Bianca Bin está diferente. A atriz de 22
anos, no ar agora em “Guerra dos sexos”, diz não ser mais a “menina do
interior, insegura” que estreou em 2009 na Globo. Carolina, a primeira vilã de
uma carreira iniciada há quatro anos, com a mocinha Marina, de “Malhação”,
marca uma mudança de fase profissional para ela. E isso não tem nada a ver com
o fato de a personagem criada por Silvio de Abreu para a trama das 19h ser uma
jovem dissimulada e ambiciosa.
— Eu apanhei muito. Era uma menina do
interior muito insegura. Descobri que as pessoas puxam seu tapete sem motivo
aparente. Sabia que o mundo não era Itu (cidade do interior de São Paulo onde
foi criada). Mas aprendi a construir os meus escudos. Hoje não chego para
trabalhar sem fazer uma oração — confessa.
O que não quer dizer que a atriz tenha
adotado uma postura sisuda. Sentada na mureta de uma área externa do Projac,
uma falante Bianca interrompe algumas vezes a entrevista com a Revista da TV
para cumprimentar quem passa por ela no centro de produções da TV Globo,
demonstrando ser querida em seu ambiente de trabalho. Apesar de estar
completamente à vontade ali, ela se diz mais cautelosa com o que a cerca agora.
— Aqui no Projac existem pessoas muito
diferentes de você. É muita gente, e isso atrai vários olhares e muita energia.
Eu contava a minha vida para todo mundo. Passei a ter um cuidado a mais —
admite.
Essa mudança teve um preço. Bianca se
reavaliou durante os nove meses de intervalo que separaram o início das
gravações de “Guerra dos sexos” e o fim de “Cordel encantado” (2011), seu
trabalho anterior. Apesar do cansaço por ter emendado três novelas — ela fez
ainda “Passione” (2010) logo na sequência de “Malhação —, a atriz se percebeu
estranha no período em que ficou fora do ar. E mais ansiosa.
— Na época de “Malhação” eu passava 12 horas
aqui dentro, de segunda a sábado. Não trabalhei tanto assim nem em “Cordel”, em
que também era a protagonista. Mas gosto disso. Vinha de três novelas seguidas
e me senti vazia quando parei — revela a atriz.
Mesmo com a segurança de ser contratada da
emissora, Bianca precisou de ajuda para encontrar um equilíbrio durante sua
entressafra na TV.
— Sei que para um ator é importante descansar
a imagem. Mas comecei a ter crise de ansiedade e desenvolvi um pequeno pânico.
O Pedro (o ator Pedro Brandão, marido da atriz) teve síndrome do pânico e
identificou os sintomas em mim — recorda Bianca, já recuperada do problema.
Com a análise, iniciada no período em que
ficou fora do ar — e interrompida agora justamente por conta das gravações de
“Guerra dos sexos” —, a atriz descobriu que aquele tempo distante do ambiente
de trabalho seria extremamente importante.
— Todo mundo precisa de terapia. Dei o braço
a torcer e foi incrível. Tive tempo para olhar para dentro de mim e me cuidar.
Hoje estou mais segura e mais bem resolvida comigo mesma — reflete.
Apesar da confiança conquistada, Bianca não
esconde que o convite de Silvio de Abreu para fazer Carolina a preocupou no
começo.
— Foi a minha primeira personagem conquistada
sem teste e senti o peso de ter que corresponder. Silvio apostou em mim e fui
para o horário nobre (“Passione” foi escrita pelo autor de “Guerra dos sexos”)
ainda muito nova, saindo de “Malhação” — lembra a atriz.
Sorrindo, ela lembra a conversa que teve com
o autor ao telefone antes da estreia da novela. A atriz garantiu a ele que
estava preparada para fazer a personagem de Lucélia Santos na primeira versão
da trama exibida em 1983. Mesmo sem acreditar no que dizia.
— Eu estava insegura, mas não podia
demonstrar. Passou tudo pela minha cabeça naquela ocasião. Achei que não daria
conta. Fiquei nove meses parada depois de “Cordel”. Você acha que esqueceu como
é, que não vai mais conseguir fazer aquilo. Como atriz eu sou mais insegura do que
como pessoa — pondera.
Hoje já à vontade como a vilãzinha que
considera “uma pessoa tão equivocada que chega a ser engraçada”, Bianca assume
achar mais fácil interpretar uma mulher muito diferente dela. Depois de três
mocinhas, a atriz enxerga em Carolina a oportunidade de “mostrar um outro
lado”.
— Ela não é politicamente correta — observa.
O autor de “Guerra dos sexos” afirma nunca
ter tido dúvidas da capacidade da atriz. E vai além ao classificar Bianca como
“uma das melhores atrizes de sua geração”.
— Carolina é um dos personagens mais
emblemáticos e lembrados de “Guerra dos sexos” e a responsabilidade era grande.
