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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Que seria de Jô se não fosse Thammy


Desde que colocou uma peruca, um vestido e voltou a exibir um ar bem feminino em “Salve Jorge”, Thammy Miranda (ou Thammy Gretchen, como queiram) virou a sensação do momento. Claro que também contribuiu um requebrado, ainda que um tanto tímido, ao som de “Conga, Conga, Conga”, hit que tornou a mãe – Gretchen – a eterna rainha do rebolado.

Todo o burburinho em torno de Thammy se deve muito mais pela história dela fora das telas do que por Jô (foi por causa da personagem, aliás, que ocorreu a “transformação”). Ainda que a vida pessoal seja a grande razão para tanto oba-oba, a performance da moça no palco foi um momento curioso – e por que não emblemático – da novela de Glória Perez.

Da mudança de visual até a homenagem à Gretchen, foi tudo uma bela sacada. E tudo bem defendido por Thammy, que vale lembrar não é atriz. É daquelas que tinha em mãos um papel pequeno, mas que – diante de tantos esquecidos – acabou se sobressaindo (também pelo fato de estar num núcleo de destaque, o da delegada Helô, brilhantemente vivida por Giovanna Antonelli, como já comentei aqui).

Para quem, assim como eu, ainda não havia entendido a função dela na história e o impacto que essa participação causaria (Glória prometeu esse barulho antes de “Salve Jorge” estrear), está aí o resultado. No ar o grande momento de Jô, agora com codinome Lohana (uma falsa dançarina de boates, que tem a missão de ajudar a desarmar o esquema do tráfico de pessoas para exploração sexual). Thammy que é Jô, que agora é Lohana. E ambas são Thammy.

Logo que surgiu a notícia que a “filha da Gretchen” estaria na trama, muita gente torceu o nariz. Como uma ex-atriz pornô (Thammy, inclusive, admitiu que esse é seu grande arrependimento), figurinha fácil em programas como “Superpop”, de Luciana Gimenez, poderia estar na novela mais nobre da Rede Globo? Como alguém famoso por expor sua vida pessoal e suas peripécias sexuais?

Pois ela chegou lá e com status de “atriz global” deu um “cala boca” em muita gente. E vou além: “um tapa na cara da sociedade preconceituosa”, que julga antes de se informar, que generaliza. Mérito de Glória Perez, que teve coragem de bancar a presença dela no elenco, assim como bancou Nanda Costa (Morena) como protagonista. Até que demorou demais para a autora usar esse trunfo, esse marketing. Em meio à tantas críticas que a novela recebe, é preciso também dar a mão à palmatória em determinados casos.

Conheci Thammy, nos corredores da RedeTV!, em 2002. Apesar dos cabelos compridos e do corpo cheio de curvas, quem convivia com ela já sabia de sua condição sexual (ninguém opta por nada, pelo mais difícil, por sofrer preconceito, ser discriminado; as pessoas são o que são e cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é). Na época, ela dançava com a mãe e deixava muito marmanjo babando - posou nua, inclusive.

Mas Thammy optou (aí sim), em sua vida pessoal, pelo lado mais Jô. Adotou um estilo masculino (talvez até por viver uma crise de identidade, não ter uma cabeça tão feminina quanto sua imagem fazia transparecer; sabemos que há lésbicas extremamente delicadas e femininas também).

No entanto, é a mesma Thammy, que nunca deixou de ser mulher pelo fato de ser lésbica (apenas sente atração, afetiva e sexual, por pessoas do mesmo sexo). Não tem essa de “voltou a ser mulher”, “deixou de ser homenzinho”, como muitos andaram dizendo. Há quem não goste da imagem masculinizada, a prefere mais feminina. Só que a vida é dela e respeito é sempre bom.

Thammy em cena hoje é também uma contribuição social - e muitos passaram a enxergá-la com outros olhos. Caráter e competência estão acima da sexualidade, vão além de credo, raça ou orientação sexual. Ela é Jô, mas repito: também é Lohana, na vida e na arte. E caso queira se especializar de fato no ramo da interpretação terá de ser ainda muitas outras. E por que não outros?

Tomara que não fique estereotipada. Que também encontre espaço e outras oportunidades...

Fonte: Yahoo

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