segunda-feira, 9 de maio de 2011

Record não aprova beijo gay em suas novelas


Na entrevista abaixo, concedida à Maurício Staycer, do UOL, Tiago Santiago fala principalmente de "Amor e Revolução", mas revela um detalhe de sua passagem pela Record. O tema veio à tona justamente na semana seguinte à aprovação da união estável de pessoas do mesmo sexo, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal e, na semana em que o SBT promete exibir o beijo entre duas mulheres.

BEIJO GAY
Novela é um espelho da realidade. “Amor e Revolução” tem um tom realista. Homossexuais existem na realidade. É legítimo, por isso, mostrar um beijo entre duas mulheres.

Só uma personagem, Marcela (Luciana Vendramini), é lésbica. A outra, Marina (Gisele Tigre), não é. O romance entre elas só vai se desenvolver se o público torcer por elas. Pretendemos fazer pesquisas e votações interativas na internet. Usei este recurso em “Prova de Amor” (exibida pela Record, em 2005) e deu muito certo.

Acho que existe este anseio da sociedade e, em particular, da comunidade GLTB. Um anseio antigo. Gloria Perez e Aguinaldo Silva tentaram na Globo. Eu mesmo cheguei a propor à Record em “Mutantes”, mas não apoiaram. Só que, diferentemente da Gloria Perez, nunca falei publicamente sobre isso.

E a cena vem em bom momento, dias depois de o STF ter aprovado os direitos de casais gays. Foi um passo à frente na luta contra a homofobia.

SILVIO SANTOS
No SBT não tive nenhuma manifestação contrária. Silvio Santos deixa claro que temos total liberdade. O comentário dele para Maisa (“a novela precisa de mais amor e menos revolução”) foi mais em tom de pergunta. E depois, quando me encontrou no SBT, ele disse: “Pelo amor de Deus, escreva a novela do jeito que você quiser”. Foi só uma opinião dele.

De acordo com a repercussão, é possível fazer também um beijo gay entre dois homens, os personagens Duarte (Carlos Thiré) e Jeová (Lui Mendes).

MENOS TORTURA
Diminui, sim, as cenas de tortura. Acompanhando o Ibope no minuto a minuto, notei que havia uma fuga de público nas cenas de tortura. Eu achava, antes, que o público já estava acostumado com cenas de violência dos filmes de Hollywood e de outras novelas. Mas como “Amor e Revolução” é baseada em fatos reais, as pessoas ficam mais incomodadas. Diminuímos bem o sofrimento dos torturados.

EXCESSO DE DIDATISMO
O didatismo tem dois lados. Uma parte do público desconhece totalmente o que houve naquela época, o que é ato-institucional, UNE. E tem gente, das classes AB, que fica incomodada com o tom didático. Os primeiros 50 capítulos estão carregados de didatismo, mas vai melhorar.

IBOPE BAIXO
A novela estreou contra o último mês de uma novela, “Ribeirão do Tempo”, que estava há quase um ano em cartaz. Isso foi um fator forte. Outro fator: a audiência média do SBT é mais baixa mesmo. Mas está em tendência de alta.

O apoio da comunidade GLBT pode ajudar a novela. Também acho que, com a chegada do inverno, aumenta o número de aparelhos ligados, o que também pode nos favorecer. Vai ter uma curva ascendente e vai terminar, sim, com dois dígitos (acima de 10% de audiência).

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