Quem assiste “Novo Mundo” desde o início, em 22 de março, sabia ou tinha como intuir que o amor entre Joaquim (Chay Suede) e Anna (Isabelle Drummond) sofreria um baque, em algum momento da história, com a revelação de que o mocinho era casado com Elvira (Ingrid Guimarães).
E quando a atriz portuguesa se afeiçoou pelo bebê, órfão de pai e mãe, deixado na taverna de Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), foi fácil imaginar que Elvira, em algum momento, atribuiria a paternidade da criança a Joaquim.
Com a ajuda do vilão Thomas (Gabriel Braga Nunes), estes dois fatos ocorreram, finalmente, no 25º capítulo de “Novo Mundo”, exibido nesta quarta-feira (19). E não surpreenderam ninguém. A partir de agora, vamos acompanhar as peripécias de Joaquim para provar a Anna que foi enganado por Elvira e torcer para que ele descubra que não é pai da criança, como diz a atriz.
Gosto de “Novo Mundo” e acho bom o texto de Thereza Falcão e Alessandro Marson. Mas uma vez que a trajetória dos personagens históricos, como Dom Pedro e Leopoldina, já é conhecida, não seria o caso procurar surpreender mais com o drama dos mocinhos?
É da tradição do folhetim, gênero do século 19 ao qual a telenovela paga tributo, a criação de situações deste tipo, construídas passo a passo, oferecendo ao espectador o prazer de adivinhar ou imaginar o que vai acontecer em seguida. Sempre foi assim.
Mas eu me pergunto se hoje, com tantas opções de boas séries ao seu alcance, com histórias engenhosas e surpreendentes, o espectador ainda se encanta ou tem prazer de ver um enredo se desenrolar exatamente como ele imaginou.
Muita gente defende que a novela é um gênero imutável. Tenho dúvidas. Estou aqui pensando alto, com muito mais dúvidas do que certezas. E aberto a ouvir opiniões sobre isso.
Suspeito que hoje em dia, confrontado com histórias que o desafiam e “enganam” a cada capítulo, como ocorre em qualquer boa série, o público tenha menos paciência com novelas que apostam neste modelo tradicional, em que o enredo vai se revelando exatamente como imaginamos.
É claro que nem todas as novelas atuais se subordinam a esse padrão. É nítido o esforço de vários autores em criar histórias ágeis, com rumos inesperados e situações não imaginadas pelo espectador.
“Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro, é o primeiro exemplo sempre lembrado de novela adaptada aos dias atuais – ágil, repleta de ganchos e mudanças de rumo. Aguinaldo Silva é outro autor nitidamente preocupado em não deixar que o espectador preveja os passos de suas histórias.
Muitas novelas, de diversos autores, nos últimos anos, conseguiram isso. Cito uma, atualmente no ar: “Rock Story”, a trama das 19h30 da Globo.
Maria Helena Nascimento tem obtido êxito em fazer esta comédia romântica avançar com surpresas o tempo todo. É verdade que, em alguns momentos, apelou a truques muito batidos, como a falsa gravidez de Diana (Alinne Moraes), ou a tramas estapafúrdias, como a da secretária, Nanda (Kizi Vaz), que causou a separação de Gordo (Herson Capri) e Eva (Alexandra Richter).
Mas, nesta altura do campeonato, prefiro uma trama absurda em meio a uma boa novela do que uma previsível.
Fonte: Maurício Stycer, do UOL
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