"E
eu saio sem ela [a seringa com
injeção letal] pra algum lugar? No nosso ramo, a gente não sabe quando
vai
precisar", disse a gélida Lívia Marini, personagem de Claudia Raia em
"Salve Jorge", após matar a pobre Jéssica de Carolina Dieckmann no
capítulo desta terça (22) da novela. Muita gente riu e a cena virou
motivo de piadas nas redes sociais, como a da foto acima, mas a
intérprete da vilã
mais dura e fria da TV atualmente foi categórica ao afirmar que "a
história da seringa é verdade".
Trabalhando cerca de 15 horas por dia e tendo
que se revezar entre São Paulo, onde protagoniza o musical "Cabaré",
e as gravações da novela no Rio, Claudia Raia achou uma brecha na agenda para dar
esta entrevista e contar os destinos de sua personagem que, em breve, irá se
apaixonar por Théo (Rodrigo Lombardi). "O amor será sua ruína". Leia
a entrevista:
A Lívia
até agora foi uma personagem que agiu sempre nos bastidores. Finalmente ela
teve que botar a mão na massa. Ela vai enfim sair da sombra e passar a agir?
Na verdade isso foi uma estratégia da Glória
[Perez, autora da novela]. A mandante da vida real nunca aparece. Tanto que nem
nas pesquisas e nos workshops tivemos acesso à ficha criminal de uma pessoa
dessas. Elas sempre agem nos bastidores, sempre têm capangas que fazem o
serviço sujo, embora, na real, sejam as mais bandidas de todas. Só que em
dramaturgia isso não rola. Porque vilã é quem age. Então a partir de agora ela
se expôs de um jeito que não tem mais volta.
Na
internet, entre jornalistas e telespectadores, muita gente riu do diálogo entre
a Lívia e a Wanda [Totia Meirelles] sobre a seringa usada para matar a Jéssica.
De onde saiu isso?
Essa história é verdadeira. A gente soube
disso por meio de depoimentos de pessoas que foram vítimas do tráfico. Eles usam
esse tipo de injeção porque é a única forma de matar rápido e sem deixar
rastro. É um coquetel de drogas que aparece como overdose. As resoluções no
tráfico têm de ser rápidas. As pessoas falam que não é verossímil porque não
têm a menor ideia do problema. A gente conversou com uma mãe que relatou a
história de sua filha que foi traficada para Viena, na Áustria, e que se
rebelava como a Morena e a Jéssica. Ela tentou fugir uma vez e foi pega.
Apanhou, ficou cheia de escoriações. Quando se recuperou, tentou fugir de novo.
Tinha um bar brasileiro a uma quadra do lugar e ela tentou chegar até lá. O
traficante a pegou na esquina. Pouco tempo depois o corpo dela apareceria
degolado e nu, no meio da rua, no meio da neve. Vimos fotos disso. Eu fui pra
casa completamente chocada naquele dia.
A
Morena vai mesmo cair na conversa da Lívia?
Completamente. Ela é diferente da Wanda e do
Russo [Adriano Garib], que são dois brutos. A Lívia é sofisticada e, portanto,
sedutora.
Mas
como a Morena opta, entre a própria mãe, o namorado que é do Exército e a
madrinha que é delegada, contar sua história exatamente para a Lívia, que é uma
completa desconhecida?
O Théo e a Lucimar [Dira Paes] são
completamente passionais. Imagina se eles iam se controlar? Acha que a Lucimar
não ia contar essa história para o Russo? E aquele carro preto que fica
passando no [morro do] Alemão para vigiar a família dela também existe. Se a
delegada resolve prender alguém. Se tiver qualquer movimento da polícia, os
familiares dela morrem na hora. Tem outra garota com quem conversamos que
conseguiu fugir porque a polícia conseguiu desbaratar uma dessas boates.
Mudaram de cidade várias vezes e as ameaças continuaram. Continuaram sendo
vigiados, o carro preto passava em frente da casa o tempo todo. Eles levaram 15
anos para ter coragem de falar, porque eram muito pobres. A gente tem apenas
uma pequena ideia de como funciona.
Como
foi gravar a cena da morte da Jéssica?
A gente gostou por causa do desafio né? Foi
uma cena dura de fazer. Porque era pesada e porque era a despedida da Carol
[Dieckmann]. A gente ria, porque ela ficava o tempo todo perguntando se a
agulha não iria furá-la de verdade. No total foram quatro dias de gravações da
sequência toda e cerca de 16 horas. Tenho trabalhado de 15 a 16 horas por dia.
E teve o desafio de me manter fria enquanto "matava" uma pessoa. Teve
só aquela mexidinha de boca, porque a Lívia tem alguns prazeres. Comer bem,
beber, gastar dinheiro e matar. Ela não muda de expressão. Parece de cera. Eu
não acho que ela seja uma pessoa que a vida tornou má. Ela é má de nascença.
Meio doentinha, sabe?
Quem
vai derrubar a Lívia? A Morena?
Quem derruba a Lívia é o amor. Porque a
partir de agora ela vai se apaixonar pelo Théo. É isso que vai quebrá-la.
Porque todo mundo fala (e é proposital) que ela é toda dura. E ela é mesmo. E
aí aparece esse homem, que vai começar a impedir a Morena de seguir as ordens
dela. E ela se pergunta quem é esse homem... Inclusive ela não vai perceber de
cara que está apaixonada, porque ela nunca teve que lidar com o amor. E isso
vai desestruturá-la completamente. E o embate entre ela e a Morena é exatamente
esse, porque ela percebe que a sua traficada é também sua maior rival.
Fonte: UOL
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