Em um tempo em que mulheres em bancadas de
programas esportivos eram raridade, ela foi uma das pioneiras e com esse
trabalho conseguiu abrir portas para outros tipos de atividades, como posar em
revista masculina, jogar futebol profissional e gravar comerciais.
Até que um contratempo mudou a vida da
apresentadora Cléo Brandão, 45 anos, hoje chefe do caderno de automóveis da
revista Speedway, que tem como foco o automobilismo e é propriedade de seu
marido, o também jornalista Alex Ruffo.
Cléo foi durante aproximadamente dez anos
apresentadora de diversos programas da Band na década de 1990, como Esporte
Total, Show do Esporte e Faixa Nobre do Esporte. Virou uma das musas da TV na
época e foi capa de uma edição da Playboy, tudo com consentimento de sua
emissora.
Até que em 2000 fez uma gravação para uma
propaganda de Telesena, título de capitalização ligado ao SBT, de propriedade
de Silvio Santos. Teve que encerrar sua participação nos programas da Band e
não comunicou à emissora, o que não agradou ao canal. Cléo, então, nunca mais
voltou para a TV.
Foi para a Rádio Transamérica no ano seguinte
para apresentar programas automobilísticos. Em um evento sobre o assunto,
conheceu o seu atual marido, que o chamou para trabalhar na revista. Conciliou
rádio e revista até 2010, quando passou a dedicar-se exclusivamente ao negócio
de Ruffo.
Cléo diz ter saudades da TV, mas afirma que
seu ciclo foi cumprido e que o episódio da Telesena, no final, foi até
produtivo para sua vida, já que assim gerou seu segundo casamento. “Foi uma
série de acontecimentos mais positivos do que negativos. Mesmo com saudades da
TV, dos colegas. Foi um pouco assim. Não sei se é destino. Acho que a gente faz
o destino. Foi uma escolha que no final deu certo.”
Como
está sua vida hoje e como é sua rotina?
Eu estou há nove anos trabalhando na revista.
É especializada em automobilismo e automóvel. É uma publicação nossa. Ela faz
17 anos esse ano. Comecei fazendo reportagens especiais, entrevista com pilotos
e depois abrimos um caderno de automóveis.
Hoje acompanho lançamento das montadoras. São 12 pessoas que fazem a
parte de automobilismo e quatro pessoas que fazem a de automóveis.
Você
sente saudades da TV? Queria ter continuado por mais tempo?
Eu acho que foi natural. Cumpri um ciclo
longo. Fiquei dez anos. Deu pra aproveitar bastante, deu pra aprender, estudar.
Eram vários programas. Vivi muito intensamente o trabalho e sinto como se
tivesse terminado um ciclo que não que tivesse necessariamente que parar. Me
dediquei tanto aos outros trabalhos que não consegui retomar os projetos de TV.
Cumpri um ciclo, sinto saudades, mas tenho vontade de fazer coisas diferentes
hoje. Foi desafiador e senti que tive um
dever cumprido.
Você
toparia voltar para a TV hoje?
Deu para me sentir realizada
profissionalmente na TV. Hoje quero descobrir coisas diferentes de outros
veículos. Quero uma oportunidade em uma mídia diferente. Gosto muito da
internet. Gosto muito da velocidade da informação e acho muito interessante.
[Falar sobre esportes] é o que mais gosto e sobre automóvel também. É bem
diferente de automobilismo. Adoro futebol, gosto de outras modalidades, tênis,
vôlei. Só não gosto de um esporte: luta livre.
Você
acompanha as apresentadoras esportivas de hoje? O que acha?
Não tenho muito tempo, mas se estiver
passando na TV eu paro e olho, observo. Sinto até um certo orgulho de ser da
geração pioneira. Era um momento de muito preconceito, falavam que não valia a
pena investir em mulheres. Hoje tenho muito orgulho quando vejo uma Renata Fan
falar de boca cheia que adora o que faz, que gosta e entende. Ela estudou e
está atenta a todas informações e novidades. Me dá orgulho, já até falei isso
pra ela.
Você
deixou a TV por aquele episódio da Telesena. Acha que conduziu mal?
Foi o seguinte: hoje você tem contrato que
não pode fazer comercial, não só pra outra emissora, como às vezes na própria
emissora. A Band permitia. Eu fiz vários comerciais para vários produtos. Na
época eu tinha liberdade e sempre pedia autorização pra fazer, e sempre
autorizavam. Eu fui convidada pra fazer esse comercial. E foi tudo rápido,
recebi o convite, no dia seguinte era a gravação. Tive que assinar contrato
rápido. Eu deixei de conversar com o pessoal do esporte, e teve diretor que não
se opôs. Mas teve um diretor que eu não conhecia, nunca tive reunião, nada. Ele
não gostou e achou que meu nome iria ficar ligado ao SBT e que não seria bom
pra imagem. Mas eu já tinha assinado contrato. Teria que pagar multa e outras
consequências. Fiz a opção de não cancelar contrato e prefiri ficar fora.
Tomaria
a mesma decisão se fosse hoje?
Na verdade eu quis ser coerente. Não sei se
faria a mesma coisa hoje. Mas eu pesei as coisas e pensei em fazer isso. Hoje
eu pensaria. Quando me convidaram achei que foi uma opção de confiança do outro
lado. Mas deu uma guinada na minha vida. Fiz coisas que talvez na Band, com o
tempo que me ocupava, eu não tivesse tempo de fazer, como rádio, ter conhecido
o outro mundo do automobilismo com meu marido. Foi uma série de acontecimentos
mais positivos do que negativos. Não sei se é destino. Acho que a gente faz o
destino. Foi uma escolha que no final deu certo.
Como
foi ter posado para a Playboy? Se arrepende hoje?
Eu recebi o convite de forma inesperada por
fazer um trabalho de jornalismo e não ser comum nesse meio. Quando eu recebi,
era casada com outra pessoa e tinha filho pequeno. Fiz reunião com eles e
acharam legal pela chance de ficar mais popular, divulgar o próprio trabalho.
Fui conversar com a Bandeirantes, com o Juca Silveira, então diretor de
Esportes, e deram autorização. Acharam ótima ideia. Eu decidi fazer. Acho que
aumentou bastante a popularidade, recebi mais convites pra fazer comerciais e
eventos. Fiquei mais conhecida por outro público. Me rendeu bastante coisas,
que acho positivas. Não me arrependo e foi uma decisão legal.
Como
surgiu o convite para jogar futebol no São Paulo?
Eu jogava futebol na escolinha do Rivelino.
Fazia as aulas por hobby. O Rivelino trabalhava comigo na Band como
comentarista e perguntei se poderia treinar lá. Quando a Federação Paulista
montou campeonatos femininos e decidiram investir em futebol, me convidaram pra
jogar no São Paulo. Eu fui convidada pelo São Paulo. Então comecei a treinar.
Trabalhava de manhã na Band, chegava cedo e saia às 13h para ir treinar em
Indaiatuba com as garotas que treinavam de manhã e de tarde. Eu tinha só metade
do tempo pra treinar. E ainda fazia faculdade. Trabalhava de manhã, treinava de
tarde. E jogava futebol no fim de semana. Tive um relacionamento legal com as
garotas. Foi uma experiência que queria ter tido e tive. Joguei com várias
jogadoras da seleção, como Sissi, Kátia Cilene, Formiga.
Fonte: UOL
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