É certo que “Geração Brasil” – a novela das
sete da Globo, que terminou nesta sexta, 31/10 – enfrentou um período difícil –
primeiro Copa do Mundo, depois as Eleições, que alteraram a grade da emissora.
Mas nem uma coisa nem outra justificam a sua performance. Decepcionou-se quem
esperava um novo mega sucesso ao estilo de “Cheias de Charme”, a trama anterior
dos autores, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. Um dos vilões de “Geração
Brasil” pode ter sido a expectativa do público e a responsabilidade dos autores
de repetirem um novo sucesso ante essa expectativa.
Ao tentar dialogar com o tradicional e
variado público do horário, “Geração Brasil” falhou ao mirar demasiadamente em
tecnologia: arregimentou o telespectador mais jovem e antenado, mas desprezou
quem não liga para o assunto. Passada a novidade inicial, percebeu-se um
esvaziamento da trama após a Copa do Mundo. Se não um esvaziamento, pelo menos
uma confusão entre as histórias, que pareciam patinar.
Deflagrou-se então um de seus principais
problemas: o público não sabia quem era o mocinho e quem era o vilão. A novela
“A Favorita” (2008), de João Emanuel Carneiro, tinha o mesmo dilema. Bem
interpretadas, as antagonistas Flora e Donatella eram personagens fortes e
carismáticas, que caíram nas graças do público. Na novela das sete, Murilo
Benício levou dignamente seu Jonas Marra até o fim. Mas era um personagem pouco
cativante aos olhos do espectador. Na dúvida se era mocinho ou vilão, ficou
difícil a torcida.
Com o passar do tempo, a trama da novela foi
ficando mais clara e entrando nos eixos. No fim, percebemos a evolução de Jonas
Marra, do anti-herói ao homem que se redime. Era um bom personagem, e bem
interpretado. Mas, depois de seis meses, é de se questionar se não teria sido
melhor Jonas arrebatar o público desde o início – mantendo a sua dubiedade,
claro.
Enquanto isso, “Geração Brasil” foi se
sustentando no que tinha de melhor: o elenco. Taís Araújo (Verônica), Cláudia
Abreu (Pamela), Luís Miranda (Dorothy) e Leandro Hassun (Barata) apresentaram
os melhores trabalhos. Rodrigo Pandolfo, apesar dos exageros de seu personagem
Shin Soo, foi outro destaque. Humberto Carrão, Chandelly Braz e Isabelle
Drummond estiveram corretos, em um triângulo amoroso que prometeu mais do que
cumpriu. Já Lázaro Ramos, Renata Sorrah e Aracy Balabanian tiveram seus
talentos desperdiçados em papeis aquém de suas possibilidades.
Não é mais novidade que a audiência da
televisão aberta diminui cada vez mais com o passar do tempo. E “Geração
Brasil” não escapou desta incômoda curva descendente. A média final no Ibope da
Grande São Paulo ficou em 19 pontos, menor que a novela anterior, “Além do
Horizonte” (20 pontos) e bem longe de “Cheias de Charme” (2012), a última do
horário a alcançar uma média final de 30 pontos em São Paulo.
Apesar dos pesares, “Geração Brasil” sugeriu
uma questão cara para a atualidade: o que o novíssimo público de televisão,
beneficiado com a inclusão digital, espera da TV aberta brasileira. Foi uma
novela pretensiosa, que propôs um “link” (para usar um termo moderno) entre o
bom e velho folhetim e os anseios do público moderno. Mas falhou justamente em
sua essência: exagerou ao tentar dialogar com a modernidade e subestimou o bom
e velho folhetim. Esta discussão precisa ser maturada ainda. Demanda mais tempo
e experiência.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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