Nada como o humor negro para brincar com a
morte e lançar um olhar debochado e divertido sobre a tragédia humana (da
pobreza e da morte). “A Família Addams” fazia mais ou menos isso, mas de uma
forma bem amena, liberada para todos os públicos. As referências de “Pé na
Cova” – o seriado de Miguel Falabella que vai ao ar às quintas-feiras – vão bem
além. Enganou-se quem achou que Falabella iria “chupar” o plot da série
americana “A Sete Palmos” (“Six Feet Under”), sobre uma família esquisita
proprietária de uma funerária. A alusão termina aí para começar uma série de
referências à cultura pop, de Almodóvar à novela “Avenida Brasil”.
“Pé na Cova” é uma série de humor com
personagens preconceituosos que denuncia o próprio preconceito. O funesto das
situações apresentadas abranda a lente de contato que o programa lança sobre o
que o ser humano tem pior: o preconceito – contra o pobre, contra o sem
instrução, contra o negro, contra o homossexual. Guardadas as devidas
proporções, os personagens lembram a família de Tufão de “Avenida Brasil”,
principalmente quando fica claro no texto a crítica à educação nesse país. O melhor exemplo disto foi apresentado no
episódio em que a família de Ruço (Miguel Falabella) discute o significado da
palavra “laico”: “Não quero saber de gente laica em minha casa não!” – bradou
Ruço, o que ignora a laicidade – tema em voga no momento.
A família de “Pé na Cova” é uma espécie de “A
Grande Família” às avessas, que renuncia a moral, a ética, as convenções socais
e o politicamente correto em prol da própria sobrevivência e união. O incorreto
é a verve de “Pé na Cova”. A maquiadora de defuntos Darlene é alcoólatra –
Marília Pêra inspiradíssima – e não pensa duas vezes antes de surrupiar os
cadáveres. O casal surreal Luz Divina (Eliana Rocha) e Juscelino (Alexandre
Zacchia) parece saído da série “Os Monstros”. A família de Ruço tem uma
empregada (Sabrina Korgut) ainda mais pobre e ignorante que eles. Alessanderson
(Daniel Torres), o filho, se julga muito malandro e esperto. Odete Roitman
(Luma Costa) – que nome maravilhoso! -, a filha, é a ninfeta que namora a
mecânica sapatão – que se chama “Tamanco” (Mart´nália) – e ganha a vida se
despindo na webcam com a conivência do pai e o total apoio da mãe. Afinal, é
fácil ter preconceito quando não é com você. Para sobreviver, há que se despir
de qualquer preconceito, concluiria Ruço.
Fonte: Nilson Xavier, do UOL
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