Nos planos iniciais da Record, depois de “Os Dez Mandamentos”, exibida em 2015, viria “Terra Prometida”, uma sequência lógica, do ponto de vista bíblico, narrando a chegada dos hebreus ao território destinado a eles por Deus. O sucesso da novela, porém, levou a emissora a alterar os seus planos, apresentando antes uma continuação, chamada de “nova temporada”. Exibidos os primeiros 20 capítulos, os problemas desta iniciativa são visíveis.
O primeiro problema de “Os Dez Mandamentos – Nova Temporada” é o título. O momento em que Deus entrega a Moisés as duas tábuas da Lei é o clímax da narrativa bíblica. A novela da Record, como escrevi na época, ludibriou os espectadores ao não exibir a conclusão deste episódio, deixando-o para o primeiro capítulo desta nova fase.
O que vem a seguir é o longo êxodo no deserto, que durou 40 anos segundo a descrição dos livros da tradição judaica. Neste sentido, chamar esta história de “Os Dez Mandamentos” é uma liberdade poética, inspirada pelo marketing, ou seja, pela vontade de prolongar o sucesso da novela de 2015. Faria bem mais sentido intitular estes novos 60 capítulos como “O Êxodo'' ou algo parecido.
Mas este é um problema menor diante do malabarismo que Vivian de Oliveira está sendo obrigada a fazer para manter de pé uma “novela bíblica” com fiapos de referências no Pentateuco.
O episódio mais “emocionante”, anunciado pela emissora na campanha publicitária que tem feito, é o momento em que “a terra engole” Corá e seus asseclas. O vilão da história é punido por Deus por afrontar a liderança de Moisés.
A Bíblia conta, ainda, que neste período Moisés determinou a construção do Tabernáculo, onde seriam guardados os livros sagrados. Outra história é a do confronto com os moabitas, causado pelo temor do rei Balaque (abaixo) diante dos hebreus.
E há, ainda, o relato sobre a decisão de Moisés enviar 12 espiões à Terra Prometida. Ao retornarem, dez dos espiões fazem relatos exageradamente negativos, alarmando os hebreus. Irritado, Deus decide, então, que aquela geração vai morrer no deserto e somente a nova geração entrará em Canaã – daí os 40 anos de êxodo.
Como escrever 60 capítulos com base nestas poucas linhas de narrativas bíblicas? Restou a Vivian de Oliveira inventar e desenvolver, bem mais do que na novela de 2015, as historinhas de amor. Em alguns capítulos, 90% dos diálogos se limitam a falar de namoros, rejeições, dúvidas sobre intenções amorosas, adultério, beijos e paquera.
Como muita gente observou, esta nova fase de “Os Dez Mandamentos” poderia ser chamada de “Malhação Bíblica”. Há quem goste. Os números de audiência, até o momento, não são excepcionais, mas merecem todo o respeito.
Audiência - Como já escrevi, levo em consideração, como é a intenção da Record, que esta é uma continuação da novela exibida no ano passado, não um novo folhetim.
Em novembro de 2015, nas últimas duas semanas, “Os Dez Mandamentos” registrou médias de 24 e 20 pontos respectivamente. Agora em abril, a novela recomeçou com média de 16,1 pontos na primeira semana, caiu para 14,5 na segunda, depois para 13,5 na terceira e voltou a subir, para 14,7 na última semana do mês.
Fonte: Mauricio Stycer, do UOL
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