Ele nasceu no boêmio bairro da Lapa, começou a vida como camelô e hoje, aos 80 anos de idade, é reconhecido como um dos maiores empresários do Brasil. Dono de um sorriso indefectível, Silvio Santos marcará, com toda a certeza, não somente a história do SBT, mas também da televisão e da comunicação brasileira. Um homem que, segundo a própria definição, é regido pela razão, pela emoção e pela consciência. Um personagem que desafia o tempo e que se mostra forte mesmo nas adversidades.
O rei dos domingos enfrenta um dos seus maiores desafios: administrar uma crise financeira de mais de R$ 2,5 bilhões, fruto de um rombo ocorrido no Banco PanAmericano, pertencente ao Grupo Silvio Santos. Um prejuízo que deflagrou a necessidade de um empréstimo junto ao Fundo Garantidor de Crédito e que colocou como garantia de pagamento o SBT, o Baú da Felicidade e outras empresas. No princípio, para os mais desavisados, até parecia uma pegadinha, afinal, o apresentador sempre emprestou uma imagem de solidez aos seus negócios. Mas, infelizmente, era verdade. O império de Silvio Santos pode estar ameaçado, mas o “Patrão” não perde o rebolado e dá um belo exemplo de perseverança.
Por mais lúcido que possa parecer, todavia, Silvio Santos, assim como qualquer indivíduo da sua idade, tem limitações físicas e emocionais. O fascínio que o empresário exerce, contudo, nos faz esquecer que, ali no palco, junto às colegas de trabalho, tem um homem octogenário.
A vitalidade de Silvio Santos é, de fato, impressionante, assim como o seu poder de virar notícia. Tudo isso preservando ao máximo a sua vida pessoal. Questionado pela revista Veja, em 2000, sobre a sua aposentadoria – e provável ausência nos negócios do Grupo, o apresentador foi taxativo: “Os executivos dizem que se eu parar o SBT regride, o Baú não vende. É tudo mentira. Os executivos falam isso porque eles ganham bônus e acham que as coisas são mais fáceis com o Silvio Santos lá, porque o Silvio Santos é um bom vendedor etc. Mas eu acho que o SBT não pode depender mais do Silvio Santos. A Globo não é sinônimo de Tarcísio Meira, Regina Duarte, Xuxa, Faustão. Da mesma forma, o SBT não tem de ser sinônimo de Silvio Santos, Hebe Camargo, Gugu ou Jackeline. O SBT tem de ser uma linha de produção. Se o artista convier ao SBT, ótimo. Se não, troca-se e não acontece nada com a emissora.”
Ano passado, um site especializado em celebridades divulgou, em 22 de maio, a morte de Silvio Santos. Segundo a notícia, o empresário teve fortes dores no peito durante a gravação do quadro Fale com a Maísa. “Levado para o Hospital Albert Einstein, ele faleceu”, afirma o texto. A nota, contudo, era falsa. O motivo: invasão hacker no servidor do site.
Boatos envolvendo a vida do patrão, entretanto, não são recentes e nem exclusivos do ambiente virtual. Há algumas décadas, circulava no Brasil uma publicação sensacionalista com a manchete de que Silvio Santos estaria careca. Outro episódio, ainda mais fatídico, foi a controversa entrevista concedida à Revista Contigo, que estampava, na capa, que o apresentador estava doente, com mais seis anos de vida, e que o SBT havia sido vendido para a Televisa e para o Boni.
A princípio, a própria revista suspeitou que Silvio Santos estava fazendo graça. Amparada judicialmente e com a entrevista gravada, a publicação inseriu as declarações do dono do SBT ipsis litteris. A “pegadinha” teve a magnitude de uma bomba atômica e comprovou a podridão e a irresponsabilidade das “mídias das fofocas”. O site Cocadaboa, dias depois, afirmou ter inventado a história. Disse, ainda, ter arranjado uma pessoa com a voz similar à de Silvio Santos e ludibriado a revista Contigo. Outra sandice. Era mais um boato revertendo outro boato.
Tarde demais. A semente da discórdia estava plantada e a árvore da desinformação em plena reprodução. A cada minuto surgia uma versão nova, um desmentido, uma confirmação. “O ‘monstro’ saiu de nosso controle e assumiu vida própria. O falatório assumiu várias formas e acabou ficando irreconhecível até para nós”, afirmaram os editores do Cocadaboa, em matéria publicada no site. “Toda a ‘mídia parasita’ ajudou. Criamos o assunto descartável para entreter as vidas vazias dos coitados que passam a tarde inteira assistindo televisão”.
Nos últimos meses, eclodiram boatos que o SBT seria vendido. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o apresentador - ainda que de forma irônica - mandou um recado: quem estiver disposto a pagar os 2,5 bilhões de reais que ele deve poderá ficar com o SBT.
Famoso por suas galhofas e por tentar confundir os jornalistas durante as entrevistas, Silvio, ao ser questionado a respeito da possibilidade do SBT ser arrematado pelo empresário Eike Batista, argumentou: “Se ele me pagar bem, por que não?” Logo em seguida, ele completa “quem é? ‘Elque’?”. Ao ser informado de que se tratava do homem mais rico do Brasil, Silvio perguntou se o empresário é americano e, então, afirmou que não o conhece.
Um fato é certo. Falar de Silvio Santos vende, gera notícias e boatos. E o mais cômico é que, por trás disso, tem um empresário fanfarrão, que alimenta muitas hipóteses e faz questão de estar da boca do povo. Muito mais do que uma celebridade, o Homem do Baú é um ícone. Um negociante que alimenta o seu público com sonhos e que oferece a possibilidade de ser feliz e de ter acesso a bens simbólicos, sejam eles uma casa, um automóvel ou mesmo um milhão de reais. Esse é Silvio Santos, um vendedor de ilusões que consegue enxergar sua vida a longo prazo, mesmo com 80 anos de idade.
Autor: João Claudio Lins
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