Ele podia te optado por ser apenas neto de
Silvio Santos, e ter uma vida bem confortável. Mas Tiago Abravanel, 23 anos,
quis mais, quis ser ator. Não de novelas do SBT - apesar de já ter atuado em
uma trama da emissora do avô, a convite do autor Tiago Santiago -, mas de
musicais, uma paixão que cultivou desde criança vendo desenhos da Disney.
“Sempre fui fascinado pelos desenhos da
Disney, fascinado pela possibilidade de juntar interpretação, música e dança.
Aliás, sou um bailarino frustrado (risos)”, diz o gordinho, que no palco do
teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, bota para quebrar na pele de Tim Maia
no musical “Tim Maia - Vale Tudo”, que tem direção de João Fonseca, e é
inspirado no livro do jornalista Nelson Motta.
O caminho mais longo e improvável tem dado
certo. A primeira temporada, que iria até o dia 4 de setembro, lotou; a segunda
que foi estendida até o dia 11, esgotou, e Tiago já comemora a terceira
empreitada a partir do dia 30 no palco do teatro “Oi Casagrande”. “Tem cambista
na porta! Nunca vi isso em teatro”, diz ele.
Como
ficou sabendo do papel para viver Tim Maia?
Soube que tinham aberto testes para o papel
principal, que era muito específico. Mandei meu material e, na semana seguinte,
me falaram que eu tinha passado. A princípio, eu ia dividir o papel com outro
ator, mas na primeira leitura, o João Fonseca, diretor do espetáculo, disse que
gostou de mim e que eu podia fazer as duas fases do Tim.
Qual
era a sua ligação com Tim Maia?
Não era fã porque, quando ele morreu, eu era
muito novo. O Tim não fazia parte da minha vivência, mas sempre ouvia a música
dele em alguma festa. Mas nunca tinha pensado em cantar Tim Maia
profissionalmente.
A peça
é baseada no livro do Nelson Motta e conta uma história de vida muito louca. Em
algum momento você chegou a julgar ou se assustar com o Tim?
A gente sempre defende um personagem. Mas
nunca tinha feito um personagem que realmente existiu, uma figura que teve no
meio de muitas pessoas e ainda está no subconsciente de muita gente. Li o
livro, vi mais de 20 horas de vídeo, ouvi quase a discografia toda dele, além
de ter tido contato com pessoas que conviveram com ele. Tive um universo de
pesquisa muito grande, e já me peguei pensando: “Velho, olha o que você fez com
sua vida?” (diz em tom bravo), mas ao mesmo tempo, eu consigo entender. A
grande exposição da sua imagem, da sua arte, pode tirar seu pé do chão. Não
vale você ganhar o mundo e perder a si mesmo. O Tim era um artista, mas acima
de tudo, era um ser humano sem limites. Se ele podia ir até a página três, ele
ia até a cinco. Se ele podia cheirar seis carreiras de cocaína, ele cheirava
doze! Ele era extremista tanto para o lado positivo, quanto para o lado
negativo.
Você
tinha noção de que faria esse sucesso todo?
Quando me falaram sobre o musical, achei
muito bacana, e imaginei que no Rio de Janeiro haveria uma comoção maior por
ele ser daqui. Mas nunca imaginei que seria esse furacão. Tem cambista na
porta! Nunca vi isso em teatro. Antes de estrear, fizemos uma apresentação para
a imprensa, e as pessoas diziam que já era um sucesso antes de estreia. Depois
que estreou então, virou o que está sendo até hoje.
Quanto
tempo você teve de preparação?
Um mês e meio só, foi pouquíssimo tempo.
Estava gravando a novela “Amor e Revolução” quando me chamaram. Saí da trama em
três semanas. Comecei a ensaiar no dia 16 de junho, e no dia 28 de julho fazia
a primeira apresentação.
Você
teve que fazer alguma mudança física para o personagem? Engordar, por exemplo?
Nada! Muito pelo contrário! Até emagreci com
os ensaios, perdi quase sete quilos. Eu tinha bigode e barba na novela. Tirei a
barba, e deixei a costeleta e o bigode.
Imagino
que você sempre tenha sido gordinho. Isso já foi um problema na sua vida?
Sim, nasci bolota (risos)! Na adolescência,
tive crise sim. Como ator, já quis muito um personagem, mas não pude fica com
ele por estar acima do peso. Mas nunca me limitei por causa disso. No teste
para o musical “Miss Saigon”, por exemplo, me disseram que tinham gostado de
mim, mas teria que emagrecer. O segundo teste seria um mês depois, e emagreci
12 kg. Quando cheguei no ensaio, o povo me olhou e perguntou: “O que você fez?
(risos)”.
Agora,
vivendo o Tim, você já se pegou agradecendo ‘ainda bem que eu sou gordinho’?
Acho que na vida nada é por acaso. Na
adolescência, eu pensava que não ia conseguir trabalho. Hoje eu tenho noção de
que eu posso trabalhar e buscar personagens com o meu perfil. Dificilmente um
galã magrelo faria o Tim Maia. Nesse caso, eu que estou me dando bem(risos). No
caso do Tim, tive uma sorte porque raramente iam pensar em uma pessoa da
família do Silvio Santos vivendo o Tim Maia. Um branco? Cantando Tim Maia?
Talvez essa seja uma das surpresas para as pessoas quando me veem no espetáculo
e não veem mais o branquelo neto do Silvio.
Você já
sofreu preconceito por ser neto do Silvio Santos?
Acho que sofro um pouco até hoje. Acho que
agora, as pessoas têm oportunidade de conhecer meu trabalho e perceber que, se
estou aqui, é por um mérito, pelo meu esforço. Nunca tive nenhuma oportunidade
só pelo meu sobrenome. Obviamente que as pessoas me olham com outros olhos:
“Ele é neto do Sílvio Santos. Deixa eu ver o que vai sair daí” . Mas meu
trabalho é completamente independente do meu sobrenome. Mas já ouvi pessoas do
meio dizerem: “Ele só está na novela porque é neto do Silvio”, “Só está no
‘Miss Saigon’ por causa do Silvio”. Ninguém sabe que eu passei por sete testes,
que foi o Tiago Santiago que me chamou para a novela porque foi me ver no
teatro. As pessoas têm um pré-julgamento que me deixa muito triste, chateado
porque me reduzem a um sobrenome. Mas, graças a Deus, estou tendo um
reconhecimento que está fazendo as pessoas enxergarem o Tiago artista e não o
neto do Silvio Santos.
O que o
Silvio achou que você queria ser ator?
Quando decidi entrar para essa carreira, meu
avô teve uma conversa bem severa comigo. Ele disse: “Você tem certeza que é
isso que você quer fazer? Sua vida como meu neto já é complicada. Você entrando
no meio artístico e sendo parente de uma pessoa pública, sua vida vai virar uma
loucura. Você tem noção disso?”. Falei que não tinha noção de nada, mas que não
conseguia me ver fazendo outra coisa. Não consigo me ver trabalhando em um
banco ou atrás de uma mesa de escritório. Prefiria aprender a tocar violão e me
apresentar ao lado da barraca de coco (risos).
Alguma
vez ele já tentou te dar uma ‘cantada’ com algum emprego ou cargo no SBT?
Ele nunca falou abertamente sobre isso, me
jogando uma bola. Mas sempre fui muito independente. Minha mãe sempre me
orientou para correr atrás das minhas coisas. Claro que minha família me
ajudaria se eu tivesse passando necessidade, mas nunca precisei do meu avô para
fazer nenhum trabalho na minha vida. Quando me dei conta do que era ser de uma
família como essa, me preocupei. Pensei: se um dia isso cair no meu colo, o que
eu vou fazer? Fui estudar Rádio e Tv, para entender um pouco mais desse
universo, mas sentia muita falta do teatro, e larguei para a fazer a faculdade
de teatro, que acabei largando também para vir fazer a peça no Rio.
Ele já
veio te assistir?
Não veio ainda.
Não
tinha ingresso(riso)?
Não(risos)! Falei com ele semana passada, e
ele estava enlouquecido com compromissos profissionais. Ele vai esperar a
reestreia aqui no Rio e, se não conseguir, vai esperar quando a gente for para
São Paulo.
Por que
tantos musicais no currículo?
Sempre fui fascinado pelos desenhos da
Disney, desde pequeno. Sempre fui muito ligado à interpretação e a música. Meu
primeiro trabalho, ainda no prézinho da escola, foi os “Saltimbancos”, do Chico
Buarque. Depois, conheci uma escola voltada para musical e fiquei fascinado com
a possibilidade de juntar interpretação, música e dança. Aliás, sou um
bailarino frustrado (risos). Mas não sou só ator de musical, isso não impede de
eu fazer outras coisas. Não sou ator só de musical, nem só neto de Silvio
Santos (risos). Não gosto de rótulos.
Tem
alguma das frases clássicas do Tim Maia que te inspira de alguma forma?
Acho que a grande frase do Tim, que resume o
que eu estou vivendo, e o que era ele é: “Tudo é tudo, e nada é nada” (risos).
Fonte: EGO
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