A noite é de festa nos estúdios da Telemundo,
ascendente rede de TV americana em língua espanhola. Um tapete vermelho foi
estendido no corredor, onde o elenco da novela “Marido en alquiler” e
executivos aguardam, entre vinhos e canapés, a exibição do primeiro capítulo da
produção — um remake de “Fina estampa”, que estreou na Globo em 2011 — num
telão montado ao lado do cenário da casa para onde Griselda, a personagem
principal, eventualmente se mudará.
Quem se acomoda a tempo de pegar o finzinho
do capítulo de “Dama y obrero”, a novela que antecede o horário nobre da
emissora, logo entende o frisson em torno de “Marido en alquiler” (“Marido de
aluguel”, diga-se, era o título original da trama de Aguinaldo Silva). Após um
trimestre glorioso, no qual duas novelas tiveram média de mais de um milhão de
espectadores, a Telemundo substitui “La patrona”, que terminara na véspera, 9
de julho, em grande estilo. E o salto — de investimento, de qualidade — aparece
desde a primeira cena, transportada do Jardim Oceânico, na Barra carioca, para
Hollywood Beach, em Miami. Novelas hispânicas, como se sabe, não costumam ser
gravadas em externas. Nas cenas de estúdio, cenários e iluminação chamam a
atenção. Assim como Griselda, personagem que no Brasil foi de Lilia Cabral e
agora é defendida pela estrela venezuelana-americana Sonya Smith, de 42 anos,
loura e de olhos azuis, que aparece de rosto lavado. Novelas hispânicas, como
também se sabe, costumam abusar da maquiagem.
— Esta é a novela mais pré-produzida e
produzida da história da Telemundo. E isso tem que ser uma norma daqui para
frente — diz ao microfone o presidente do canal, Emilio Romano, propondo um
brinde logo após a estreia, enquanto garçons oferecem uma rodada de champanhe.
O trabalho começou há um ano. O comando da
Telemundo esteve no Projac com integrantes da equipe, composta de 150 pessoas.
Técnicos da versão brasileira passaram uma temporada em Miami supervisionando a
produção. A trama foi enxugada — de 180 para 130 capítulos, de 70 para 34
personagens — e sofreu adaptações para se adequar ao público-alvo. Alguns
personagens foram rebatizados: René Velmont, vivido por Dalton Vigh na primeira
versão, aqui se chama Reinaldo Ibarra, interpretado pelo ator argentino Juan
Soler, que era um dos maiores galãs da Univision, o canal concorrente, e faz
sua primeira novela como contratado da Telemundo. E o mordomo Crô, fiel
escudeiro da vilã Tereza Cristina, agora é Ro (leia mais na próxima página).
— Essa produção é realmente um avanço. Parece
mesmo uma novela brasileira — diz o diretor da atração, Claudio Callao,
brasileiro que trabalhou por 15 anos na Venezuela, depois de passar por
Portugal e Espanha, e hoje mora em Miami. — É, pela primeira vez, uma novela
absolutamente real. Uma novela que se parece com a vida.
O primeiro remake internacional de uma novela
da Globo foi produzido justamente pela Telemundo: “El clon” (“O clone”), que
estreou em 2010, foi gravado na Colômbia. Desde então, já ganharam versões de
“Louco amor” (na TV Asteca, do México), “Laços de sangue” (executada pela SIC
com texto até então inédito, apresentado à Globo pela própria emissora
portuguesa, e que acabou ganhando um Emmy) e “Dancin' days” (também na SIC,
atualmente em cartaz em Portugal). Novas empreitadas já estão em negociação,
com a Telemundo inclusive.
— Estamos num momento em que a qualidade dos
nossos produtos só pode subir. “Marido en alquiler” é um divisor de águas.
Cenários, iluminação, atuações, edição de música, a coisa toda. Posso dizer que
foi um investimento bem maior do que o normal. Trabalhamos com o dobro de
atores que costumamos usar nas novelas — diz Joshua Mintz, vice-presidente
executivo da área dramática e gerente-geral dos estúdios Telemundo, na tarde
seguinte à estreia.
De um monitor em sua sala vê-se a gravação da
novela ao vivo no estúdio: tem um homem morto ao pé da escada e Tereza Cristina
(a colombiana Maritza Rodríguez, que aliás é casada com Mintz, no papel que foi
de Christiane Torloni) grita ao telefone. Vamos até lá. A profundidade do
cenário, que permite uma mobilidade até então rara nas novelas em espanhol, é
uma novidade. Outra: tudo — o chão de mármore, por exemplo — é de verdade.
Nunca tinha sido assim.
— Foi muito importante para nós termos
trabalhado ombro a ombro com a Globo — diz Aurelio Valcárel Carroll,
vice-presidente executivo de produção dos estúdios Telemundo, ressaltando que
os workshops no Rio e a presença de técnicos brasileiros (a produtora de arte
Maria Rita Pancada, o diretor de fotografia José Tadeu Ribeiro e o cenógrafo
Mauricio Rohlfs) em Miami foi fundamental: — Conhecemos a origem e o final da
novela, os problemas que viraram fortalezas. Aprendemos a construir os cenários
e a iluminar para dar veracidade. Creio que é um novo padrão para as novelas
hispânicas. É uma nova proposta e é o que queremos daqui para frente.
Sonya Smith, a Griselda, está adorando dar
conta do recado.
— Tudo nessa produção tem sido cuidado de tal
forma que nada passa despercebido. E o libreto tem muita comédia, enquanto as
novelas hispânicas costumam ser mais dramáticas, ou trazer um humor excessivo,
mas essa tem uma interação precisa dos dois. É mais realista. Tem inclusive uma
coisa até então inédita por aqui, de os atores falarem seus textos com menos
marcação, como na vida — diz ela, que de “Fina estampa” só viu o primeiro
capítulo, por iniciativa da direção em Miami.
Nos EUA, conta Raphael Corrêa Netto,
diretor-executivo de negócios internacionais da Globo, a população hispânica é
a que mais cresce em número de pessoas e renda:
— Os hispânicos são a maior minoria do país.
E a televisão hispânica precisa evoluir por causa das novas gerações.
Diretor de negócios internacionais da Globo,
Ricardo Scalamandré comemora o sucesso das coproduções em geral e de “Marido em
alquiler” em particular:
— Há 40 anos vendemos nossas novelas dubladas
para o mundo. Depois vieram os canais internacionais: são sete sinais, com 600
mil assinantes premium. Há seis anos, foi aberta a linha de coproducão.
Vendemos o formato, o desenho artístico todo. E essa novela está sendo
realmente feita a quatro mãos.
— É um projeto da Globomundo — diverte-se
Guilherme Bokel, diretor de desenvolvimento artístico internacional da Globo,
que supervisiona a novela.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário