Ao longo do ano, fiquei tempo demais diante
da televisão e abusei da paciência do leitor com muitos textos sobre o assunto.
Ao olhar para trás, no esforço de fazer um balanço, noto que vi mais coisas
ruins do que boas, mas também tive muitas surpresas. Apresento, então, um
resumo de 2011 em três partes – os melhores, os inesperados e os piores do ano.
Como sempre, terei o maior prazer em acolher os comentários e observações dos
leitores, apontando as injustiças das minhas listas e me lembrando do que
esqueci. Aqui está a primeira parte do meu Top 20 com os piores do ano:
1.
Insensato Coração:
A novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares foi, para mim, a decepção do ano.
Deslocada no tempo, a trama chegou a dar a impressão de ser uma homenagem a
“Vale Tudo”, mas era falta de imaginação mesmo. Personagens mal construídos e
vilões “psicopatas”, agindo sem motivo algum, deram o tom. Na pressa de terminar
uma novela mal dirigida, o último capítulo exibiu uma série grave de erros.
2. Amor
e Revolução:
Campeão de reprises de novelas mexicanas, o SBT investiu em 2011 numa produção
que prometia muito, ambientada nos tempos da ditadura militar brasileira, mas
deu tudo errado. Filha de Silvio Santos e diretora-geral da emissora, Daniela
Beyruti chamou a novela de “Love and Reveolution”. Uma cena ousada, de um beijo
gay entre duas mulheres, foi ao ar, mas depois o SBT vetou a continuação da
trama. Houve problemas de produção de sobra e pouco público para testemunhar o
insucesso.
3.
Domingo Espetacular:
Uma reportagem agressiva de 39 minutos, sobre um fenômeno religioso encontrado
em diferentes práticas neopentecostais, que o programa dominical da Record ironizou
chamando de “cai-cai”, foi o momento mais baixo do jornalismo da emissora em
2011. As inúmeras mudanças de horário na grade, iniciadas em julho, levaram o
“Jornal da Record”, o principal da emissora, a perder audiência e ficar atrás
do SBT em alguns momentos.
4.
Pânico:
Num ano para esquecer, o humorístico foi vítima de uma “pegadinha” e fez
publicidade gratuita para uma cerveja concorrente da marca que patrocina o
programa. “As Tchecas” não foram o único vacilo do principal programa da
RedeTV!. Numa ação que teve péssima repercussão, dois participantes invadiram o
funeral da cantora Amy Winehouse. Em outra, que também pegou mal, o “Pânico”
contou o final do livro de Jô Soares simplesmente porque ele não quis dar
entrevista para o personagem Jô Suado, que o imita.
5. CQC: Ano ruim também para
“o programa da família brasileira” exibido pela Band. O sinal de alerta veio
logo na estreia, num show de bajulação ao ex-jogador Ronaldo. Prosseguiu com o
veto das críticas feitas por Jorge Kajuru a Ricardo Teixeira. E chegou ao ápice
com o afastamento de Rafinha Bastos por causa de uma piada e as críticas
publicas de Marco Luque e Marcelo Tas ao colega de bancada.
6. João
Sorrisão:
Uma ideia aparentemente ingênua resultou em uma das cretinices do ano. O programa
“Esporte Espetacular”, da Globo, convidou os jogadores da Série A a imitarem o
jeito de balançar de um “João Bobo” na hora do gol – para os lados, para frente
e para trás. Ao se dar conta do desastre e encerrar a promoção, a emissora
pediu “criatividade” aos jogadores na hora de festejar. Enquanto durou, ao
longo de dois meses, foram 66 os contemplados com uma réplica do “João
Sorrisão” – 66 gols comemorados de forma idêntica.
7.
Jogos Pan-Americanos:
O investimento feito pela Record para a cobertura exclusiva do Pan em
Guadalajara não foi suficiente para evitar a série de problemas e tropeços
surgidos durante o evento. Excesso de ufanismo dos narradores, insistência no
marketing da “câmera exclusiva”, transmissões anunciadas como “ao vivo”, mas
exibidas depois, estão entre as muitas reclamações. Um dos poucos pontos
positivos, a participação de Romário como comentarista de futebol, foi
frustrada pelo fracasso da seleção brasileira no México.
8.
Anderson Silva:
Nada mais sintomático da falta de criatividade e imaginação da televisão
brasileira do que a overdose de aparições do lutador em uma série infindável de
atrações ao longo do ano. Anderson Silva foi convidado de honra de treze
programas de televisão, de cinco emissoras diferentes. Não bastasse, ainda
atuou em uma novela, dançou num clipe de Marisa Monte e foi mascote do
Corinthians.
9.
Faustão:
Num dos momentos mais terríveis da televisão em 2011, o rei dos domingos na
Globo falou, durante 27 minutos, sobre chulé, frieiras, unha encravada,
calosidades e outras doenças no pé. A aula sobre o assunto teve direito à
exibição de fotos horrendas, com closes em todo o tipo de deformação. A certa
altura, diante de um dedo com um calo horroroso, o apresentador disse que a
imagem o lembrava de um doce, um “beijinho”, e pediu para ver novamente. “Ô louco!”, gritou.
10.
Rock in Rio:
O Multishow merece o crédito por ter exibido os principais shows do evento.
Também mandou muito bem com uma câmera colocada estrategicamente na entrada dos
bastidores, onde captou bons momentos do festival. Mas a emissora não se
preparou à altura para a longa cobertura e deixou as suas duas apresentadoras,
Didi Wagner e Luisa Micheletti, em situação constrangedora. Foi um show de
erros, no qual a duas ex-VJs da MTV contaram com a ajuda inestimável do músico
Beto Lee.
Fonte: Mauricio Stycer, do UOL
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