Nayara Justino foi do céu ao inferno em um curto período de tempo. Dias depois de ser eleita a Globeleza do Carnaval de 2014, em concurso realizado pelo Fantástico, recebeu uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Seu tom de pele, "mais negro" que o das outras mulheres que haviam ocupado o posto nos anos anteriores, motivou a explosão de comentários racistas. Após o caso, ela deixou de participar dos programas da Globo e, em seguida, perdeu o contrato com a emissora. "Entraram em contato comigo e falaram 'Você não é mais a Globeleza', ponto. Eu me senti usada naquele momento. Passei por um concurso, ganhei e me tiraram do posto. Não tenho revolta. O problema é que não pude me defender. O mínimo era que eu devia ter tido um momento para fazer a minha defesa", desabafou a modelo em uma entrevista ao Programa do Gugu, exibida nesta quarta-feira.
Nayara conta que na época se sentiu desamparada e que não recebeu nenhum tipo de ajuda. "Não tinha como reagir. Eu não tinha voz. O que me deixou chateada depois foram todos esses movimentos 'Somos Todos Maju', 'Somos Todos Taís Araújo': mas por que não 'Somos Todos Nayara'? Eu apoio a coragem delas de expôr isso", revelou na entrevista para a Record.
Ela disse ter recebido indicações para não aparecer em público usando o título de Globeleza, para preservar a imagem da personagem da emissora. "Antes do Carnaval, eu pensei 'Ganhei o concurso, vou realizar meu sonho de ir ao Sambódromo'. Isso não aconteceu e me deixou muito triste", contou. Segundo Nayara, após a exibição da vinheta, todos os convites profissionais sumiram, ela ficou sem trabalho por muito tempo e acabou entrando em depressão. "Até hoje, eu choro e dói demais. Mas eu não quero passar essa imagem de menina sofrida. Eu acho muito importante o negro ter orgulho de si, ter orgulho da sua cor", disse na entrevista.
A controvérsia ganhou repercussão internacional e o jornal britânico The Guardian fez um documentário, no qual conclui que a demissão de Nayara de sua antiga emissora foi motivada pelo tom "escuro demais" de sua pele. O filme chamou a atenção da atriz negra Lupita NYong'o, vencedora do Oscar por 12 Anos de Escravidão (2014), que publicou uma foto de Nayara em seu Instagram e disse ter ficado encantada com a história dela. "Me deixou muito feliz. Por outro lado, fiquei triste de só ter esse reconhecimento lá fora, e não aqui no meu país. Tive que esperar um jornal lá de fora expôr isso. Mas me deixou mais motivada e com mais força ainda," desabafou.
Se os dias turbulentos marcaram o seu passado, nesta semana ela encontrou a redenção na tela da Record. Escalada para uma participação na novela Escrava Mãe, Nayara roubou a cena ao dar vida à sofrida Luena - mãe da protagonista Juliana (Gabriela Moreyra) -, uma africana traficada, estuprada e morta nos minutos iniciais da história. Bastante segura e com uma atuação convincente, foi difícil acreditar que este foi seu primeiro trabalho como atriz.
"As cenas que eu fiz tiveram uma energia muito forte. Como passei por muitas situações complicadas nos últimos ano, envolvendo preconceito, eu quis fazer o meu trabalho da melhor maneira, para que o público pudesse ver que uma negra não serve somente para sambar. Nós temos outros potenciais e temos que valorizar os nossos talentos", disse Nayara, em entrevista ao E+, do Estadão.
Nayara deve aparecer em novas cenas da novela, em momentos de flashback. Feliz com seu desempenho e com os elogios que recebeu da direção da Record, ela estuda novas possibilidades no meio artístico. "Vou estrear, em breve, um canal no YouTube com dicas de beleza para mulheres negras", antecipou.
Fonte: Veja
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