quinta-feira, 29 de novembro de 2012

João Ximenes Braga fala sobre "Lado a Lado"


Qual é o balanço que você faz da novela até agora?
Estou muito feliz, muito orgulhoso do resultado como um todo. A gente conseguiu juntar melodrama com história com agá maiúsculo. [Isso] Me deixou muito satisfeito.

A audiência está abaixo do esperado?
A gente vai bem em todas as praças, menos São Paulo e Goiânia. Recife e Salvador têm audiência de novela das 21h, com 33, 34 pontos. Rio de Janeiro e Belo Horizonte a gente está com média de 23 pontos. Porto Alegre, 27. Tem uma questão específica em São Paulo. A gente enfrentou vários inimigos externos. Essa novela não foi lançada em condições normais. Antigamente, durante o horário eleitoral, a Globo quebrava [em duas partes] o “Jornal Nacional”. Este ano, eles adiantaram a programação. Então, a gente estreou no horário de “Malhação”, 17h40, com o numero de televisores ligados baixíssimo. Aí entrou o horário de verão, que sempre derruba a audiência de novela das 18h porque fica mais claro até mais tarde. Essa onda de violência em São Paulo também pode estar prejudicando a gente. A gente tem muito mais inimigos externos do que internos.

O fato de ser uma novela que fala do Rio de Janeiro, nos anos 10, pode afugentar o público paulista?
Não sei. A gente pode especular várias coisas. Já vi até gente dizendo que o problema é que a novela é boa demais. Creia: sofro muito com o Ibope em São Paulo. Novela é hábito. Por conta desses inimigos externos, a gente não teve a oportunidade de criar o hábito do espectador. A gente está atento, discutindo o tempo todo o que podemos fazer para melhorar a audiência. Ajustes de texto, de direção, da história, o que pode estar desagradando... Além dessas condições externas atípicas, não detectamos nenhuma rejeição à novela, um ponto específico que a gente devesse mudar, contornar.

Qual é o papel do Gilberto Braga como supervisor?
A gente se fala quase todo dia. Teve um determinado momento em que ele se deu tão por satisfeito que parou de ler os capítulos. Ele acompanha a história. A gente vai a ele com dúvidas. Quando eu e a Claudia temos um impasse, vamos a ele. Ele tem sido bem companheiro e legal.

Por que o samba-enredo “Liberdade, Liberdade” foi escolhido como música de abertura?
Foi uma escolha do Dennis (Carvalho, diretor da novela). Adorei. Fechou o conceito perfeitamente. O mérito foi do Dennis. Pensando, sobretudo, em Laura, Isabel e Zé Maria, a primeira como mulher e os outros dois como negros, eles são da primeira geração, começando a República, acreditando em um país melhor, em busca de liberdade.

A novela às vezes parece excessivamente didática, um pouco escolar. É um problema?
Os espectadores são de escolaridade e classes sociais muito diferentes. O que um espectador acha didático não está sendo didático para outro, está sendo ilustrativo. Vai ser sempre assim. Não fico chateado quando alguém critica, dizendo que determinado diálogo foi didático. Porque eu sei que, para outro espectador, foi fundamental para entender a história.

O que o público pode esperar dos próximos capítulos?
A gente vai costurar relações, do Elias com a Isabel, com o Zé Maria, até com o Albertinho, sem eles saberem que o garoto é filho do Albertinho com a Isabel. Isso vai ser fundamental para quando for revelado o segredo de Elias. E não é coisa para final de novela, não. Vai ser revelado, mas antes a gente quer costurar essas relações...

O Zé Maria vai participar de mais algum evento histórico?
Não. O rumo dele agora é a capoeira. Vai ter muita ação com ele com o objetivo de ser um líder da comunidade e da capoeira.

Ele é um pouco um “Zelig”, presente em todos os eventos históricos importantes (Revolta da Vacina, Revolta da Chibata)...
Para ele participar de outros eventos históricos teria que ocorrer outra passagem de tempo, o que tornaria a produção muito custosa, muito trabalhosa. Não tem mais como fazer passagem de tempo. Não temos condições de chegar na era Vargas. Ele é o Ulisses da Odisseia, cujo calcanhar de Aquiles é a Helena dele, a Isabel.

E o que mais vem por aí?
O natural é que o melodrama, o folhetim, fique mais forte. De início, naturalmente, a gente tinha que apresentar a época. Agora não precisamos mais. A época já está bem fixada na cabeça do espectador. Essa é uma época muito pouco conhecida, muito pouco debatida. Nas boas escolas, costuma se pular da proclamação da República para a Era Vargas direto.

O texto da novela é bem coloquial. Por quê?
A preocupação é soar o mais natural possível. A intenção é que a linguagem seja natural justamente para não cansar o espectador. A gente tenta não usar palavras que não eram usadas na época. Volta e meia a gente erra e volta e meia os atores põem. Às vezes, um ator solta um “na boa”.

Outro dia, ouvi um “fofinho”.
Somos humanos. Eventualmente, a gente deixa passar palavras que não eram usadas na época.

E a polêmica sobre o divórcio?
Descobri que havia divórcio naquela época lendo um conto do Artur Azevedo, “Entre a Missa e o Almoço”. Não sabia que havia divórcio naquela época. Muita gente se manifestou dizendo: “Eu não sabia disso, logo eles estão errados”. Só lamento. Acho a trama do divórcio da Laura interessantíssima. A gente sabia que ia causar surpresa com essa história do divórcio. E a polêmica funcionou a nosso favor. Fico um pouco surpreso com a agressividade com que algumas pessoas reagem.

Na minha opinião, Patrícia Pillar, Marjorie Estiano e Thiago Fragoso se destacam na novela.
Discordo de você. Acho que os três que você citou estão ótimos, mas não concordo que eles se destaquem mais que Lázaro Ramos e Camila Pitanga. Acho Lázaro o melhor ator da geração dele. Não vejo nenhum ator de 30, 35 anos capaz da grandeza que o Lázaro demonstrou em tudo que ele fez nessa novela até agora. E Camila já é a minha terceira novela com ela, já disse que não sei se sei fazer novela sem ela.

Fonte: UOL

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