O objetivo deste blog é comentar os assuntos
do momento no que diz respeito à TV. E não há assunto mais “do momento” do que
a queda de audiência da novela “Babilônia”. “A pior audiência de uma novela em
todos os tempos”, gritam as manchetes de sites especializados e cadernos de TV.
Pois bem, eis aí uma manchete que você já deve ter lido – sem mudar uma letra
sequer – dezenas de vezes na última década. Sim, porque a audiência das novelas
vem caindo gradativa e inexoravelmente. E quer saber? Vai continuar caindo.
Toda vez que uma novela bate recorde negativo
de audiência aparecem as mais variadas explicações e, tal qual uma CPI,
apontam-se os culpados. Em “Babilônia” a responsabilidade seria do casal
formado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg (sobre o qual já escrevemos
aqui). Uma falácia. “Babilônia” tem outros problemas na trama que, não houvesse
o dito casal, seriam apontados como causadores dos baixos números no Ibope.
Mas vamos aos fatos. Nos últimos 20 anos os
índices de audiência vêm despencando por uma série de razões: mudanças de
hábitos do consumidor, por exemplo. Hoje há um significativo número de pessoas
com os olhos pregados na internet. Números? Em 2001 havia menos de 5 milhões de
usuários de internet no Brasil. Atualmente, segundo dados da Nielsen IBOPE, há
120,3 milhões de pessoas com acesso à internet no País – 18% a mais do que a
estimativa divulgada em 2014.
De acordo com a Pesquisa de Mídia Brasileira
2015, divulgada em dezembro pela Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República, os brasileiros passam, em média, quatro horas e 59
minutos por dia usando a internet durante a semana e quatro horas e 24
minutos/dia nos fins de semana. Já a média de tempo assistindo à TV fica em
quatro horas e 31 minutos/dia nos dias de semana e quatro horas e 14 minutos
aos sábados e domingos.
Há também o fator TV paga, que costuma ser
desprezado por analistas. Segundo os entendidos, o público da TV a cabo não tem
nada a ver com o espectador de novelas. Ninguém diz de onde vem essa informação
– ou seja, puro “achismo”. Há uma significativa parcela de pessoas que migraram
para a TV paga. Mais números? Olha aí: Em 1997 e 1998, havia cerca de 2,5
milhões de assinantes de TV no país. Segundo dados da Anatel, o Brasil terminou
janeiro de 2015 com 19,7 milhões de acessos de TV por assinatura – ou seja, 9,7
acessos por cada 100 habitantes.
Entre 1982 e 1991, cerca 65% de domicílios
mantinham os aparelhos de TV ligados, segundo estudo do Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento (CEBRAP), realizado entre 1970 e 1997 e divulgado em
2005. Nesse período, a Globo reinava absoluta diante de uma pequena
concorrência formada por SBT, Bandeirantes, Record e Manchete – todas sem
condições de fazer frente à poderosa “Vênus Platinada”.
Não era surpresa que as novelas globais
reinassem absolutas. Mas, com o decorrer do tempo e as mudanças citadas acima,
o folhetim televisivo foi perdendo gradativa audiência. E nem foi preciso duas
senhoras se beijando ou campanhas religiosas.
Nos anos 80 as novelas tiveram o seu ápice,
com “Tieta” (1989/90) chegando aos acachapantes 64 pontos de audiência. Desde
então a coisa só foi despencando. Apenas a título de ilustração, os números de
algumas tramas das 21 horas que vieram em seguida: “Rainha da Sucata” (1990),
54 pontos; “O Rei do Gado” (1996/97), 52 pontos; “Mulheres Apaixonadas” (2003),
46 pontos; “A Favorita” (2008/09), 39 pontos; “Passione” (2010), 35 pontos;
“Império” (2014/15), 32,7 pontos.
Ao que consta, nenhuma das novelas citadas
perdeu audiência devido à, digamos, “ousadias homoafetivas”. Como podemos ver,
jogar a culpa da queda em um casal lésbico é muito conveniente para
determinados interesses. Fica aí a dica para você não comprar coelho por lebre
e não cair em truques marotos do falso moralismo.
Fonte: Yahoo
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