Tereza Rachel morreu no sábado (2), mas a notícia de sua morte só foi divulgada na segunda-feira (4). Mais do que uma das grandes atrizes brasileiras de todos os tempos, ela também era uma importante empresária teatral e uma figura relativamente polêmica no meio artístico. Mas, para o público da TV, Tereza Rachel ficará na memória como a intérprete de algumas das vilãs mais marcantes da nossa teledramaturgia.
A mais emblemática foi a rainha Valentine, da novela “Que Rei Sou Eu?” (Globo, 1989). Cruel, vaidosa e cheia de caprichos, a monarca do reino imaginário de Avilan era um dos destaques da trama de Cassiano Gabus Mendes. Ao lado do bruxo Ravengar (Antonio Abujamra, falecido em 2014), Valentine apavorou e fez rir toda uma geração de espectadores.
Valentine de “Que Rei Sou Eu”
Muitas outras malvadas brilharam no currículo de Tereza Rachel. Como Clô Hayalla, da primeira versão de “O Astro” (1978), o pivô do crime que paralisou o Brasil daquela época - “quem matou Salomão Hayalla?”. Ou a interesseira Renata Dumont, de “Louco Amor” (1983). Ou a desequilibrada Lupe Garcez, na versão original de “O Rebu” (1975). Ou Francesca Ferreto, uma das quatro irmãs de caráter dúbio de “A Próxima Vítima” (1995).
Todas eram personagens complexas, com a alma atormentada e a sensualidade à flor da pele. Tereza Rachel sabia explorar seus matizes e fazê-las transcender a caricatura.
Pena que nunca ganhou na TV um papel cômico como a protagonista do filme “Amante Muito Louca” (1973), um antecedente tupiniquim de “Atração Fatal”. Tereza Rachel tinha uma fortíssima presença cênica e um temperamento às vezes difícil, que as novelas só souberam aproveitar dando-lhe ricaças explosivas que antagonizavam a mocinha.
A embaixatriz Renata Dumont de “Louco Amor”
A atriz também manteve um teatro com seu nome no Rio de Janeiro, palco de espetáculos importantíssimos nas décadas de 1970 e 1980. Depois de arrendado para uma igreja evangélica e permanecido fechado por algum tempo, hoje ele está novamente em funcionamento, mas com a marca de seu patrocinador - que pelo menos teve a elegância de manter o nome da fundadora na sala principal do lugar.
Como outros artistas que também apoiaram a eleição de Fernando Collor de Mello em 1989, Tereza Rachel foi ostracizada por boa parte de seus colegas. Ela ainda pagou o ônus de ser casada, na época, com o cineasta Ipojuca Pontes, que foi secretário nacional da Cultura durante o governo Collor, que acabou com a Embrafilme. Essa pecha lhe perseguiu pelo resto da vida.
Nos últimos anos, sua presença na televisão - que sempre foi bissexta - tornou-se ainda mais rara. A última aparição na telinha foi na novela “Babilônia” (2015), como a amiga de uma personagem periférica que só entrou no final da trama, a transexual Ursula Andressa (Rogéria). Uma despedida discreta para uma figura tão imponente.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário