Primeiro autor de novelas da Globo a acreditar no projeto de teledramaturgia que a Record lançou em 2004, Marcílio Moraes está deixando a rede de Edir Macedo após quase 15 anos de casa, cinco deles numa geladeira glacial. Seu contrato vence no próximo dia 31 e não será renovado.
"Não fui procurado pela direção da emissora para conversar sobre isso e, devo dizer, também não os procurei com este fim", confessa Marcílio, 75 anos, que assinou obras como Sonho Meu (1993), na Globo, e Essas Mulheres (2005) e Vidas Opostas (2007), na Record.
O desinteresse se explica. Seu último trabalho televisionado foi a minissérie Plano Alto, no fim de 2014. "Os primeiros nove anos na Record foram excelentes. Tive oportunidade e liberdade para escrever novelas e séries de sucesso e relevantes para a dramaturgia televisiva. Os últimos cinco anos foram frustrantes para mim. Nada emplaquei, a não ser reprises", resume.
É um fim melancólico para algo que começou muito bem. Essas Mulheres, primeira novela de Moraes na Record, ganhou elogios da crítica. Vidas Opostas fez ainda mais: ganhou o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e quebrou o monopólio da Globo no Troféu Imprensa com o primeiro retrato realista de uma favela na teledramaturgia.
No Ibope, Vidas Opostas realizou uma profecia que Moraes fizera cinco anos antes, quando foi dispensado pela Globo: "Agora estou no mercado. Sei fazer novelas e, se algum concorrente me der recursos, sei como bater a Globo", disse à Folha de S.Paulo em agosto de 2002.
O último capítulo da novela, de fato, bateu a Globo durante 40 minutos e teve média de 25 pontos na Grande São Paulo, o que só seria superado pelo episódio da travessia do Mar Vermelho em Os Dez Mandamentos, em novembro de 2015.
Briga com a Bíblia - Foi a radicalização do projeto bíblico da Record que colocou Moraes no freezer. Ela apresentou projetos de uma minissérie sobre Martinho Lutero [1483-1546] e de novelas para a faixa atualmente ocupada por Topíssima. Sem disposição para fazer tramas bíblicas, foi encostado. "A orientação lá hoje é diferente. Acho que, como só faço os meus projetos e não o dos outros, bato de frente com o que a emissora deseja", disse ao Notícias da TV há um ano e meio.
Apesar de tudo, Moraes deixa a Record de cabeça erguida. "Ninguém defendeu mais a dramaturgia da Record do que eu, não apenas com a minha obra mas também como presidente da Associação dos Roteiristas e como autor militante. Inúmeras entrevistas, declarações e posicionamentos. Acreditava que a emissora poderia ser a grande alternativa para o audiovisual brasileiro. Mas é como você diz na sua pergunta: foi bom enquanto durou. Fazer o quê?", desabafa.
Como em 2002, quando saiu da Globo, Moraes está de novo à disposição do mercado, o que inclui a própria Globo.
"Meu plano para o futuro é continuar a escrever. Tenho inúmeros projetos para a televisão, certamente os melhores da minha vida, pela experiência que adquiri. Sou um cara antenado com o mundo, nenhuma defasagem com a atualidade. Agora, se ninguém quiser produzir as minhas ideias, tudo bem. Vou me dedicar exclusivamente à literatura, que é meu projeto original e que me dá enorme prazer. Estou escrevendo um novo romance, que espero lançar no ano que vem."
Fonte: Na Telinha
Nenhum comentário:
Postar um comentário