quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Balanço: as novelas que marcaram 2012


O ano de 2012 foi de altos e baixos para a nossa Teledramaturgia. A Globo, por exemplo, foi ao céu e logo em seguida desceu ao inferno. Os dois maiores sucessos de repercussão da década (as novelas “Avenida Brasil” e “Cheias de Charme“) foram substituídos pela maior queda em audiência da história. Mais uma prova de que apenas boas produções com algum diferencial prendem o telespectador atualmente. O público hoje tem mais opções que antigamente e cansou do mais do mesmo na TV.

“A Vida da Gente” - Com uma trama feminina por excelência, Lícia Manzo mostrou competência em sua primeira novela solo, apresentando um texto realista e sensível poucas vezes visto em nossa teledramaturgia. Com o horário das seis em pleno Horário de Verão, a novela enfrentou a baixa audiência do início ao fim, apesar da boa aceitação do público. Talvez uma explicação estivesse no excesso de drama, presente em todos os núcleos, em detrimento ao humor.

“Fina Estampa” - Um sucesso popular que alavancou a audiência do horário nobre da Globo, a trama de Aguinaldo Silva foi a novela de maior ibope dos últimos cinco anos. O autor uniu tramas surreais – entende-se sem compromisso algum com a realidade – com personagens caricatos – como a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o gay Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado) -, e uma heroína maniqueísta – Griselda (Lília Cabral), mulher batalhadora, mãe sofrida, boa e justa, concebida para criar empatia com o público que se identifica com essa figura idealizada. A aposta no tom farsesco e na comédia popular funcionou. Apesar do espaço que a vilã Tereza Cristina ganhou em detrimento à protagonista Griselda, foi o coadjuvante Crô que teve mais notoriedade. E acabou pulando da telinha para a telona do cinema.

“Aquele Beijo” - Miguel Falabella apresentou uma trama de humor espirituoso e inteligente, típica de seu universo. Mas faltou à novela uma história central empolgante. Foram as tramas paralelas, recheadas de bons personagens secundários, que fizeram a novela. A audiência, aquém da esperada, ficou à altura da história morna apresentada.

“Malhação” - Em agosto de 2011, a Globo estreou com grande alarde “Malhação Conectados”. Trouxe Ingrid Zavarezzi da TV a cabo para roteirizar a nova fase de sua tradicional novela teen, e a lançou prometendo tramas sobrenaturais repletas de mistério e suspense. Mas de nada adiantou. À medida que a audiência foi caindo, os temas paranormais foram sumindo da história. Novos roteiristas entraram para auxiliar Zavarezzi. As tramas de suspense saíram, o romance ganhou mais destaque, mas o ibope continuou baixo. Em agosto de 2012, “Malhação” estreou sua atual fase, que mantem a tradição do programa, retratando o dia-a-dia de colegiais, seus namoricos e problemas pessoais e familiares dentro e fora da escola. Com uma cara mais moderna e foco maior em adolescentes, a novelinha enfrenta a baixa audiência atual que assola a TV aberta.

“Vidas em Jogo” - A autora Cristianne Fridman soube despertar a atenção do público promovendo reviravoltas e pontuando a novela com momentos chave durante os longos onze meses em que a trama esteve no ar. Assassinatos em série, personagens com HIV e viciados em crack e até uma transexual foram o chamariz para despertar a curiosidade do público, que respondeu à altura e manteve a audiência do horário para a Record.

“Rebelde” - A primeira temporada da novela teen terminou em março de 2012 dando lugar à segunda temporada, que desgastou a grife e fez despencar a audiência. Prejudicada pelas constantes mudanças de horário, a trama apelou para a “vampiromania” e RPG sem sucesso. A crise maior instaurou-se com a estreia de “Carrossel” no SBT, que lhe tomou o posto de segunda colocada na audiência. A autora Margareth Boury acabou deixando a novela antes de seu término. “Rebelde” teve seu fim precipitado e terminou melancolicamente, com brigas e revolta nos bastidores. Apesar dos percalços, é inegável a repercussão junto aos fãs nas mídias sociais e nos shows da banda formada pelos atores da novela.

