Desde que colocou uma peruca, um vestido e
voltou a exibir um ar bem feminino em “Salve Jorge”, Thammy Miranda (ou Thammy
Gretchen, como queiram) virou a sensação do momento. Claro que também
contribuiu um requebrado, ainda que um tanto tímido, ao som de “Conga, Conga,
Conga”, hit que tornou a mãe – Gretchen – a eterna rainha do rebolado.
Todo o burburinho em torno de Thammy se deve
muito mais pela história dela fora das telas do que por Jô (foi por causa da
personagem, aliás, que ocorreu a “transformação”). Ainda que a vida pessoal
seja a grande razão para tanto oba-oba, a performance da moça no palco foi um
momento curioso – e por que não emblemático – da novela de Glória Perez.
Da mudança de visual até a homenagem à
Gretchen, foi tudo uma bela sacada. E tudo bem defendido por Thammy, que vale
lembrar não é atriz. É daquelas que tinha em mãos um papel pequeno, mas que –
diante de tantos esquecidos – acabou se sobressaindo (também pelo fato de estar
num núcleo de destaque, o da delegada Helô, brilhantemente vivida por Giovanna
Antonelli, como já comentei aqui).
Para quem, assim como eu, ainda não havia
entendido a função dela na história e o impacto que essa participação causaria
(Glória prometeu esse barulho antes de “Salve Jorge” estrear), está aí o
resultado. No ar o grande momento de Jô, agora com codinome Lohana (uma falsa
dançarina de boates, que tem a missão de ajudar a desarmar o esquema do tráfico
de pessoas para exploração sexual). Thammy que é Jô, que agora é Lohana. E
ambas são Thammy.
Logo que surgiu a notícia que a “filha da
Gretchen” estaria na trama, muita gente torceu o nariz. Como uma ex-atriz pornô
(Thammy, inclusive, admitiu que esse é seu grande arrependimento), figurinha
fácil em programas como “Superpop”, de Luciana Gimenez, poderia estar na novela
mais nobre da Rede Globo? Como alguém famoso por expor sua vida pessoal e suas
peripécias sexuais?
Pois ela chegou lá e com status de “atriz
global” deu um “cala boca” em muita gente. E vou além: “um tapa na cara da
sociedade preconceituosa”, que julga antes de se informar, que generaliza.
Mérito de Glória Perez, que teve coragem de bancar a presença dela no elenco,
assim como bancou Nanda Costa (Morena) como protagonista. Até que demorou
demais para a autora usar esse trunfo, esse marketing. Em meio à tantas
críticas que a novela recebe, é preciso também dar a mão à palmatória em
determinados casos.
Conheci Thammy, nos corredores da RedeTV!, em
2002. Apesar dos cabelos compridos e do corpo cheio de curvas, quem convivia
com ela já sabia de sua condição sexual (ninguém opta por nada, pelo mais
difícil, por sofrer preconceito, ser discriminado; as pessoas são o que são e
cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é). Na época, ela dançava com a mãe
e deixava muito marmanjo babando - posou nua, inclusive.
Mas Thammy optou (aí sim), em sua vida
pessoal, pelo lado mais Jô. Adotou um estilo masculino (talvez até por viver
uma crise de identidade, não ter uma cabeça tão feminina quanto sua imagem
fazia transparecer; sabemos que há lésbicas extremamente delicadas e femininas
também).
No entanto, é a mesma Thammy, que nunca
deixou de ser mulher pelo fato de ser lésbica (apenas sente atração, afetiva e
sexual, por pessoas do mesmo sexo). Não tem essa de “voltou a ser mulher”,
“deixou de ser homenzinho”, como muitos andaram dizendo. Há quem não goste da
imagem masculinizada, a prefere mais feminina. Só que a vida é dela e respeito
é sempre bom.
Thammy em cena hoje é também uma contribuição
social - e muitos passaram a enxergá-la com outros olhos. Caráter e competência
estão acima da sexualidade, vão além de credo, raça ou orientação sexual. Ela é
Jô, mas repito: também é Lohana, na vida e na arte. E caso queira se
especializar de fato no ramo da interpretação terá de ser ainda muitas outras. E
por que não outros?
Tomara que não fique estereotipada. Que
também encontre espaço e outras oportunidades...
Fonte: Yahoo
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