A sensação de desligar-se do mundo real no fim do dia para se divertir com uma história simples e otimista, e relaxar a cabeça sem precisar pensar muito – premissa que se aplica a “Êta Mundo Bom!”, a novela das seis que terminou nesta sexta, 26/08. Talvez, esta seja a principal explicação para seu sucesso, digamos, notável. “Êta Mundo Bom!” fecha com uma média final no Ibope da Grande SP de 27 pontos, a maior desde 2007. Nesse momento de crise (nacional, mundial, política, econômica, social), talvez tenha sido mesmo o melhor escapismo, depois da Rio 2016.
“Êta Mundo Bom!” une-se a outros sucessos de Walcyr Carrasco no horário das seis da Globo: “O Cravo e a Rosa” (2000-2001), “Chocolate com Pimenta” (2003-2004), e “Alma Gêmea” (2005-2006) – as duas últimas, com o mesmo diretor geral, Jorge Fernando. Como não poderia ser diferente, reconhecemos na novela que acabou muitos elementos das anteriores: melodrama, maniqueísmo, humor inocente e/ou pastelão, vilões terríveis, núcleo na fazenda com caipiras, bichinhos de estimação, casamentos desfeitos no altar, torta na cara, personagens arremessados no chiqueiro.
Muitos diriam que é “mais do mesmo” de Walcyr Carrasco. Pode até ser. Mas mesmo usando elementos já fartamente explorados, o autor é famoso pela carpintaria e competência em conduzir tramas e personagens irresistíveis ao seu público sem fazê-lo perder o interesse na história. Prova disso é que “Êta Mundo Bom!” não teve barriga e sempre havia algum acontecimento importante em cada capítulo. Outra prova: Carrasco é o novelista mais trabalhador da Globo. Desde que se estabeleceu na emissora, em 2000, escreveu 11 novelas, a maioria sucessos, número muito superior ao de seus colegas.
O tom brejeiro e inocente do núcleo da fazenda agradou em cheio o público, graças a personagens cativantes, de sotaque caipira com português errado, em situações pueris e engraçadas (como as referências ao “cegonho” e sua função no casamento). O mérito não é só do autor, mas também da direção e do afinado elenco. Sérgio Guizé, Elizabeth Savalla, Ary Fontoura, Camila Queiroz, Rosi Campos, Anderson Di Rizzi, Dhu Moraes e Flávio Migliaccio deram um show.
Do outro lado, o núcleo da cidade, em que o português culto na boca dos personagens firmou-se como uma assinatura do autor, com grande destaque para as atuações de Marco Nanini, Eliane Giardini, Bianca Bin, Flávia Alessandra e Ana Lúcia Torre. Entre eles, Débora Nascimento, como Filomena, a que era para ter sido a principal personagem feminina da trama, passeou entre o sotaque caipira e o português culto sem obter sucesso, comprometendo a mocinha da novela.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário