sábado, 23 de setembro de 2017

Há 25 anos o Brasil afundava na lama em "Deus nos Acuda"


O momento político que o Brasil vive em 2017 é um dos mais sujos da história. Há 25 anos, quando Fernando Collor de Mello sofreu impeachment, não era muito diferente. A dramaturgia captou o espírito da época e afundou o país na lama de segunda a sábado, em rede nacional, ao longo de sete meses. Em 31 de agosto de 1992, estreava na Globo a novela Deus nos Acuda, cuja abertura fazia uma crítica à roubalheira, à ostentação e à corrupção da política e da classe mais rica no país.

Produzida por Hans Donner, a abertura da novela mostrava uma festa da alta sociedade, com homens e mulheres bem vestidos, risadas, insinuações sexuais e bebida. Aos poucos, o ambiente era inundado por lama, que submergia todos os convidados. No final, carros, lanchas e cruzeiros apareciam num redemoinho de lama, que escorria por um buraco na forma do mapa do Brasil.

A sequência durava pouco mais de um minuto, mas a abertura deu trabalho para Donner. Nos antigos estúdios da Globo em Guaratiba, bairro do Rio de Janeiro, foi construída uma gaiola suspensa sobre uma piscina, com seis metros por oito e chão de arame vazado. A gaiola ia descendo (pendurada por um guindaste) sobre a piscina, até que os figurantes ficassem mergulhados na lama.

O material utilizado nas gravações não era lama de verdade, mas sim uma mistura de isopor ralado, tinta preta, anilina e álcool _o que dava uma aparência mais próxima de pixe.

"Foram utilizadas cinco câmeras: três presas nas paredes do cenário, para descerem junto com ele; uma no teto, registrando a cena de cima para baixo; e outra sobre uma plataforma de isopor, que passeava entre os convidados da festa. Cada descida da gaiola na piscina durava 17 segundos e a cena só podia ser rodada uma vez ao dia, já que as roupas dos modelos tinham quer ser lavadas a cada gravação", disse Donner ao site Memória Globo. No total, as gravações duraram oito dias.


Dercy Gonçalves interpretou anja responsável pelo Brasil na novela Deus nos Acuda, em 1992

Corrupção em segundo plano - A abertura de Deus nos Acuda foi a investida mais política de toda a novela, e muito da repercussão aconteceu pelo momento pertinente em que a trama foi ao ar. O país assistia ao processo de impeachment de Fernando Collor, que teve início um mês após a estreia. Ele renunciou ao cargo em 29 de dezembro de 1992.

Segundo depoimento do autor Silvio de Abreu ao Memória Globo, a conclusão do impeachment de Collor esvaziou um pouco a discussão política na trama de Deus nos Acuda. Havia cobrança para que a novela pegasse mais pesado nas críticas à corrupção e à desonestidade no país, mas a história acabou ganhando mais força no humor e nos dramas familiares.

O destaque maior foi para o casal Maria Escandalosa (trambiqueira, interpretada por Claudia Raia) e Ricardo Bismarck (bom caráter, papel de Edson Celulari). Os dois, que nem se conheciam antes do trabalho, ficaram noivos durante a novela e se casaram em 1993 (o relacionamento terminou em 2010).

Dercy Gonçalves, então com 86 anos, também roubou a cena. Ela viveu a anja Celestina, encarregada de cuidar do Brasil. Atrapalhada e indisciplinada, provocou confusões na Terra e levou um ultimato de Deus: deveria tornar um cidadão brasileiro mais honesto e solidário se quisesse manter seu posto no Céu.

Celestina escolheu Maria Escandalosa e quebrou leis divinas para protegê-la. No final, a anja torta foi absolvida por Deus.



Fonte: Notícias da TV

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