João Emanuel Carneiro já afirmou que sua
inspiração para os personagens e tramas de Avenida Brasil vem da literatura. Na
novela existem referências a Dostoievski, Charles Dickens e Alexandre Dumas,
entre outros escritores. A literatura também está presente de uma forma mais
explícita: através dos livros que Nina (Debora Falabella) dá para Tufão (Murilo
Benício) ler, a fim de que ele abra sua cabeça e desperte para as coisas que
acontecem ao seu redor. O ex-craque já leu de Kafka e Flaubert a Brás Cubas,
Eça de Queiroz e Machado de Assis. Essa semana, duas tramas que ganharam
destaque apontam uma nova fonte de inspiração: Nelson Rodrigues.
Leleco – brilhantemente interpretado por
Marcos Caruso – é o tiozão boa-praça que namora a jovem e bela Tessália (Débora
Nascimento), mas que morre de ciúmes da moça – o que denota sua insegurança por
ser bem mais velho que ela e não estar à altura para concorrer com os rapagões
do Divino. Agora Leleco inventou de contratar o galalau Darkson (José Loreto)
para dar em cima de sua mulher e colocar a fidelidade dela à prova. Leleco não
tem pudor algum em externar a sua fragilidade em relação a Tessália e, por
conta de sua loucura, não mede as consequências ao empurrar a namorada para a
cova dos leões. Pelo seu comportamento, podemos afirmar que Leleco é, por
excelência, um personagem nelsonrodrigueano.
Diógenes (Otávio Augusto) criou sozinho o
único filho, Roni (Daniel Rocha Azevedo), depois que a mãe dele – Soninha
Catatau (Paula Burlamaqui), uma atriz pornô – sumiu pela vida. O pai sempre
escondeu do garoto a identidade da mãe. Agora Soninha resolveu aparecer,
arrependida, dizendo que largou a vida mundana, tornou-se religiosa e até
trocou de nome – passou a se chamar Dolores. Ela quer uma aproximação com seu
filho, no que Diógenes é absolutamente contra. Mas um fato vem aumentar esse
imbróglio: Roni é gay e nem mesmo o pai sabe disso. Bem, pelo menos o público
acha que Diógenes não sabe… Será que não mora aí a real razão do pavor de
Diógenes pela aproximação de Soninha e Roni? Nelson Rodrigues se sentiria
homenageado.
Poderíamos concluir que várias outras tramas
da novela lembram histórias ou personagens de Nelson Rodrigues, como a
messalina Suelen (Ísis Valverde), o malandro Silas (Ailton Graça), que se finge
de doente para sensibilizar a namorada, ou Cadinho (Alexandre Borges) e suas
três mulheres. A própria família de Tufão é tipicamente nelsonrodrigueana –
todos convivem numa mesma casa, se amando e se aturando, com segredos e traições.
Aliás, assim como o ex-craque, Nelson Rodrigues também era um apaixonado por
futebol. Só falta Nina dar alguma história do Anjo Pornográfico para Tufão ler
e, finalmente, ele cair em si e entender a vida como ela é.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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