Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari se
conheceram quando ele era um adolescente. “Tinha 17 anos e já era um talento”,
lembra Adelaide. Na época, ele tinha feito a oficina de autores da Globo e foi
convidado para ser colaborador em ´Anjo Mau´. Logo em seguida, fez com ela ´A
Muralha´, ´Os Maias´ e ´A casa das sete mulheres´. “Depois trabalhou em três
novelas com João Emanuel Carneiro e, em TiTiTi, entreguei a ele o que nunca fiz
com ninguém: a escaleta de uma novela. Quem me conhece sabe que esse é um ato
de confiança. Dividir a autoria de ‘Sangue Bom’ foi consequência natural e
justa da trajetória que trilhamos juntos”, comenta a autora.
Jornalista, escritora e dramaturga, Maria Adelaide
é Portuguesa de Alfena - Conselho de Valongo - Distrito do Porto. Mas foi em
São Paulo que passou a maior parte de sua vida. Por isso mesmo suas histórias
contemporâneas se passam na cidade. “Eu preciso conhecer o que estou falando,
vivenciar”, explica. Vincent também é da capital. Foi criado no bairro do
Imirim, ao lado da Casa Verde, que servirá como um dos principais cenários da
novela. Ele lembra da infância das casas sem muros, da vizinhança que se
conhecia e se ajudava. É desta mistura de vivências e experiências que nasceu
‘Sangue Bom’. “Esse trabalho, essa troca, essa parceria é muito gratificante
pra mim”, assinala Vincent.
Como
nasceu o projeto da novela?
Maria
Adelaide:
Quando a Elizabeth Taylor morreu fiquei pensando no episódio e falei com o
Vincent sobre aquela figura tão emblemática. Depois, por circunstâncias
pessoais, liguei para ele e disse que gostaria de falar sobre adoção. Destes
dois assuntos foi surgindo a primeira personagem: Bárbara Ellen. E a partir dos
personagens foi nascendo a nossa história.
Vincent: Nós estávamos com a
intuição aberta... Juntando Elizabeth Taylor e adoção, como a Maria Adelaide
contou, surgiu um rascunho de Bárbara Ellen, que não foi inspirada em ninguém
específico. Foi apenas o desenho inicial dessa atriz que teve uma vida
sentimental muito agitada e que para se manter na mídia passou a adotar
diversas crianças como autopromoção. ‘Sangue Bom’ trata de assuntos muito
atuais, fala dessa carência das pessoas de serem amadas, de serem desejadas
pelo máximo de pessoas. Você precisa ter o máximo de seguidores nas redes
sociais, mas sem se dar ao trabalho da relação pessoal. O importante é possuir.
Quais
são os temas da trama?
Maria
Adelaide:
São muitos temas, mas basicamente: É sobre o ter e o ser, sobre essa
valorização excessiva da aparência, da notoriedade, da fama, da celebridade, e
do esforço absurdo e patético ou cômico ou as duas coisas juntas que as pessoas
fazem para se constituir famosas. Eu não tenho nada contra fama, contra a
notoriedade, mas acho que tem que ser o corolário de um trabalho bem sucedido,
reconhecido. O que me deixa desconfortável é a fama sem mérito e o sucesso sem
trabalho. A essência da novela é essa inversão de valores.
A
novela tem seis protagonistas: Bento, Amora, Giane, Malu, Maurício e Fabinho.
Como eles lidam como esta questão da inversão de valores?
Maria
Adelaide:
Eu parto de personagens. Eles constroem as suas tramas, que vão acontecendo de
maneira muito orgânica. Os personagens ganham autonomia. Enquanto Bento (Marco
Pigossi) construiu sua vida e seu futuro em cima de valores sólidos, Amora
(Sophie Charlotte) coloca todas as fichas na sua futilidade de sua imagem de
it-girl. Em resumo: os dois atuam em
áreas bem diversas, ambos trabalham duro mas, enquanto a alegria de Bento está
ligada ao afeto e à solidariedade, Amora compensa suas carências e frustrações
no consumo desenfreado e encontra satisfação no aplauso e aprovação do público.
O Fabinho é o nosso vilão, que poderia ser. Ele é movido pela inveja e pelo
ressentimento. E não percebeu que se esquecer esse ressentimento poderia ser
uma pessoa admirável. Ele tem esse potencial de transformação.
Vincent: Malu (Fernanda
Vasconcellos) é a antítese da Amora. Cresceu num lar cercado de amoralidade,
vendo aquela mãe, Bárbara Ellen, capaz de tudo para se manter na mídia. Ela
possui um senso moral muito forte. A Malu questiona e age. A Giane (Isabelle
Drummond) é uma menina muito delicada, de estrutura emocional muito doce. E,
para se defender, criou a armadura de menina zangada. Já o Maurício é um
adorável playboy. Ele gosta do que é bom da vida, mas herdou da mãe o caráter.
E ele segue seus princípios
Uma das
protagonistas da história, Amora (Sophie Charlotte), é uma it Girl. Como foi a
pesquisa desse “mundo”?
Maria
Adelaide:
Comecei a me interessar por moda quando escrevi a peça Mademoiselle Channel.
Quando fiz TiTiTi mergulhei nesse mundo pra valer. Naquela época tanto a Glória
Khalil quanto a Constanza Pascolatto já falavam nas It Girls. Elas ocuparam o
lugar das Top Models da década de 80 e 90 e, hoje, gozam de prestigio junto aos
editores das grandes revistas de moda e dos mais importantes estilistas. Elas
estão ditando tendência e geralmente são blogueiras. Esse fenômeno me
interessou muito. Por isso a Amora virou uma It Girl.
Como é
a São Paulo de ‘Sangue Bom’?
Maria
Adelaide:
O núcleo principal é na Casa Verde, na zona norte de São Paulo, e o Vincent vai
falar o por quê. Ele foi criado lá. Mas também teremos Pacaembu, Jardins,
Parque do Povo, Shopping JK, alguns museus e espaços culturais, como o MIS, o
Museu Afro-Brasil.
Vincent: Eu nasci no bairro
do Imirim, que é vizinho da Casa Verde. A rua da Casa Verde é um pouco a
lembrança da minha infância, das casas sem muros, dos vizinhos entrando nas
casas para cumprimentar, comemorando juntos, sendo solidários. Existia uma
consciência do outro muito forte. Essa estrutura está acabando. E lá na Casa
Verde ainda existe um pouco essa vida comunitária, que também faz parte da
premissa da nossa novela.
Como é
a sua parceria com o Dennis Carvalho?
Maria
Adelaide:
É uma história de amor que deu certo (risos). Começamos na minissérie JK e ele
foi um grande parceiro. Depois foi arrematada com Dalva & Herivelto. Foi um
dos melhores trabalhos que foram feitos em TV. O Dennis é uma pessoa incrível,
de muito bom gosto.
Fonte: Rede Globo
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