 “Corações Feridos” - Os 100 capítulos da novela de Íris Abravanel foram gravados entre março e agosto de 2010. Sua estreia foi sendo protelada, até que finalmente o SBT decidiu desengavetá-la. Puro folhetim, com todos os clichês possíveis do gênero, esta produção do SBT manteve o ranço melodramático da novela xicana original na qual foi inspirada – apesar de elementos nacionais incorporados à trama, como a trilha sonora e ambientações.

“Amor Eterno Amor” - Elizabeth Jhin apresentou uma trama folhetinesca diluída em um discurso filosófico e doutrinário com temas espiritualistas. Mas, ao impor uma doutrina em detrimento à história romântica, exagerou na dose religiosa, o que levou ao didatismo monótono. A trama ainda se arrastou por meses e a autora só apressou sua história no final. Os maiores destaques foram os vilões vividos por Cássio Kis Magro e Osmar Prado – Melissa e Virgílio.

“Avenida Brasil” - Um verdadeiro fenômeno de repercussão, a novela de João Emanoel Carneiro virou coqueluche na Internet , provando que a telenovela pode se aliar à rede, e não encará-la como uma concorrente. A “nova classe C” retratada na trama cativou todas as classes. Como em um jogo de certo ou errado, o autor brincou com as nuances simbólicas de ricos e pobres, elaborando uma crítica social muito pertinente. Adriana Esteves se consagrou na interpretação antológica da vilã Carminha, o melhor papel de sua carreira até então. No elenco, bem dirigido, destacaram-se também Débora Falabella, Murilo Benício, Marcello Novaes, José de Abreu, Vera Holtz, e muitos outros. “Avenida Brasil” transgrediu a fórmula do folhetim clássico ao apresentar uma história de vingança em detrimento à história de amor, com uma heroína de personalidade dúbia (Nina). A estética cinematográfica e o ritmo alucinante da trama – sempre com ganchos bombásticos, o que aproximou a novela dos seriados americanos – cativaram o telespectador e fidelizaram a audiência. Lamenta-se apenas que tenha perdido o fôlego na segunda metade para o final em função do horário eleitoral gratuito, que afastou muitos telespectadores da frente da telinha. O Brasil parou para assistir ao último capítulo – que chegou a ser noticiado pela imprensa internacional depois que um comício com a presidente Dilma Rousseff foi adiado para evitar a concorrência com o final da novela.


“Cheias de Charme” - A primeira novela da dupla de autores Filipe Miguez e Izabel Oliveira trouxe de volta o sucesso ao horário das sete da Globo e teve o mérito de tirar proveito da Internet, transformando-a numa poderosa aliada: a novela foi pioneira na ação de transmedia, com o lançamento do clipe das Empreguetes primeiro na rede, depois na novela. A indústria do entretenimento real misturou-se ao entretenimento da ficção, com os cantores da novela dividindo o palco com vários cantores reais. A identidade visual deu o tom que o roteiro exigia.  O colorido dos shows de technobrega inspiraram os cenógrafos, figurinistas e a direção de arte. Cláudia Abreu brilhou com os figurinos exagerados e a interpretação da desastrosa vilã Chayene, sempre acompanhada de sua “personal curica” Socorro (a revelação Titina Medeiros). Apesar de toda a repercussão, registra-se a perda de agilidade em sua narrativa após o sucesso das Empreguetes como cantoras, a partir da segunda metade da trama.

“Máscaras” - Problemática atração da Record, a novela de Lauro César Muniz causou estranhamento logo no início: uma direção equivocada e um texto por demais confuso afastaram o telespectador. A emissora viu seu Ibope cair vertiginosamente, o que acabou por deflagrar a pior crise no setor de Teledramaturgia desde que foi renovado, em 2004. A novela teve seu horário de exibição trocado várias vezes, causou desconforto entre elenco e o autor (a atriz Luiza Tomé reclamou publicamente da novela e do autor), e culminou com a troca do diretor e a antecipação de seu término. Parte do elenco divulgou na Internet uma carta em que culpava a mídia pela repercussão negativa da novela. Mas o estrago já estava feito.


