Mais uma vez, no entanto, não foram as
produções da Globo as mais ousadas na abordagem do tema. “Amor e Revolução”,
escrita por Tiago Santiago para o SBT, levou ao ar a primeira cena de beijo
entre as personagens de Luciana Vendramini e Gisele Tigre. Não era selinho. E
por isso mesmo chocou os anunciantes, que ameaçaram retirar patrocínio caso a
emissora veiculasse outra cena do tipo, dessa vez entre os atores Lui Mendes e
Carlos Arthur Thiré.
Já “Vidas em Jogo”, de Cristianne Fridmann,
deu picos de audiência ao revelar o segredo da personagem Augusta (Denise Del
Vecchio): era um transexual. Em entrevista ao UOL Televisão, a autora disse que
o tema seria tratado de maneira contundente. O filho de Augusta tentaria
interditá-la como “doente mental” para tomar conta de todos os seus bens, já
que a personagem ficara milionária ao ganhar na loteria.
Enquanto homossexuais eram agredidos na região
da avenida Paulista, em São Paulo, “Insensato Coração”, de Gilberto Braga e
Ricardo Linhares, levou às telas da TV Globo o maior núcleo gay da história da
teledramaturgia para discutir de forma incisiva a violência contra
homossexuais, o processo de “saída do armário”, a união civil (que pelo menos
na ficção já é uma realidade) e o esforço de um homofóbico assumido em aceitar
o filho homossexual.
O que chocou, no entanto, foi a cena em que o
menino Gilvan (Miguel Roncato) é espancado e morto por um bando de “pit boys”.
Não tanto pela cena em si, mas pelas manifestações de apoio vindas de
internautas de todo o país. Em enquete realizada pela repórter Thays Almendra,
a maioria dos entrevistados afirmou que era mais chocante ver um beijo gay do
que um homossexual ser espancado. Se foi efeito da teledramaturgia ou não, o
fato é que durante a exibição de “Insensato” o STF (Supremo Tribunal Federal)
reconheceu as uniões entre pessoas do mesmo sexo, embora o tema ainda patine no
Congresso Nacional.
Apesar de toda a discussão acerca de
preconceito, os gays mais populares da ficção em 2011 foram os caricatos Crô,
de Marcelo Serrado em “Fina Estampa”, e Áureo, de André Gonçalves em “Morde
& Assopra”. Criticados pelos ativistas do movimento LGBT por supostamente acentuarem
o conceito da “bicha pintosa”, aceita socialmente sempre como motivo de chacota
ou, ainda, por “não refletirem a realidade” dos homossexuais, Crô e Áureo, ou
melhor, André e Marcelo, afirmam receber inúmeras manifestações de carinho nas
ruas.
Na verdade, esse tipo de afirmação apenas
reflete um preconceito existente entre os próprios homossexuais em relação aos
gays afeminados. Qualquer pessoa que frequente a rua Vieira de Carvalho no
centro de São Paulo vai perceber que as “pintosas” existem sim e também merecem
ser aceitas, nem que seja pelo humor, pois se Crô e Áureo não aprofundam nas
questões dos direitos civis, pelo menos promovem algum tipo de tolerância, não
a ideal, já que esse papel não cabe à novela, mas ao Congresso.
Fonte: UOL
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