quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

“Lado a Lado” é o “Direito de Nascer” da vez


A primeira novela a causar comoção generalizada no público, considerada um fenômeno de repercussão, foi “O Direito de Nascer”, em 1965, apresentada em São Paulo pela TV Tupi e no Rio de Janeiro pela TV Rio (bem como no resto do país, pelas suas retransmissoras).  Foi a partir dela que os executivos de televisão se deram conta do poder que o gênero telenovela podia exercer sobre as massas.

A história importada (o original é do cubano Felix Caignet) era o mais puro folhetim, repleto de ingredientes que hoje servem de base para qualquer telenovela. Amores impossíveis, ódio entre famílias, paternidade desconhecida, nada disso é original, mas a forma diferente de se contar uma mesma história garante a sobrevivência das telenovelas até hoje.

“Lado a Lado”, o atual folhetim das seis horas da Globo, é a “O Direito de Nascer” da vez. Existe muita similaridade entre as duas tramas. O menino Elias (Cauê Campos), o filho da heroína Isabel (Camila Pitanga), foi tomado dos braços da mãe no nascimento e criado por outra. A mocinha foi renegada pelo pai, por sua desonra – ficou grávida sem ter se casado, e de um homem que a abandonou – Albertinho (Rafael Cardoso). A criança teve seu crescimento custeado, mas mantido em segredo, longe de seus verdadeiros pais. Depois de crescido, o menino foi desprezado pelo pai, que não sabia que ele era seu filho. Segredos, revelações, choro, mágoa, corações dilacerados.

A trama que atualmente vai ao ar em “Lado a Lado”, apresenta quase a mesma história de “O Direito de Nascer”, com alguns detalhes diferentes, aqui e ali. E, não por menos, foi nesta fase da novela das seis – em que o melodrama fala mais alto – que ela conquistou sua melhor audiência e está chamando a atenção de toda a mídia especializada. “Lado a Lado” vinha amargando o título de “a menor média de audiência da história”. Produção requintada, bem dirigida, elenco afiado e texto vigoroso não pareciam o suficiente para cativar o telespectador.

Antes, um tanto quanto didática demais, mais preocupada em mostrar fatos históricos e em traçar um panorama da sociedade carioca da década de 1910. Foi só mexer na base dos sentimentos humanos que a trama passou a chamar a atenção. A novela é escrita pela dupla de iniciantes João Ximenes Braga e Cláudia Lage. Mas tem a supervisão de texto de Gilberto Braga, que, ao que parece, exerce uma forte influência sobre seus pupilos.

Quem conhece a obra de Gilberto, consegue enxergar em “Lado a Lado” várias de suas nuances. Só para exemplificar: foi na trama de época que ele se lançou como novelista (“Helena”, “Senhora”, “Escrava Isaura”, e – mais tarde – “Força de um Desejo”), e a vilã carreirista e preocupada com a sua posição perante a sociedade (Baronesa Constância/Patrícia Pillar) é o tipo mais recorrente em sua galeria de personagens.

Mas os autores acabaram por cometer em “Lado a Lado” o mesmo erro da trama anterior de Gilberto, “Insensato Coração” (da qual João Ximenes Braga foi colaborador): cozinharam a novela em fogo brando por mais de cem capítulos para só depois, a partir do entrecho folhetinesco, a trama fluir de verdade – quando Isabel descobre que seu filho está vivo. “Insensato Coração” só conquistou a audiência quando a personagem Norma (Glória Pires) deixou a prisão e iniciou seu plano de vingança, após o centésimo capítulo.

Nathalia Timberg e Amilton Fernandes em “O Direito de Nascer”

Talvez se, desde o início, os autores de “Lado a Lado” tivessem dosado melhor o melodrama com o panorama histórico, quem sabe a média de audiência hoje estaria mais alta. Resta saber se, em sua reta final, a novela se manterá neste mesmo patamar melodramático e de audiência. A preocupação primordial em contar uma boa história foi o que garantiu a repercussão uniforme de “O Direito de Nascer”, lá na década de 1960.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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