“Carrossel” - Um dos maiores êxitos do ano na televisão, a novela adaptada por Íris Abravanel (a partir do original mexicano) espantou até os dirigentes do SBT, que não esperavam esse sucesso todo. “Carrossel” tornou-se um fenômeno de audiência para os padrões atuais da emissora e lhe devolveu o segundo lugar no horário nobre, desbancando a Record. Novela com público fiel e certo – o infantil -, sua repercussão reflete a carência deste tipo de programação no horário nobre da TV aberta brasileira. A novela conseguiu atrair o público que estava nos canais pagos ou até mesmo longe da televisão.

 “Gabriela” - A nova adaptação para o romance de Jorge Amado – feita por Walcyr Carrasco – não marcou a história da TV como a primeira versão, de 1975, mas manteve uma boa audiência no horário das onze da noite. Elenco e direção competentes numa produção requintada, desde a abertura até cenários, figurinos, fotografia e a trilha sonora saudosista, que trouxe de volta algumas das músicas da novela da década de 1970. Os bordões “Vou lhe usar” (do Coronel Jesuíno/José Wilker) e “Jesus Maria José!” (de Dona Dorotéia/Laura Cardoso) se popularizaram e viraram memes na Internet. José Wilker e Laura Cardoso foram os grandes destaques no elenco.

“Lado a Lado” - A novela das seis – de autoria dos novatos João Ximenes Braga e Cláudia Lage – é a melhor atualmente no ar, mas amarga uma baixa audiência desde sua estreia, prejudicada pelo Horário Político e Horário de Verão. Uma trama de época com nuances históricas narrada sem grandes arroubos, retratando um período poucas vezes visto na teledramaturgia. A produção requintada e o elenco afiado parecem pouco para despertar a atenção do telespectador.

“Guerra dos Sexos” - Este remake da famosa novela de Silvio de Abreu da década de 1980 também sofre na audiência. Se não deslanchou depois de três meses no ar, dificilmente conseguirá. Aos olhos de hoje, a luta das mulheres pela conquista de um espaço na sociedade dominada por homens soa anacrônica. O autor até tirou o foco da disputa entre machistas e feministas, mas a direção optou por uma linha de humor mais ingênuo, que, no ar, soa bobinho demais. Na verdade, “Guerra dos Sexos” mostrou-se ser uma escolha equivocada para um remake.

“Balacobaco” - A Record antecipou o fim de “Máscaras” e colocou às pressas no ar essa história de Gisele Joras. Mas de nada adiantou. Nem o tom excessivamente popularesco da trama tem chamado a atenção do público. A novela tem uma pegada de comédia, é colorida, repleta de personagens caricatos e tem uma trilha sonora popularíssima. Une elementos de novelas das sete horas da Globo com trilha semelhante à de “Avenida Brasil”. Mas faltam personagens e histórias cativantes. Se “Máscaras” ficou marcada pela repercussão negativa, “Balacobaco”, com uma audiência ainda menor, nem sequer repercute.

“Salve Jorge” - Com a menor média de audiência da história até o momento, a novela de Glória Perez tem enfrentado a rejeição do público e críticas por toda parte, seja pela repetição de temas e elenco, pelo número excessivo de personagens, ou pelas dancinhas e bordões estrangeiros que já não despertam mais tanto interesse como na época de “O Clone”. E a sensação de déjà vu é tão grande que a Turquia da novela parece uma mistura de Marrocos com a Índia.

Mas o inimigo maior de “Salve Jorge” é a novela anterior, “Avenida Brasil”, que acostumou mal o telespectador com uma trama ágil, deixou muitos “viúvos apaixonados” e tem uma grande diferença com a trama de Glória Perez: narrativa e esteticamente falando. O sabor de novidade de “Avenida Brasil” foi substituído por uma novela conservadora e já conhecida do público. Apesar de o tráfico humano abordado na trama ser uma novidade bem vinda.

Fonte: Nilson Xavier, do UOL

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