A primeira novela a causar comoção
generalizada no público, considerada um fenômeno de repercussão, foi “O Direito
de Nascer”, em 1965, apresentada em São Paulo pela TV Tupi e no Rio de Janeiro
pela TV Rio (bem como no resto do país, pelas suas retransmissoras). Foi a partir dela que os executivos de
televisão se deram conta do poder que o gênero telenovela podia exercer sobre
as massas.
A história importada (o original é do cubano
Felix Caignet) era o mais puro folhetim, repleto de ingredientes que hoje
servem de base para qualquer telenovela. Amores impossíveis, ódio entre
famílias, paternidade desconhecida, nada disso é original, mas a forma
diferente de se contar uma mesma história garante a sobrevivência das telenovelas
até hoje.
“Lado a Lado”, o atual folhetim das seis
horas da Globo, é a “O Direito de Nascer” da vez. Existe muita similaridade
entre as duas tramas. O menino Elias (Cauê Campos), o filho da heroína Isabel
(Camila Pitanga), foi tomado dos braços da mãe no nascimento e criado por
outra. A mocinha foi renegada pelo pai, por sua desonra – ficou grávida sem ter
se casado, e de um homem que a abandonou – Albertinho (Rafael Cardoso). A
criança teve seu crescimento custeado, mas mantido em segredo, longe de seus
verdadeiros pais. Depois de crescido, o menino foi desprezado pelo pai, que não
sabia que ele era seu filho. Segredos, revelações, choro, mágoa, corações
dilacerados.
A trama que atualmente vai ao ar em “Lado a
Lado”, apresenta quase a mesma história de “O Direito de Nascer”, com alguns
detalhes diferentes, aqui e ali. E, não por menos, foi nesta fase da novela das
seis – em que o melodrama fala mais alto – que ela conquistou sua melhor
audiência e está chamando a atenção de toda a mídia especializada. “Lado a
Lado” vinha amargando o título de “a menor média de audiência da história”.
Produção requintada, bem dirigida, elenco afiado e texto vigoroso não pareciam
o suficiente para cativar o telespectador.
Antes, um tanto quanto didática demais, mais
preocupada em mostrar fatos históricos e em traçar um panorama da sociedade
carioca da década de 1910. Foi só mexer na base dos sentimentos humanos que a
trama passou a chamar a atenção. A novela é escrita pela dupla de iniciantes
João Ximenes Braga e Cláudia Lage. Mas tem a supervisão de texto de Gilberto
Braga, que, ao que parece, exerce uma forte influência sobre seus pupilos.
Quem conhece a obra de Gilberto, consegue
enxergar em “Lado a Lado” várias de suas nuances. Só para exemplificar: foi na
trama de época que ele se lançou como novelista (“Helena”, “Senhora”, “Escrava
Isaura”, e – mais tarde – “Força de um Desejo”), e a vilã carreirista e
preocupada com a sua posição perante a sociedade (Baronesa Constância/Patrícia
Pillar) é o tipo mais recorrente em sua galeria de personagens.
Mas os autores acabaram por cometer em “Lado
a Lado” o mesmo erro da trama anterior de Gilberto, “Insensato Coração” (da
qual João Ximenes Braga foi colaborador): cozinharam a novela em fogo brando
por mais de cem capítulos para só depois, a partir do entrecho folhetinesco, a
trama fluir de verdade – quando Isabel descobre que seu filho está vivo.
“Insensato Coração” só conquistou a audiência quando a personagem Norma (Glória
Pires) deixou a prisão e iniciou seu plano de vingança, após o centésimo
capítulo.
Nathalia
Timberg e Amilton Fernandes em “O Direito de Nascer”
Talvez se, desde o início, os autores de
“Lado a Lado” tivessem dosado melhor o melodrama com o panorama histórico, quem
sabe a média de audiência hoje estaria mais alta. Resta saber se, em sua reta
final, a novela se manterá neste mesmo patamar melodramático e de audiência. A
preocupação primordial em contar uma boa história foi o que garantiu a
repercussão uniforme de “O Direito de Nascer”, lá na década de 1960.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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