Zeca Pagodinho, 54, um dos principais nomes
do samba brasileiro de todos os tempos, confessou ao jornal "Folha de S.
Paulo", durante uma entrevista em um restaurante da Barra da Tijuca, no
Rio de Janeiro, que o Carnaval como ele conheceu antigamente está morto.
"Não tem Carnaval. Vou gostar de quê?
Não tem nada. Roubaram tudo, sumiram com tudo. Acabaram com tudo o que é da
cultura. Tudo. Não sei que doideira deu nesse mundo aí", opinou o
sambista, que complementou ao afirmar que não entende ao certo o motivo disso
ter acontecido.
Segundo Zeca, a cultura do samba clássico
como um todo está de desfazendo no Rio em um processo que vem ocorrendo nos
últimos 20 anos. "Não tem baile infantil pra você levar [as crianças]. Lá
no meu condomínio tem, no prédio, mas eu não vou estar lá. Não sei o que
aconteceu. As ruas não são mais enfeitadas. Também no meu bairro, em Del
Castilho, tinha as cornetas. A gente ouvia as músicas de carnaval. Era um
Carnaval. Não tem mais. Acho que Olinda que ainda tem. Carnaval. A Bahia tem,
mas é axé, aquelas coisas assim. Estou falando de Carnaval, máscara, eu acho
que é mais pro lado de Olinda", falou.
O sambista afirmou acreditar ainda que parte
da culpa se deve ao baixo investimento da prefeitura da cidade na manutenção da
cultura do Carnaval. Para ele, a festa cresce, mas a estrutura disponível não
acompanha o progresso.
"A prefeitura deveria apoiar isso, dando
mais banheiro, preparando a cidade para isso. Vem gente de fora. Não adianta
botar dez banheiros para 200 mil pessoas. Não dá. E na hora de mijar nego não
pensa em... Na hora que der vontade... Eu mesmo sou um, que tenho incontinência
urinária, eu tomo remédio. Se puder eu vou mijar andando mesmo. Não quero saber
não, fazer o quê?", disse, sendo corrigido pela assessora, segundo a
"Folha", que afirmou que ele, na verdade, não sofre desse mal.
"Eu tomo remédio para glicose. Aliás, eu não tenho paciência pra esperar,
hahaha. É quase igual!", brincou.
Questionado se a perda da identidade do
Carnaval se deve ao declínio da qualidade do samba, Zeca não poupou as
palavras. "Não escuto samba ruim. Só escuto samba bom. Todos os que eu
escuto são bons. Tem que ter uma melodia boa. Ou tem que ser divertido. Ou tem
que dar uma mensagem bacana. Tem que falar do amor. Tem que ter um papo bacana.
Um papo. Não um "aiaiai-oioioi-iuiuiuiu-aiaiaiai". Aí não vale",
respondeu.
O cantor, no entanto, concorda com o
questionamento do jornal no que se refere ao fato de que o funk pode ter tomado
os morros da capital carioca - antigo reduto do samba. "Meu Carnaval
agora, eu vou pra casa de um amigo em Xerém", disse, complementando que
não tem medo do movimento musical que toma as favelas cariocas: "Vou fazer
meu morro e resolver isso. Meu morro vai ser a solução."
Com informações da Folha
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