sábado, 1 de agosto de 2015

Trama paralela de “Babilônia” critica o público


Chega a ser irônico o fato da melhor trama de “Babilônia” ser justamente aquela que os autores (Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga) estão usando para alfinetar o público que rejeitou sua novela. E não é a trama central, a do trio Beatriz-Inês-Regina.

A atriz Arlete Salles – excelente – deita e rola com sua Consuelo, uma mulher convicta de sua religião, mas hipócrita, maldosa e arrogante. Mas nem por isso uma personagem pesada. Pelo contrário. Consuelo é engraçadíssima, o verdadeiro alívio cômico de “Babilônia”, uma versão moderna das risíveis carolas de sacristia das novelas de Dias Gomes. Só que, neste caso, não é católica.

Do alto de sua prepotência e megalomania, Consuelo quer aparecer às custas de gente famosa, que ela julga “chiques”, através de sua limitada visão de mundo. Com a ajuda do malandro Luís Fernando (finalmente uma função na novela para o personagem de Gabriel Braga Nunes), produzem o programa de entrevistas “Puro Chiquê”, com a proposta de entrevistar celebridades do mundo artístico.

É aí que os roteiristas de “Babilônia” espertamente destilam veneno. Na última tentativa (fracassada) de entrevista, com Dira Paes, Consuelo tentou arrancar da atriz fofocas do mundo dos famosos, detalhes sórdidos da relação com outros atores – no que Dira se negou terminantemente, lógico, já que o combinado era ela tratar de “assuntos de conteúdo”. Foi quando Consuelo soltou pérolas como “Não dá audiência, é muito realista! O povo não quer saber de coisas complicadas.”.

Os autores, desde o início da novela, usam o núcleo da família Pimenta para exorcizar o fracasso de “Babilônia” com a audiência. Representantes da “tradicional família brasileira”, Consuelo, o filho Aderbal (Marcos Palmeira), a nora Maria José (Laila Garin) e – sobra até para – o mordomo Xavier (Tadeu Aguiar) e a filha Laís (Luísa Arraes), representam o público limítrofe que não conseguiu assimilar “a proposta da novela”.

Ironia – ou mera coincidência -, a Família Pimenta tem o texto realmente reflexivo e carregado de crítica social na trama de “Babilônia”. Com um viés realista, Aderbal é o político corrupto e hipócrita que se vale da religião para tirar proveito em benefício próprio (ou de uma causa), justificar suas safadezas e esconder sua imoralidade. E Consuelo é a sátira dessa crítica, a caricatura – moderna – da religiosa intolerante, fofoqueira e limitada. Muito pertinente em tempos de intolerância – de qualquer tipo.

É válida a crítica aos políticos corruptos, intolerantes e hipócritas, que se valem da religião para tirar vantagens. O que não vale é jogar a culpa do fracasso da novela exclusivamente no público. Quem sabe a trama central de “Babilônia” focasse apenas no núcleo da família Pimenta, a recepção teria sido outra!

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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