico de 50 anos não se incomoda com a fama "negativa" de sua música, tocada em acontecimentos ruins: "Na verdade, não é uma questão da vinheta. As pessoas acham que notícia ruim é mais urgente do que notícia boa. Se uma pessoa morre, é urgente. Se alguém nasce, pode esperar até 20h30 para ver no 'Jornal Nacional'", analisa.

Assustadora ou não, a trilha caiu nas graças do público, que leva "Plantão da Globo" aos assuntos mais comentados nas redes sociais sempre que aparece de repente na TV. Até William Bonner já brincou com a vinheta no Twitter.


25 anos no ar - A Globo interrompe a programação para noticiar tragédias desde sua inauguração, porém a música estreou somente em agosto de 1991, com William Bonner noticiando a crise na União Soviética. Há quase 25 anos no ar, a vinheta, criada por Hans Donner, foi atualizada até chegar à versão mais recente, sempre com a trilha criada por Nabuco.

O produtor musical relembra que tinha acabado de se formar em música para cinema e televisão na conceituada faculdade de Berklee, em Boston (EUA), quando retornou ao Brasil e tentou uma vaga de maestro arranjador na Globo. Recém-contratado, participou de um concurso para escolher a vinheta do plantão do jornalismo da emissora e venceu.

"Foi totalmente criada por mim, toquei todos os instrumentos. Pensei nas trombetas, a partir daí criei no piano com a minha linguagem. Não imaginava que fosse ficar no ar esse tempo todo", diz Nabuco, surpreso. "Confesso até que acho a gravação ruim, poderia fazer muito melhor hoje em dia, mas gosto do jeito que é. Faz parte da característica dela", admite.

Plantão vende pamonha e vira funk - Nabuco aprova a zoeira na internet e conta que ouviu até "plantão funk": "É utilizada em carro da pamonha, já vi tocar em festas em Goiás, tem gente que coloca como toque de celular só quando a 'patroa' liga. A glória do músico é quando o público acha que sua obra é domínio público, porque parece que sua obra sempre esteve ali. No meu ponto de vista, é um grande elogio".

Por causa do sucesso, a trilha já foi usada por marcas sem autorização de Nabuco, que registrou a música no Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) e condena o uso indevido para fins lucrativos. "Acho interessante quando não está faturando em cima da obra de outro", adverte.

Após dois anos na Globo, Nabuco passou a criar trilhas sonoras de filmes e documentários, como a sequência "Pequeno Dicionário Amoroso" (1996 e 2016), de Sandra Werneck, e "Ônibus 174" (2002), de José Padilha. Também produziu o álbum "Negalora: Íntimo" (2011), de Claudia Leitte, e trabalhou no programa de Maria Bethânia no canal pago Arte 1.

Uma de suas músicas foi escolhida pela Fifa para o game da Copa do Mundo para Playstation, em 2014. "É engraçado que fiz para as manifestações de junho de 2013 e, embora o pessoal do game não tenha percebido, porque são americanos, a música fala de corrupção e estava rolando muita corrupção na Fifa", ironiza.

Fonte: UOL

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