Bianca conseguiu criar uma Carolina bem diferente da original, fazendo com que
o personagem pertencesse totalmente a ela em 2012 e 2013 como em 1983 pertenceu
à Lucélia Santos — elogia Silvio.
Para o autor, o trabalho de Bianca só tem
crescido desde o teste que ela fez para “Passione” e que resultou em sua
escalação para interpretar a Fátima daquela trama.
— Ela vem sendo merecidamente valorizada.
Depois de “Passione”, Bianca foi protagonista em “Cordel encantado” e fez um
trabalho comovente. O que mais me chama a atenção nela — além, evidentemente,
da sua beleza, sua pele de porcelana e seus encantadores olhos azuis — é o seu
empenho e competência para fazer qualquer tipo de personagem.
Bianca Bin começou a estudar teatro aos 12,
deixou a casa dos pais, em Itu, aos 16, estreou na TV aos 19, e, hoje, aos 22,
já passou por todos os quatro horários de novelas da Globo. Aos 21, em maio passado,
se casou com o ator Pedro Brandão.
— Talvez pareça ser mais madura do que sou,
mas tenho uma vida de gente grande. Casei-me muito cedo e precisei evoluir
profissionalmente em pouco tempo — justifica.
A menina solta do interior, que andava
livremente de patinete pela rua, trocou o conforto da casa onde cresceu — ela
nasceu em Jundiaí, mas foi para Itu ainda bebê — para morar com outras três
jovens em São Paulo durante a adolescência.
— Uma prima já vivia lá, e os meus pais
concordaram com a minha decisão precoce — recorda a atriz, que cresceu ajudando
a mãe na sorveteria mantida pela família no térreo do sobrado onde eles viviam.
Na capital paulista, além de concluir o
ensino médio, Bianca cursava a escola de teatro Célia Helena e vivia atrás de
testes para publicidade para ter uma renda:
— Morava em Perdizes e saía sozinha para os
testes. Descobria o número dos ônibus e ia. Era agenciada e fiquei um ano e
meio nessa vida de testes. Mas nunca passei para nenhum comercial. Nem anúncio
de bolacha eu fiz. Claro que ficava deprimida.
O fato de estar por conta própria em São
Paulo não a fez desviar o seu foco:
— Eu tinha mais liberdade, mas também existia
um medo grande de fazer besteira e desapontar os meus pais. Em Itu, comecei a
namorar cedo e ia aos shows da banda do meu namorado. Se chegasse tarde, ficava
de castigo. Nunca fui inconsequente.
Depois de um período sem qualquer
oportunidade profissional, Bianca teve a sua primeira vitória. Após uma bateria
de cinco testes e uma espera de um mês pelo resultado, ela passou para a
Oficina de Atores de Globo, em 2008:
— Quase perdi esse teste porque peguei o
ônibus errado e cheguei muito atrasada lá na Globo de São Paulo. Liguei para a
minha mãe chorando, mas consegui entrar.
O fato de ter sido selecionado para a Globo
deixou Bianca balançada. A atriz ficou dividida entre o curso de teatro em São
Paulo e a oficina, no Rio. Acabou optando pela segunda oportunidade.
— Eu me encontrei no Rio. Ainda nem sabia que
queria ser atriz, mas já sabia que gostaria de morar no Rio. E no Leblon, por
causa das novelas do Manoel Carlos — entrega.
A nova mudança de cidade foi apoiada pela
família.
— Sou muito apegada à minha mãe. Falo com ela
30 vezes ao dia pelo rádio. Aliás, devo ser a única atriz que não tem um iPhone
— observa.
A decisão de oficializar a relação com Pedro,
com quem já morava há um ano, também foi pensada em função da família.
— Os meus pais tiveram outra educação e são
muito dramáticos. Sentia falta de oficializar a minha situação para dizer a
eles que eu não estava perdida neste mundo. Mas eu ainda sonho em me casar
vestida de noiva — revela a atriz.
Ao falar do marido, Bianca demonstra que
construiu uma base sólida com ele:
— Não foi uma paixão avassaladora, apesar de
eu ser muito intensa. As pessoas acharam uma loucura eu ter me casado cedo. Mas
o que eu e o Pedro vivemos juntos não é para contar. Só nós sabemos o tamanho
disso. Foi um grande encontro. Durante “Cordel”, eu chegava em casa e chorava
depois de um dia longo de trabalho. Ele estava do meu lado, me apoiou, me deu
equilíbrio.
Recentemente, Bianca lidou com boatos —
desmentidos por ela à Revista da TV — de que estaria grávida. Ela conta que o
marido, de 27 anos, quer ser pai até os 30. Para ela, ter filhos também é um
sonho, ainda que a atriz esteja à espera do momento certo.
— Será a minha fase mais realizada. Mas tenho
apenas 22 anos e quero voltar a estudar. Digo ao Pedro que ele se casou com uma
pessoa mais jovem e que será preciso esperar um pouco mais.
Fonte: O Globo
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