Qual é
o balanço que você faz da novela até agora?
Estou muito feliz, muito orgulhoso do
resultado como um todo. A gente conseguiu juntar melodrama com história com agá
maiúsculo. [Isso] Me deixou muito satisfeito.
A
audiência está abaixo do esperado?
A gente vai bem em todas as praças, menos São
Paulo e Goiânia. Recife e Salvador têm audiência de novela das 21h, com 33, 34
pontos. Rio de Janeiro e Belo Horizonte a gente está com média de 23 pontos.
Porto Alegre, 27. Tem uma questão específica em São Paulo. A gente enfrentou
vários inimigos externos. Essa novela não foi lançada em condições normais.
Antigamente, durante o horário eleitoral, a Globo quebrava [em duas partes] o
“Jornal Nacional”. Este ano, eles adiantaram a programação. Então, a gente
estreou no horário de “Malhação”, 17h40, com o numero de televisores ligados
baixíssimo. Aí entrou o horário de verão, que sempre derruba a audiência de
novela das 18h porque fica mais claro até mais tarde. Essa onda de violência em
São Paulo também pode estar prejudicando a gente. A gente tem muito mais
inimigos externos do que internos.
O fato
de ser uma novela que fala do Rio de Janeiro, nos anos 10, pode afugentar o
público paulista?
Não sei. A gente pode especular várias
coisas. Já vi até gente dizendo que o problema é que a novela é boa demais.
Creia: sofro muito com o Ibope em São Paulo. Novela é hábito. Por conta desses
inimigos externos, a gente não teve a oportunidade de criar o hábito do
espectador. A gente está atento, discutindo o tempo todo o que podemos fazer
para melhorar a audiência. Ajustes de texto, de direção, da história, o que
pode estar desagradando... Além dessas condições externas atípicas, não
detectamos nenhuma rejeição à novela, um ponto específico que a gente devesse
mudar, contornar.
Qual é
o papel do Gilberto Braga como supervisor?
A gente se fala quase todo dia. Teve um
determinado momento em que ele se deu tão por satisfeito que parou de ler os
capítulos. Ele acompanha a história. A gente vai a ele com dúvidas. Quando eu e
a Claudia temos um impasse, vamos a ele. Ele tem sido bem companheiro e legal.
Por que
o samba-enredo “Liberdade, Liberdade” foi escolhido como música de abertura?
Foi uma escolha do Dennis (Carvalho, diretor
da novela). Adorei. Fechou o conceito perfeitamente. O mérito foi do Dennis.
Pensando, sobretudo, em Laura, Isabel e Zé Maria, a primeira como mulher e os
outros dois como negros, eles são da primeira geração, começando a República,
acreditando em um país melhor, em busca de liberdade.
A
novela às vezes parece excessivamente didática, um pouco escolar. É um
problema?
Os espectadores são de escolaridade e classes
sociais muito diferentes. O que um espectador acha didático não está sendo
didático para outro, está sendo ilustrativo. Vai ser sempre assim. Não fico
chateado quando alguém critica, dizendo que determinado diálogo foi didático.
Porque eu sei que, para outro espectador, foi fundamental para entender a
história.
O que o
público pode esperar dos próximos capítulos?
A gente vai costurar relações, do Elias com a
Isabel, com o Zé Maria, até com o Albertinho, sem eles saberem que o garoto é
filho do Albertinho com a Isabel. Isso vai ser fundamental para quando for
revelado o segredo de Elias. E não é coisa para final de novela, não. Vai ser
revelado, mas antes a gente quer costurar essas relações...
O Zé
Maria vai participar de mais algum evento histórico?
Não. O rumo dele agora é a capoeira. Vai ter
muita ação com ele com o objetivo de ser um líder da comunidade e da capoeira.
Ele é
um pouco um “Zelig”, presente em todos os eventos históricos importantes
(Revolta da Vacina, Revolta da Chibata)...
Para ele participar de outros eventos
históricos teria que ocorrer outra passagem de tempo, o que tornaria a produção
muito custosa, muito trabalhosa. Não tem mais como fazer passagem de tempo. Não
temos condições de chegar na era Vargas. Ele é o Ulisses da Odisseia, cujo
calcanhar de Aquiles é a Helena dele, a Isabel.
E o que
mais vem por aí?
O natural é que o melodrama, o folhetim,
fique mais forte. De início, naturalmente, a gente tinha que apresentar a
época. Agora não precisamos mais. A época já está bem fixada na cabeça do
espectador. Essa é uma época muito pouco conhecida, muito pouco debatida. Nas
boas escolas, costuma se pular da proclamação da República para a Era Vargas
direto.
O texto
da novela é bem coloquial. Por quê?
A preocupação é soar o mais natural possível.
A intenção é que a linguagem seja natural justamente para não cansar o
espectador. A gente tenta não usar palavras que não eram usadas na época. Volta
e meia a gente erra e volta e meia os atores põem. Às vezes, um ator solta um
“na boa”.
Outro
dia, ouvi um “fofinho”.
Somos humanos. Eventualmente, a gente deixa
passar palavras que não eram usadas na época.
E a
polêmica sobre o divórcio?
Descobri que havia divórcio naquela época
lendo um conto do Artur Azevedo, “Entre a Missa e o Almoço”. Não sabia que
havia divórcio naquela época. Muita gente se manifestou dizendo: “Eu não sabia
disso, logo eles estão errados”. Só lamento. Acho a trama do divórcio da Laura
interessantíssima. A gente sabia que ia causar surpresa com essa história do
divórcio. E a polêmica funcionou a nosso favor. Fico um pouco surpreso com a
agressividade com que algumas pessoas reagem.
Na
minha opinião, Patrícia Pillar, Marjorie Estiano e Thiago Fragoso se destacam
na novela.
Discordo de você. Acho que os três que você
citou estão ótimos, mas não concordo que eles se destaquem mais que Lázaro
Ramos e Camila Pitanga. Acho Lázaro o melhor ator da geração dele. Não vejo
nenhum ator de 30, 35 anos capaz da grandeza que o Lázaro demonstrou em tudo
que ele fez nessa novela até agora. E Camila já é a minha terceira novela com
ela, já disse que não sei se sei fazer novela sem ela.
Fonte: UOL
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