Esqueçam a história original de Jorge Amado,
o filme de Bruno Barreto e as outras adaptações de Gabriela Cravo e Canela para
a televisão. Quando um escritor se propõe a adaptar um livro, ele é o novo
senhor do texto (já que adquiriu os direitos para tanto) e tem plenos poderes
para imprimir sua marca na nova obra.
E foi assim com a Gabriela de Walcyr
Carrasco, a novela da Globo que terminou na sexta-feira (26/10). Todas as
características do novelista estavam lá. Os diálogos ferinos e espirituosos, as
frases no imperativo, os personagens caricatos em situações engraçadinhas,
camas quebradas, tortas na cara, etc. Até um bichinho de estimação Carrasco
arrumou para Gabriela. Tudo isso já conhecemos de outras novelas do autor. E
ele, esperto, sabe que funciona. Carrasco é um novelista popular.
Gabriela também teve cenas densas, seja pela
violência ou pela emoção. O elenco de primeira e a direção primorosa (de Mauro
Mendonça Filho) ajudaram bastante. Uma novela bela de se ver, uma produção
requintada, desde a abertura (uma das mais bonitas dos últimos tempos) até
cenários, figurinos, fotografia e a trilha sonora saudosista, que trouxe de
volta algumas das músicas da novela de 1975 – um grande acerto.
Juliana Paes esforçou-se com a sua Gabriela
e, por isso, merece crédito. Em momento algum comprometeu a personagem. E nem
ficaria marcada pela sua interpretação ou “entraria para a história”. A
Gabriela de Sônia Braga ficou lá em 1975, em outra novela, outra situação e
momento (da televisão brasileira e de nossa sociedade). Não cabe aqui esperar
que se fosse repetir o que aconteceu no passado.
A Gabriela de 2012 trabalhou com outros
elementos e referências, que têm a ver com o nosso presente (apesar de ser uma
trama de época). A Gabriela da década de 1970 também foi assim, usou as
referências que tinha naquele tempo – inclusive as limitações, já que a TV
vivia sob a censura do Regime Militar.
O Bataclan atual lembra o Moulin Rouge e a
Maria Machadão é Ivete Sangalo. É a liberdade criativa que temos para hoje –
ainda que seja duro de engolir um Bataclan tão glamuroso, com shows dignos da
Broadway. Ivete Sangalo não fez bonito, mas tampouco fez feio. Esteve à altura
do que tinha para mostrar e o texto não lhe exigiu muito.
Gabriela conquistou o público ao poucos e por
fim, agradou. Fechou com média de 19 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 60
mil domicílios na Grande São Paulo), a mesma de O Astro, a atração do ano
passado. Teve repercussão nas redes sociais – por várias vezes hashtags
envolvendo a novela estiveram nos TTs do Twitter (os assuntos mais comentados).
Os bordões “Vou lhe usar” (do Coronel Jesuíno/José Wilker) e “Jesus Maria
José!” (de Dona Dorotéia/Laura Cardoso) se popularizaram, foram repetidos,
viraram memes na Internet, charges engraçadinhas no Facebook.
Gabriela mal apareceu em alguns capítulos. A
trama central – o romance entre ela e Nacib – ficou por várias vezes em segundo
plano, à medida que algumas tramas paralelas foram despertando mais a atenção
do público, como a história de Malvina, a trajetória de Lindinalva e o
assassinato de Sinhazinha.
No elenco, vários atores se destacaram, tanto
veteranos quanto novatos. Luiza Valdetaro (Jerusa), Vanessa Giácomo (Malvina),
Giovanna Lacelotti (Lindinalva), Marco Pigossi (Juvenal) e Rodrigo Andrade
(Berto) fizeram bonito. Humberto Martins deu um tom abobalhado ao seu Nacib,
tanto quanto Marcelo Serrado fez com Tonico Bastos.
Mas foi a interpretação de Maitê Proença
(como Sinhazinha Guedes Mendonça), José Wilker (como o Coronel Jesuíno) e Laura
Cardoso (como a beata Dorotéia) que marcaram a produção. Em seu texto, Carrasco
consegue pular do humor bobinho à emoção dramática com muita competência.
Algumas vezes vimos cenas em que o Coronel Jesuíno (e também Dona Dorotéia)
passava do risível ao emocionante com uma naturalidade impressionante.
Walcyr Carrasco fez graça ao retratar
preconceitos, pensamentos e costumes – retrógrados aos olhos de hoje – da
Ilhéus da década de 1920, em que os coronéis poderosos se julgavam acima da
lei, as mulheres não tinham direito a se expressar, enquanto aos homens tudo
era permitido, e a moral era altamente discutível. Temas que ecoam hoje em dia.
Nas falas dos personagens, através de piadinhas sobre machismo, prostitutas e
homossexuais, o autor encontrou respaldo no público, que reconheceu o que foi
pintado na tela. Quem sabe até, se identificou. Talvez daí o seu sucesso.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
Sou de Natal/RN. Achei de grande importância, vir comentar sobre o estrelato de Ivete Sangalo (cantora, atriz, apresentadora, modelo e empresária) na telinha da globo. Ela foi magnifica. Deu realmente um show de interpretação. Achei q o romance de Gabriela e Nacib foi um pouco destorcido pelo romance de Mundinho Falcão e Jerusa. Sinceramente, a novela deixou um pouco a desejar no último capítulo. Porém, tratou de assuntos diversos, tirando até um pouco do preconceito que as pessoas de hoje tem.
ResponderExcluirRealmente a história de Gabriela parece ter perdido peso na leitura de Walcyr Carrasco. O último capítulo foi de Mundinho e Jerusa. Estranho, numa história que levava o título de "Gabriela"... Quanto aos preconceitos, soou engraçado ver certas atitudes retratadas na trama. Felizmente, muitas delas se encontram completamente abolidas na sociedade atual.
ResponderExcluir