O telespectador não está dando a devida
atenção para duas ótimas novelas atualmente no ar: “Pecado Mortal” (de Carlos
Lombardi, na Record) e “Além do Horizonte” (da dupla Carlos Gregório e Marcos
Bernstein, na Globo). Ambas passam por uma audiência vexatória e carregam o
estigma do “menor Ibope”. “Pecado Mortal” é o menor Ibope entre as novelas da
Record desde a retomada da dramaturgia da emissora, em 2004 – oscila entre 4 e
5 pontos. E “Além do Horizonte”, o menor Ibope da história entre as novelas do
horário das sete da Globo – média de 19 pontos (há um ano, no mesmo período de
horário de verão, “Guerra dos Sexos” estava em 21).
As duas causam/causaram preocupação em suas
emissoras. “Pecado Mortal”, apesar de bem recebida pela crítica especializada, tem
audiência ainda menor que os metralhados três folhetins anteriores (“Máscaras”,
“Balacobaco” e “Dona Xepa”). Era grande a esperança da Record em retomar o
público que se esvaiu do canal, mas só decepcionou. Numa estratégia para
melhorar o seu primetime, a emissora jogou a novela para concorrer diretamente
com a nova atração da Globo, a aguardada “Em Família”, de Manoel Carlos. É
claro que não surtiria efeito.
“Além do Horizonte” começou com ares de
“inovação”. Uma trama cheia de mistérios – que lembrava seriados americanos do
gênero – e subjetiva demais (a busca da felicidade) que afastou o público, não
acostumado com esse tipo de abordagem às sete horas. Com o horário de verão,
não teve como escapar da pecha de “menor audiência da história no horário”.
Vejo que os dois folhetins têm algo em comum:
atualmente, são tramas carregadas de ação, com uma pegada policial, mas sem
abandonar o romance. “Pecado Mortal”, desde o começo, tinha ação, perseguições
policiais e o humor sarcástico embutido no ótimo texto de Carlos Lombardi. Para
chamar a atenção do público, o que autor fez? Engrossou o romance e o apelo
familiar, com muitas cenas de idílio amoroso entre os protagonistas Carlão
(Fernando Pavão) e Patrícia (Simone Spoladore) e sua prole.
“Além do Horizonte”, por sua vez, abandonou
os mistérios nebulosos e deixou claro para o público do que se tratava,
carregou no romance (inclusive rearranjando casais românticos), no humor e
transformou-se de uma trama de suspense em uma trama policial. A novela ganhou
em agilidade narrativa. Aliás, foi impressionante a forma como os autores
reverteram a situação, transformando personagens dúbios (como Líder
Jorge/Cássio Gabus Mendes, LC/Antônio Calloni, Hermes/Alexandre Nero e
Tereza/Carolina Ferraz) em tipos bem mais ricos e interessantes.
Quando se fala em tornar uma novela mais
digerível para o público médio, o primeiro diagnóstico é o de que falta romance
na trama. Folhetim é folhetim, não é seriado americano (e nem cabe comparação).
Não adianta fugir da velha fórmula de amores complicados, cheios de percalços.
Até a revolucionária “Beto Rockfeller” (1968-1969), considerada a grande virada
na teledramaturgia brasileira, manteve-se fiel ao gênero. “O Bem Amado” (1973),
“Roque Santeiro” (1985-1986), “Vale Tudo” (1988), “Que Rei Sou Eu?” (1989),
todas tinham boas doses de amores conflituosos. O público mais conservador
entende que vai assistir a algum romance. Se não o reconhece, estranha.
“O Rebu” (1974) e “A Próxima Vítima” (1995)
são exemplos de folhetins policiais por excelência (romance + o gênero
policial). “Pecado Mortal” e “Além do Horizonte” são interessantes casos de
novelas policiais em que o folhetim não está abandonado. A proposta de
“inovação” sempre será bem vinda. Mas não adianta reinventar a roda. E o mais do
mesmo feijão com arroz ainda funciona, mesmo em tempos de novas mídias e
concorrência com tv a cabo e internet. Chamar a atenção da audiência adormecida
é outra questão. E não é tarefa fácil.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário