terça-feira, 20 de setembro de 2011

Bruno Gagliasso quer punição para Timóteo


Os olhos azuis de Bruno Gagliasso brilham cada vez que ele fala de Timóteo, o vilão que interpreta em "Cordel Encantado". Nas ruas, escuta bronca das senhoras que assistem a trama escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid. "As avós me odeiam. Elas dizem: 'Timotinho não vale nada!'", diverte-se. O ator afirma que Timóteo não é um personagem distante. "Solto meus demônios com o Timóteo", avisa.

Bruno diz que o destino de seu personagem já está traçado. "Recebi as cenas secretas, mas ainda não gravei. O final dele é surpreendente", despista o ator. Mas antes do dia 23, quando "Cordel Encantado" termina, Timóteo ainda vai aprontar muito.

Leia a seguir a entrevista com o ator, em que ele fala do orgulho de fazer parte de uma novela das seis que tem uma audiência com média de 30 pontos - considerado um grande feito para o horário. 

Como você vê a evolução de Timóteo na trama?
Eu não esperava que Timóteo fosse um papel tão envolvente e tão terrível como ele é. Foi uma das maiores experiências profissionais da minha vida, isso se não for a maior. Quando a [diretora] Amora Mautner me chamou, ela disse: "Bruno, esse é o tipo de personagem que você ama fazer. Ela me conhece. Trabalhamos juntos em "Celebridade" e "Paraíso Tropical". Confio 100% nela e entrei de cabeça na novela. E Amora, mais uma vez, estava certa.

Como você avalia o sucesso de "Cordel Encantado", uma novela das seis que dá 30 pontos de média no Ibope?
Acho que "Cordel" entrou para a história por ser uma novela completa. Todos os atores estão inteiros nessa novela. Tudo é muito visceral. É a junção perfeita da arte com a ousadia. A trama é uma fábula, mas retrata muito do que acontece. Timóteo é o retrato dos coronéis que ainda existem no interior do Brasil, que colocam suas próprias regras. Através desse personagem, as autoras [Thelma Guedes e Duca Rachid] denunciam os poderes paralelos, como as milícias. Acho que "Cordel" deu muito certo porque retrata a realidade.

Antes da novela estrear, muito se falou sobre a probabilidade de o público aceitar ou não uma trama diferente como a de "Cordel Encantado". Você sempre acreditou no sucesso da novela?
Eu gosto do risco e da arte. Só assim a gente cria e fica inteiro. Se não for para correr riscos, qual é a graça? Um fator determinante para aceitar um personagem é justamente se ele for um risco. Isso me instiga. E eu quis correr esse risco.

Muita gente associa Timóteo ao Napoleão Bonaparte. Você se inspirou nele para o papel?
Me inspirei sim em Napoleão Bonaparte. O texto das autoras induziu isso. Ficou claro quando Napoleão tira a coroa das mãos do Papa e se intitula rei. Fiz uma cena assim, quando Timóteo tira a coroa das mãos do Cardeal. E Timóteo estudou os grandes reis da história para se inspirar.

O que você ouve nas ruas sobre Timóteo?
As crianças adoram porque elas associam a novela às histórias das princesas que fazem parte do cotidiano delas. Mas as avós me odeiam. É engraçado porque eu ouço muita bronca nas ruas. Elas dizem: "Timotinho não vale nada!". Algumas brigam comigo, mas depois sorriem. Mas a maioria só briga.

Os bordões de Timóteo caíram no gosto popular, como o "Timóteo, me mate!". Eles já vieram no texto?
Foi tudo invenção da minha cabeça. E o bacana é que as autoras deixam a gente fazer sem se importar com isso. Criei também o "Caladinho!" e o "Êta". Isso pegou até entre o elenco da trama. Jayminho [Matarazzo] não para de falar o "Eta". É gostoso ver isso.

Qual foi a cena mais difícil de fazer?
As mais difíceis são sempre as mais prazerosas. Gostei muito de ter feito as cenas da coroação de Timóteo. Quando ele virou coronel eu gostei... A cenas em que ele leva um tiro do Zóio-Furado [Tuca Andrada] também foi muito bacana, quando me visto de mendigo... Eleger uma só é complicado.

Como você definiria o Timóteo?
Ele é um cara que passa por cima de qualquer pessoa para conseguir o que quer. Ele é debochado e sarcástico. Ele é sádico, porque gosta de ver as pessoas sofrendo.

Você tem alguma coisa de Timóteo?
Claro! [risos] Todo mundo tem anjos e demônios como o Timóteo. O bacana é poder controlar os dois, mantendo um equilíbrio. Solto meus demônios com Timóteo. Falar que eu não tenho demônios é desmerecer esse controle. Claro que tem gente que é 90% anjo. Assim como tem gente que é 90% demônio. [risos]

Na sua opinião, a loucura de Timóteo pode ser comparada à esquizofrenia de Tarso, seu personagem em "Caminho das Índias"?
De jeito nenhum! Timóteo é um psicopata, demoníaco. Se fosse para comparar, acho que ele seria mais parecido com a Yvone [papel de Letícia Sabatella na trama de Glória Perez]. Timóteo não tem cura. O Tarso tinha cura e era isso o que a Glória tentou mostrar. Os esquizofrênicos sofrem com isso porque as pessoas confundem.

Como você gostaria que fosse o final de Timóteo?
Ah! Ele tinha que sofrer muito. Alguém tinha que conseguir colocar uma máscara de ferro nele e deixar ele lá, com a máscara, por um bom tempo. Depois, ele seria enforcado. Quero que ele sofra muito. 

"Cordel" está com poucos capítulos de frente. O elenco vai gravar até o dia 23. Trabalhar assim é mais complicado?
Toda reta final de novela é dessa forma. "Cordel" foi assim desde o começo. Foi uma novela em que os atores se doaram muito. A gente precisou se doar porque a gente grava cenas elaboradas, com um figurino caprichadíssimo e em muitos cenários distintos. Cada um deles tem uma luz diferente. Todos esses fatores que te falei fazem com que seja necessário um tempo muito grande para que a novela possa ir ao ar da maneira como está indo. 

Parece que o elenco ficou muito amigo. Isso é um facilitador na hora de gravar as cenas?
O elenco é muito sincronizado. É impressionante a minha amizade com a Bianca Bin [Açucena], o Domingos Montagner [Herculano] e o João Miguel [Belarmino]. Fiz grandes amizades que quero levar para sempre na minha vida. São pessoas maravilhosas e muito importantes.

Timóteo é seu primeiro papel em uma novela de Thelma Guedes e Duca Rachid e você está satisfeito com o resultado. O que você gostaria de dizer para elas neste momento?
Eu sempre digo alguma coisa quando a gente se encontra. Mas diria o seguinte: "Que venham outros Timóteos, Jesuínos e Herculanos por aí".

Você fala de "Cordel Encantado" com um orgulho enorme...
Acho que a Globo arriscou. Foi ousada ao colocar uma novela como essa no ar e abriu o caminho para próximas produções deste nível. Todo o elenco tem mesmo um imenso orgulho de ter feito parte de "Cordel Encantado". Para mim, essa novela revolucionou a história da TV.

Fonte: UOL TV

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